Imagem de realidade aumentada da obra Górgona 01, de Fernando Velázquez
Imagem de realidade aumentada da obra Górgona 01, de Fernando Velázquez - Foto: Divulgação/MAM-SP

Em tempos de espaços imersivos, instagramáveis e o uso pornográfico de inteligência artificial, o convite do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo para visitar o Parque do Ibirapuera e conhecer a exposição Realidades e Simulacros soa oportunístico. Mas quem espera ver projeções de Noite Estrelada, de Van Gogh, ou Banhistas na Margem de um Rio, de Matisse, sobre a paisagem do local vai perder a viagem. O MAM-SP comemora seus 75 anos com uma inédita exposição ao ar livre composta de obras de realidade aumentada que flertam com ressignificação do sentido da fruição da arte.

Se “as tecnologias estão aí para serem usadas”, como lembra o curador-chefe da instituição, Cauê Alves, o MAM-SP propõe que o visitante do parque lance mão do aparelho mais onipresente da Humanidade, o celular, para ver aquilo que não está aparente. Em locais estratégicos do Parque do Ibirapuera, com tótens e QR codes disponíveis, será possível usar um smartphone para ver, na tela do dispositivo, obras virtuais que interagem com o físico à volta de todos.

“Essa exposição aponta para um campo novo, pouco explorado, que é no uso não trivial da tecnologia não só para recompor uma paisagem, mas para conceber coisas novas”, explica Cauê Alves ao FAROFAFÁ. Por todo o parque, será possível se deparar com obras de realidade aumentada do Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Regina Silveira e Paola Barreto, criadas especialmente para essa exposição. “Esses artistas estão em outra chave, desde abordando o debate ético e os limites da arte contemporânea.”

Em meados do ano passado, já planejando os eventos comemorativos dos 75 anos e bem antes da eclosão meteórica do ChatGPT, o MAM-SP decidiu “sair” do espaço estratégico que ocupa bem no centro do Parque do Ibirapuera e oferecer uma exposição tecnológica. A ideia é fazer a ponte entre o físico e o virtual, um mobilizando o outro.

Realidades e Simulacros, com co-curadoria de Marcus Bastos, artista e pesquisador de artes e novas mídias, propôs aos dez artistas que criassem obras visíveis no celular, mas não ao público que passa pelo parque de forma distraída. É preciso, assim, estar no parque e querer ver o que não está no mundo aparente. Um exemplo: Fernando Velázquez apresenta Górgona 01 (2023), que tem ares de um ser monstruoso que emerge do lago do Ibirapuera. Composto de galhos retorcidos, a criatura remete a um mundo bastante explorado em filmes do fim do mundo.

Obra de realidade aumentada “Monumento à Resistência dos Povos”, do Coletivo Coletores – Foto: Divulgação/MAM-SP

A artista Regina Silveira, com Rasante (2023), faz surgir um disco voador (bem nos estereótipos das produções audiovisuais do passado) por cima do MAM. Em um voo rasante, quase instantâneo, ele dialoga com outra obra ao seu lado, o Monumento à Resistência dos Povos (2023), que apresenta três personagens, figuras brancas, que estão em posição defensiva. A referência provocativa do Coletivo Coletores remete às estátuas e aos monumentos de bandeirantes, ainda de pé apesar de toda carga colonizadora que preservam. As duas obras estão no Jardim das Esculturas, que celebra 30 anos.

Giselle Beiguelman, artista dedicada à produção de artes digitais, se valeu da inteligência artificial para produzir suas obras de realidade aumentada. Em Brejo das Delícias (2023), que está localizada próximo ao lago, o visitante pode ver, em seu celular, projeções de quadros com pinturas muito semelhantes às ilustrações botânicas, muito exploradas pelos artistas nos séculos XV e XVI. A diferença é que Giselle catalogou 50 espécies que habitavam a área alagadiça e jogou tudo no computador para criar novas espécies, como se o processo evolutivo tivesse continuado.

A visitação às obras de realidade aumentada pode ser feita livremente, sem a necessidade de equipamentos especiais. Basta o celular dotado de câmera, internet e um calçado confortável. No endereço mam.org.br/realidades, é possível acessar um mapa com a localização das obras, mas o bom conselho é começar do próprio MAM-SP.

“O MAM tem uma identificação muito forte com o Ibirapuera. A ideia (com a exposição) é furar a bolha, de não ver o museu como um espaço elitista, e se aproximar de um novo público”, conclui Cauê Alves.

Realidades e Simulacros. Curadoria de Cauê Alves e Marcus Bastos. Até 17 de dezembro, no Parque do Ibirapuera. Grátis.

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