Duas das mais interessantes cantoras brasileiras em atividade fazem shows hoje em São Luís. Regiane Araújo e Tássia Campos guardam algumas coincidências: são maranhenses, têm formação em Ciências Sociais, são antifascistas e permanecem, apesar do enorme talento, inéditas em disco – isto, o velhinho saudosista aqui se referindo ao álbum cheio, embora já consiga pensar tanto faz se físico ou streaming; ambas já lançaram EPs e singles aqui e acolá.
A primeira é compositora de mancheia e sua formação se reflete no que compõe: “Tirem as cercas”, talvez seu maior sucesso até aqui, é uma amostra do que digo; sobre a segunda, já me referi tratando-a como “recompositora”, reinventando canções mais ou menos conhecidas de sua (e nossa) predileção. É capaz de após um show dela você ficar com o jeito que ela cantou determinada música na cabeça, quase esquecendo a versão original ou aquela a que você está mais acostumado.
Quase me esqueço de outra coincidência – gostaria que essa não existisse: ambas não se dedicam integralmente à música, não por falta de talento, vontade e disposição, mas precisam dividir o tempo dedicado ao sagrado ofício com afazeres outros na selva diária da luta por estar com os boletos em dia.
Tudo o que digo poderá ser conferido ao vivo hoje por curiosos/as e interessados/as em geral. Quem disse que sexta-feira 13 é dia de azar precisa urgentemente rever seus (pré-)conceitos. A nós, reles mortais, só nos falta mesmo a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo – outra coincidência?
Regiane Araújo se apresenta às 19h, na Cozinha Massari (Av. Atlântica, 48ª, Olho D’Água), com um repertório que passeia por MPB, pop, reggae, anos 80 e nordestinidades – isto não está dito, mas espero que as autorais também estejam no cardápio musical da noite. O couvert artístico individual custa 20 reais.
Um pouquinho depois, às 20h, Tássia Campos sobe ao palco da Monalisa Cervejaria (Rua V 13, 17, Parque Shalon) em “Tássia canta Gal”, “homenageando a maior de todas as estrelas do meu coração”, como afirmou em uma rede social referindo-se à baiana Gal Costa (1945-2022), falecida no último 9 de novembro. Obviamente um tributo a Gal Costa é também um tributo a um grande número de nomes gravados por ela, de Caetano Veloso a Marília Mendonça (1995-2021), passando por Luiz Melodia (1951-2017), Jards Macalé, Moraes Moreira (1947-2020), Chico Buarque, Gilberto Gil, Torquato Neto (1944-1972), Tom Zé e um longuíssimo etc. O couvert artístico individual custa 15 reais.
Outra coincidência que Regiane Araújo e Tássia Campos carregam, minha culpa, minha máxima culpa, é ter este jornalista em suas plateias menos do que ele mesmo gostaria. Se eu fosse minha meia dúzia de leitores não repetiria o vacilo de quem lhes escreve.