A primeira temporada da série The White Lotus, de Mike White, alcançou um inesperado engajamento até mesmo para a HBO Max. Já com os seis episódios disponíveis desde meados do mês passado, a produção foi renovada e já tem uma segunda temporada anunciada, porém com novos personagens e outro destino. Definida como sátira social, White Lotus fez sucesso na base do boca-a-boca, sem a necessidade de uma massiva campanha publicitária.
White Lotus se passa em um resort de luxo no Havaí, onde endinheirados gozam suas férias em família ou sozinhos. Cada núcleo chega carregado de bagagens e questões mal resolvidas em suas vidas. Mas para que tudo saia em perfeita harmonia há um grupo de funcionários dispostos a oferecer a melhor estadia aos seus hóspedes, abdicando até mesmo de seus problemas pessoais. A seguir, quatro razões para ver a série da HBO Max:
1. Férias são ou deveriam ser sinônimo de sombra e água fresca. Mas todos sabem que isso é só uma ilusão, porque na prática os poucos dias em um refúgio, por mais paradisíaco que seja, não passam de um curto hiato em suas vidas. White Lotus faz questão de reforçar esse aspecto a todo momento. A série gira em torno de um mistério, a morte de alguém, apresentada numa das primeiras cenas. O público só saberá do desfecho no último episódio. Até lá, todos os personagens vão se tornando mais ou menos suspeitos, porque a todo momento revelam que teriam motivações para cometer um ato brutal. A tensão, crescente, é revelada aos poucos, sempre intercalada com boas pitadas de humor.
2. Saber como os ricos vivem e que eles sofrem também por serem, oh, podres de ricos, não deixa de ser um consolo para a maioria da humanidade. Mas isso até certo ponto. Em um dos núcleos cênicos, o do casal Nicole (Connie Britton), chefa familiar, e Mark (Steve Zahn), pais dos jovens Olivia Mossbacher (Sydney Sweeney) e Quinn (Fred Hechinger), sofrem um assalto no cofre do apartamento e perdem uma joia de 75 mil dólares. Ato contínuo, eles parecem pouco se importar com tamanho prejuízo. Do outro lado, estão os funcionários do resort, muitas vezes explorados, humilhados, basicamente servos das vontades dos ricos hóspedes. As questões de classe ficam logo visíveis e, sem surpresa, revelam que mesmo entre os subalternos as relações desiguais se desenvolvem. O gerente Armond (Murray Bartlett), personagem central de White Lotus, é o mais cabotino de todos e não menos tratado como um mero serviçal.
3. O casal Patton, em lua-de-mel, é a síntese de um mundo de ostentação, mas frívolo e tão vazio quanto uma postagem marqueteira de Instagram ou TikTok. Rachel (Alexandra Daddario) é uma jornalista e pobre aos olhos de Shane (Jake Lacy), um insuportável filhinho de mamãe que acha que o dinheiro compra tudo. Visivelmente ludibriado na reserva do quarto, feita pela mãe, ele passa a perseguir obsessivamente o gerente Armond até tirá-lo do prumo. Outro núcleo que se destaca é o de Tanya (Jennifer Coolidge), que viaja para o resort para lançar as cinzas da mãe no oceano. Deprimida, ela descobre na funcionária Belinda (Natasha Rothwell) o amparo emocional que precisa e retribui oferecendo ajuda para que Belinda consiga realizar o sonho de montar seu próprio spa. A funcionária quer deixar de ser explorada pelos patrões, mas logo se frustra ao se sentir “usada” pela hóspede.
4. White Lotus serve como uma espécie de laboratório antropológico, não foge de questões polêmicas, abre espaço para que o riso flua mesmo em situações tensas e aviltantes, o que em si provoca um questionamento do público, que é convidado a por em dúvida suas próprias relações sociais. Quem nunca foi injusto com um funcionário, quem não acabou, intencionalmente ou não, ludibriando os sentimentos de outra pessoa por estar se sentindo só, quem não se sentiu mal pela tamanha desigualdade de classes e relações subalternas na sociedade?