“Um abraço do João”, sobrenatural

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Joyce Moreno e Jards Macalé no estúdio - foto: Isabela Espíndola/ divulgação
Joyce Moreno e Jards Macalé no estúdio - foto: Isabela Espíndola/ divulgação

A quem se interessa pelo universo da música brasileira ou, particularmente, por artistas como Jards Macalé e João Gilberto (1931-2019), é bastante conhecido o episódio em que o primeiro, disposto a suicidar-se, telefonou para o baiano, à guisa de despedida, com o inventor da batida diferente convencendo o carioca a desistir da ideia ao cantar “No Rancho Fundo” (Ary Barroso [1903-1964]/ Lamartine Babo [1904-1963]) repetidas vezes, até o colega dormir.

Discípulos confessos de João, Macalé e Joyce Moreno compuseram juntos “Um Abraço do João”, gravada por Macalé e João Donato (1934-2023) em Síntese do Lance (Rocinante, 2021).

"Um Abraço do João" - single - foto: Isabela Espíndola/ reprodução
“Um Abraço do João” – single – foto: Isabela Espíndola/ reprodução

No próximo dia 30 (sexta-feira) chega às plataformas digitais o registro dos compositores para a parceria (faça aqui a pré-save): no single, Joyce Moreno (voz, violão e arranjo) e Jards Macalé (voz) estão acompanhados por Marcos Nimrichter (piano), Jorge Helder (baixo) e Tutty Moreno (bateria). A própria Joyce assina a produção musical e Lucas Ariel as engenharias de gravação, mixagem e masterização.

A história da música, desde a composição até a gravação e lançamento, tem uma aura mística, digna do “anedotário” em torno da figura de João Gilberto, para além da beleza melódica e poética – a letra cita outros expoentes da música brasileira, como Garoto (Aníbal Augusto Sardinha [1915-1955]), Tom Jobim (1927-1994) e Luiz Bonfá (1922-2001), a quem o papa bossanovista, compositor bissexto, dedicou o tema instrumental “Um Abraço no Bonfá” – com quem “Um Abraço do João” dialoga diretamente.

“Encontrei o telefone secreto do João Gilberto durante a pandemia, só que ele já havia partido para outra dimensão. Aí eu telefonei, num ato de loucura, talvez de lucidez, e claro, ninguém atendeu, a não ser a secretária eletrônica. Então eu conversei, conversei, deixei recados enormes e me despedi dizendo: ‘um abraço, João, qualquer coisa me liga, me chama e tal’. Três semanas depois pintou essa música, parecida com algumas coisas que o João fez, como “Um Abraço no Bonfá”; aí eu telefonei para minha querida parceira Joyce Moreno e ela me disse, imediatamente: ‘manda que eu faço a letra’”, revela Macalé.

Joyce conta que compôs a letra pensando no violão do mestre que influenciou os parceiros e mais meio mundo de gente da MPB. “Não é um abraço NO João, mas um abraço DO João, ele nos abraçando. Escrevi pensando nisso, que o abraço veio do universo, do astral para nós. Quando ouvi “Um abraço do João” na versão de Macalé e João Donato, fiquei contente e triste, ao mesmo tempo, porque eu não estava na gravação. Aí eu pensei: quando tiver oportunidade, vou chamar o Macau pra gente fazer a nossa”, lembra.

A última coincidência é que ambos se encontraram em estúdio justamente no dia 10 de junho, data de nascimento do ilustre juazeirense homenageado. “O Lucas Ariel, nosso engenheiro de som, estava olhando alguma coisa e disse: “Ih, o aniversário do João Gilberto é hoje!”. Aí, foi uma comoção no estúdio, choramos os dois, ficamos emocionadíssimos”, conta Joyce. “Marcamos nesta data por acaso, ninguém sabia!”, completa Macalé, em outra verdadeira síntese do lance.

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