ORLAN, artista francesa que está com exposição aberta no Sesc Avenida Paulista, aproveitou o momento de sua visita ao País para lançar a sua autobiografia em português. Intitulada de Strip-tease: tudo sobre minha vida, tudo sobre minha arte, ORLAN – que se escreve em maiúsculo mesmo, pois ela não quer se enquadrar em regras – conta sobre sua trajetória pessoal e profissional.
Entre relatos tenros e por algumas vezes, perturbadores, ORLAN fala sobre suas experiências afetivas e sexuais, sempre salpicando a sua visão de ser e estar no mundo, sendo uma mulher artista e que utiliza o seu próprio corpo como forma de expressar sua arte e expurgar os seus demônios. Entre uma história e outra, é nítido o quanto a vida pessoal de ORLAN teve influência em suas obras. A artista entrega um livro de leitura fluída, que permite ao leitor uma maior aproximação com suas obras e seus processos de criação, destacando a intencionalidade por trás de suas produções.
Publicada inicialmente na França, em 2021 e lançada em português pelas Edições Sesc, esta autobiografia é dividida em três capítulos: ORLAN antes de ORLAN, ORLAN realmente ORLAN e As questões da minha vida. Como a própria autora diz, ela não é muito boa com datas, mas traz histórias cheias de detalhes e demonstra uma memória cinestésica invejável, ao se lembrar de cheiros, vozes e toques. Como, por exemplo, no trecho em que ela conta de uma ameixeira que tinha numa fazenda da família “Essa árvore dava tanta ameixa que mal sabíamos o que fazer com elas. Comíamos direto da árvore, enchendo a boca. Era minha cornucópia, uma felicidade genuína que me deixava de bom humor. Eu adorava o cheiro da geleia sendo preparada, era encarregada de mexer com uma colher de pau numa grande panela para não colar no fundo, e de tirar a espuma que se formava, e que eu comia com prazer”, escreve.
ORLAN Strip-tease: tudo sobre minha vida, tudo sobre minha arte é uma leitura essencial não só para quem gosta ou quer conhecer melhor as obras da artista, mas para quem se interessa pela arte de performance. E mesmo quem não se enquadre neste perfil pode se divertir e se chocar com as histórias de orgias e operações cirúrgicas performáticas, uma das marcas registradas de sua produção artística.
Vale ressaltar, o leitor pode se deparar com histórias mais duras, que inclusive podem gerar gatilhos, pois aborda temas como abuso sexual. Alternando momentos leves e pesados, o livro entrega um pouco mais da excentricidade, contraditoriedade e versatilidade de ORLAN, que além de ser uma artista de performance e um nome importante da bioarte, trabalha com outros materiais e linguagens. Atualmente, ela tem se dedicado cada vez mais a obras relacionadas à inteligência artificial. Isso sem falar em outras aventuras artísticas como seu álbum musical Le slow de l’artiste (2023) e esta autobiografia, publicada pela Edições Sesc São Paulo.
