Filme de ficção científica Guarani antecipa o ancestrofuturismo

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Com 90% de sua equipe composta por indígenas, com atores e atrizes da etnia guarani (e falada em guarani), será lançada esta semana em São Paulo a primeira ficção científica indígena, o inédito curta-metragem Javyju – Bom Dia, dirigido pela cacique Kunha Rete e pelo diretor paulistano Carlos Eduardo Magalhães. O filme será exibido pela primeira vez nesta quarta-feira, 28, às 19 horas, no Auditório Vladimir Herzog, na sede dos Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP).

Assim como o afrofuturismo projetou o debate sobre o povo negro como protagonista da História, o ancestrofuturismo poderia examinar as possibilidades ficcionais de os indígenas ocuparem o centro do debate e apossando-se das visões de mundo. “Eu me sinto diretora há muito tempo, porque eu mando em todo mundo”, disse, rindo, a cacique Kunha Rete. “Mas dirigir um filme é a primeira vez”.

É uma história pós-apocalíptica: em um futuro distópico, a maior parte da população do planeta terá sido dizimada. Apenas os povos indígenas sobreviveram à devastação dos recursos naturais do planeta. Uma expedição dos indígenas é enviada à metrópole em ruínas para colher impressões e documentar os despojos. A equipe encontra o último sobrevivente não indígena (Theo Magalhães), que é resgatado e conduzido à aldeia Itakupe do Jaraguá, a salvo. É uma perspectiva margeada em uma canção antiga de Caetano Veloso, de 1976, Um índio (Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante/De uma estrela que virá numa velocidade estonteante/E pousará no coração do Hemisfério Sul, na América, num claro instante).

A entrada para a sessão do filme é gratuita. Além de Javyju – Bom Dia, que tem 25 minutos de duração, será apresentado o documentário sobre como foram feitas as filmages e a interação entre os guarani e a equipe não indígena (um making of), e exibidas mais duas obras em curta metragem do cineasta Magalhães. Ao final da sessão, o público presente poderá conversar com os realizadores.

“Tanto o documentário quanto a ficção são duas linguagens nas quais a gente pode estar falando sobre nossas histórias. Mas muitas vezes as pessoas vão lá só em busca daquela linguagem do documentário, com aquela visão antropológica, filmar a vida dos parentes, como vivem. E a gente quer inovar, quer mostrar nossas histórias sendo contadas pela gente também”, declarou Priscila Tapajowara, diretora de fotografia do filme. “Foi uma importância grande para a comunidade. Trouxe benefícios, não só (para) o filme em si, mas para os atores, as atrizes. Trouxe maior alegria à comunidade, para mostrar que as pessoas têm os seus trabalhos”, declarou a cacique e diretora Kunha Rete.

Entre 5 e 12 de setembro, o filme Javyju – Bom Dia estará integrando a programação do 28º Festival de Cinema de Florianópolis, em Santa Catarina.

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