Gloria e Raul Seixas com Scarlett, uma das três filhas do roqueiro brasileiro

Morreu nesta quarta-feira, 24, nos Estados Unidos, a cantora norte-americana Gloria Vaquer, que foi casada com o cantor e compositor baiano Raul Seixas (1945-1989) e foi mãe de Scarlett, uma das três filhas do artista brasileiro. Gloria era irmã do guitarrista Jay Anthony Vaquer, que tocou e fez arranjos para os primeiros álbuns do baiano, Jay foi quem apresentou a irmã a Raul quando esta quis vir ao Brasil pela primeira vez, em 1974, como uma espécie de cicerone. Eles se apaixonaram e Raul deixou a primeira mulher, Edith Wisner, também norte-americana.

Gloria Vaquer dividiu os vocais com Raul na música “Sunseed” (do álbum Novo Aeon, de 1975), cantou “The Diary” no disco Raul Rock Seixas, e Raul a homenageou na faixa “Love Is Magick”. Foi em 1976 que Gloria ficou grávida e nasceu Scarlet Vaquer Rainbow Seixas. O casal chegou a estudar a possibilidade de dar ao bebê o nome de Arjuna, caso fosse homem, o que significaria uma reverência para com uma das canções de maior sucesso de Raul, “Gita” (1974). Arjuna é um discípulo de Krishna (o equivalente de Deus para o hinduísmo), personagem da colossal obra literária Mahabarata. Esse livro é que contém o Bhagavad Gita (Canção do Bem-Aventurado). Quando ela decidiu deixar Raul e voltou para os Estados Unidos com a filha, Raul tentou retomar a relação, sem êxito, e se correspondeu longamente com a filha – mãe de seu neto, Dakota.

Gloria Vaquer vivia no estado do Alabama e sua morte foi confirmada em uma rede social pelo irmão, Jay Vaquer. Há alguns anos, ela escreveu em uma rede social sobre como tinha sido seu derradeiro encontro com Raul. O texto é o seguinte:

Desde que conheci o Raul eu reconheci uma forma de vida que vivia dentro do corpo dele que não era desta Terra . Esta entidade não foi afetada pela quantidade de drogas ou álcool que Raul colocou em seu corpo. Eu aprendi a olhar para além do disfarce das drogas e álcool e sempre descobrir aquela forma de vida revelando- se acordada , sóbria e sempre sábia. Portanto, naquele dia na sala de Raul, olhei para além do seu estado decadente e lá estava ela , a entidade. Eu disse a Raul: “Raul ! Você ainda está ai e mais brilhante do que nunca.” Ele olhou para mim e disse: “Glória, você é a única que me compreendeu.” Tinha que ser uma existência solitária, nunca capaz de revelar sua verdadeira identidade. Poucas semanas depois, ele me convidou para almoçar no Restaurante Maxim’s. Nós sentamos e conversamos como se o tempo tivesse parado. Ele me pediu para voltar para ele e viver no Brasil. Mais do que tudo esse era o meu sonho, mas Scarlet tinha escoliose grave. Sua coluna tinha começado a entrar em colapso em um ritmo alarmante. Eu tive que voltar para os Estados Unidos para uma cirurgia de emergência. Ela se recuperou bem e vive com uma haste de metal na sua coluna vertebral. Após alguns anos ela deu luz a dois netos lindos. Raul ficaria tão orgulhoso.

Depois do almoço no Maxim’s nós compartilhamos um táxi de volta para seu apartamento onde ele estava morando, agora, sozinho. Nós dois saímos do táxi para dizer tchau. Nos abraçamos e beijamos pela última vez. Quando o táxi se afastou para virar a esquina, olhei para trás para vê-lo ainda de pé no meio da rua me assistindo partir. Ele morreu alguns meses mais tarde. Não há arrependimentos. Eu fiz o que tinha que fazer. Afinal de contas, há uma luz no fim do túnel onde existe um lugar para pessoas como Raul e eu, chamado Eternidade. Em doce memória e profundo respeito, “EU SOU”.

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