Francisco Pio Napoleão, o Chico Pio, cantor, violonista e compositor piauiense cuja carreira se desenvolveu no Ceará a partir dos anos 1970, morreu em Fortaleza na manhã desta segunda-feira, 26. O artista tinha 70 anos e estava internado em hospital da capital cearense com problemas hepáticos, decorrentes da cirrose. Em 1985, o cantor paraibano Zé Ramalho gravou uma composição de Chico Pio, Forrobodó, e o artista teve férteis parcerias com mais de 50 expoentes da música nordestina, como Fausto Nilo, Ricardo Bezerra, Manassés, Eugênio Leandro, Totonho Laprovitera, Stélio Valle, Alano Freitas, Tarcísio Sardinha, Neudo Figueiredo, Olímpio Rocha e Nertan Alencar. Também se apresentou com Belchior, Ednardo, Fagner, Rodger Rogério, Ivan Lins, Lucinha Lins, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maurício Tapajós e Carmen Costa, entre outros.

Nascido em 1953 em Parnaíba, no Piauí, Chico Pio vinha marcando a música e a cultura cearenses desde os anos 1970, quando fez música para uma montagem de Castro Alves Pede Passagem, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1979, com o Grupo Balaio e direção de Marcelo Costa. Em março de 1979, foi convidado por Ednardo a integrar a trupe do megaevento cultural Massafeira, que mobilizou uma plêiade multicultural do Ceará e do Nordeste brasileiro no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, com repercussões profundas na cultura brasileira a partir de então (e participação de Patativa do Assaré). No disco ao vivo Massafeira Livre (Sony Music), que reuniu os registros fonográficos daquela aventura, Chico Pio comparece com O que foi que você viu, dele e de Stellio Valle e Nertan Alencar, numa interpretação memorável do artista, uma viagem entre veios inexplorados da MPB. “O estilo de violão dele também é único. Une o suingue de Jorge Ben com a pegada rockeira de Keith Richards”, escreveu, de Pio, o colega de cordas Mimi Rocha.

O gênio de Chico Pio ficou um pouco à sombra dos nomes mais cintilantes da sua geração e viveu uma vida que muitos consideram trôpega e desregrada, de comportamento temperamental às vezes. Mas, entre os conterrâneos, era considerado um dos artistas mais brilhantes do seu tempo. Os amigos mais próximos o chamavam de O Inoxidável. Teve músicas gravadas por diversos deles, como Lúcio Ricardo e Paulo Rossglow (Sorvete) e Ângela Linhares (Água), e algumas de suas canções, como Aquarela Japonesa, com Fausto Nilo, tornaram-se clássicos regionais. Em 2015, fez um show muito elogiado no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza.

Suas aventuras pela noite de Fortaleza renderam um anedotário pródigo. O mito se vai, mas dezenas de histórias permanecerão. Contam que, certa vez, ao assisti-lo tocando, Evaldo Gouveia, autor e intérprete de sucessos nacionais como Sentimental Demais, achegou-se a Pio para puxar conversa, pois gostara do que vira. Evaldo, já famoso, vivendo no Rio de Janeiro, perguntou ao colega: “O que é que eu posso fazer pra te ajudar?”. Chico Pio aproveitou a deixa rapidamente: “Ô Evaldo, me dá uma carona até a Rui Barbosa, por favor”.

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