Luís Melo, ator de
Luís Melo, ator de "Mutações', peça em cartaz no Teatro Anchieta - Foto: Ale Catan

O I Ching, por vezes acrescido do aposto “o tratado das mutações”, é um livro milenar da cultura chinesa que ganhou o mundo. No Sesc Consolação, essa obra é transposta em uma peça teatral de não-trivial definição: é um oráculo, para o qual o espectador busca respostas a questões pessoais, ou um texto filosófico permeado de reflexões que reverberarão por dias? É um pouco disso tudo, mas também o retorno aos palcos do grande ator Luís Melo, há 21 anos longe do Teatro Anchieta.

Luís Melo é o Ancião, aquele que conduzirá a cena, que divide com Alex Bartelli (o Jovem) e Andréia Nhur (Ela). Eles dialogam entre si e com o público, de forma indireta, ao propor interpretações dos ensinamentos propostos no I Ching. Em 70 minutos, serão apresentados alguns deles, como a abrangência, a união, a contemplação, a dificuldade, a dispersão, a ascensão, a quietude, a discordância e a ruptura, num arco que transita da objetividade à subjetividade o tempo todo.

Embora haja personagens no palco, não há um fio condutor clássico, nem uma história definida. São recortes das múltiplas combinações possíveis da leitura do I Ching, que, para os entendidos, são sintetizados nos 64 hexagramas que abordam diferentes níveis de consciência e formas de se compreender o mundo. Prender-se ao passado é tão pesaroso quanto temer o futuro, que será, por definição, mutável.

Mutações é, assim, um ensinamento em forma de peça teatral. Para André Guerreiro Lopes, que concebeu e é diretor artístico do espetáculo, só há algo que nunca muda nas nossas vidas: “A própria lei universal da mutação”. Transposto para o palco, como fazer com que essas simbologias ganhassem forma e fizessem sentido? A dramaturgia de Gabriela Mellão, que recorre ao uso de parábolas e poemas interpretados pelos atores, ajuda a firmar os pequenos conceitos propostos.

A cenografia (Simone Mina) e a iluminação (Aline Santini) de Mutações procuram aproximar o espectador desse universo simbólico, que se completa com o jogo dos atores nas rápidas falas e mensagens. A carga de informação, por vezes demasiada e dispersiva, é aliviada por pequenas quebras de continuidade, intencionais, no qual o elenco procura retomar a atenção do público.

Com uma carreira ligada ao Centro de Pesquisa Teatral (CPT), Luís Melo relembra que a filosofia oriental era a “cartilha dentro do CPT”. Há 30 anos, o ator brilhava em Vereda da Salvação, com base no texto de Jorge de Andrade, ao lado da grande atriz Laura Cardoso. Dois anos depois, em 1995, encenava Gilgamesh (também conhecida como a história mais antiga da Humanidade), também de Antunes Filho, outra de sua marcante interpretação teatral.

Mutações. Com Luís Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli. No Teatro Anchieta (Sesc Consolação), sextas e sábados (20 horas) e domingos (18), até 20 de agosto. Ingressos a 50 reais.
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