Eu nasci Lucinete Ferreira, e comecei minha carreira artística como Lucinete Ferreira. Mas, chegando a São Paulo (em 1960), eu fui fazer um teste na gravadora com os diretores; o diretor era o Palmeira, da dupla Palmeira e Biá, uma pessoa sensacional, tranquila e educadíssima, e fiz o teste, passei no teste, fui contratada. Quem me levou foi Venâncio, da dupla Venâncio e Corumba. E ele foi ser meu produtor, o Venâncio é que ia produzir meu disco, segundo o acerto dele com a gravadora. E eu fiz o disco. Ficou muito legal, eu estava muito assustada porque era a primeira vez que eu tava gravando, né? Mas aí, quando saiu o disco, o primeiro compacto duplo, que era para apreciação dos vendedores, saiu como Lucinete Ferreira, mas depois eu não sei se houve algum questionamento com relação a isso, não me falaram, mas quando eu soube que o LP tinha saído, o vinil, na gravadora, aí eu fui lá para ver e foi quando alguém me falou – logo o primeiro que eu pus na mão, um divulgador me falou: “Teu disco saiu com teu nome e tua foto e tua voz e o nome de outra pessoa”. Devia ser alguém que não era bem informado. Eu também era outra abestada. Mas fui lá correndo saber o que tinha acontecido. Quando cheguei lá, o Palmeira perguntou pra mim: “Você não gostou da capa?”. Aí eu falei: “Não, eu gostei, tá legal… Mas e esse nome?”. Ele falou: “Ué, o produtor não te falou?” Eu respondi: “Não”. “Ah, então entra aqui, toma um café”. Me acalmou e aí disse: “Olha, nós chegamos à conclusão que esse nome, Lucinete Ferreira, é nome que parece muito com muitos nomes que têm no Nordeste com essa terminação – Ivete, Marinete, Gildete, Claudete e Dionete. Enfim, tem um monte. Então, Anastácia é o nome que veio na minha cabeça”. Segundo o produtor falou, era porque tinha um filme na época fazendo muito sucesso com a Ingrid Bergman, um filme sobre uma princesa russa (‘Anastacia, a Princesa Esquecida’, filme de 1956 dirigido por Anatole Litvak, com Ingrid Bergman e Yul Brynner), e não sei porque ele lembrou disso, mas achou que eu deveria me chamar Anastácia. E eu não sabia, nem meu produtor me falara, porque ele queria me fazer surpresa, quando trouxesse o disco para me apresentar. Mas meu produtor tinha viajado para fazer um show, já que ele também era cantor, era artista. Aí eu falei: Ah, tudo bem. “Gostou desse nome, Anastácia?” Eu pensei: já que não posso fazer mais nada… Já que tá dentro, deixe. E aí eu passei a ser Anastácia e a partir daquele dia eu já falei com a minha mãe que meu nome ia ser Anastácia. Quando eu ia fazer um show aqui em São Paulo em qualquer lugar, eu ia já dizendo que era Anastácia, a pessoa já dizia: “Ah, é Anastácia!” Todo mundo ficou me conhecendo assim. E esse negócio de Rainha… A Rainha do Forró. Não fui eu quem inventou porque, em 1960, não tinha nenhuma cantora de forró mulher cantando aqui em São Paulo; tinha Marinês (1935-2007), que morava no Rio de Janeiro e vinha esporadicamente aqui, mas cantando mesmo não tinha muito não. Tinha alguns trios, alguns caras que cantavam forró sozinhos, mas com mulher não tinha. O anunciador, os programadores dos circos, que eram muitos, de vários tipos aqui em São Paulo, e onde eu fazia quase todos os shows, quando eles iam me anunciar diziam: “Com vocês, a Rainha do Forró, Anastácia!”, e eu entrava e cantava com esse negócio de rainha da rainha. Terminei recebendo o título (de Rainha do Forró) pela Secretaria… Aliás, pela Câmara dos Vereadores de São Paulo. E hoje, sem querer querendo, eu sou a rainha do forró. São 8.4 de estrada e cantando forró, e eu tô muito feliz por isso.