O Acre resplandece em “Noites Alienígenas”

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Adanilo Reis como Paulo em "Noites Alienígenas"

A primeira boa notícia sobre Noites Alienígenas é que pela primeira vez entra em cartaz no Brasil, nesta quinta-feira (30), um longa-metragem ficcional produzido no Acre. O diretor, Sérgio de Carvalho, nasceu no Rio de Janeiro e se radicou no estado, e essa dupla origem se faz presente no filme pela trama que aborda a chegada às periferias de Rio Branco de facções criminosas do tráfico de drogas do Sudeste. Ao mesmo tempo que desloca o cenário dos clichês que o Brasil e o mundo gostam de acalentar sobre o imaginário da floresta tropical, Noites Alienígenas preserva e atualiza a identidade local, tratando o Acre pelo viés da periferia da periferia sem abdicar das especificidades da vida e do cinema praticados sob os desígnios da Amazônia.

Gleice Damasceno em “Noites Alienígenas”

A mitologia amazônica é o primeiro referencial do filme, nas cenas de abertura que acompanham em flagrantes psicodélicos os mosaicos da pele de uma grande jiboia em movimento, mas também o corpo imóvel de um jovem de feições indígenas, Paulo (Adanilo Reis). Imediatamente se insinua outra mitologia, urbana e bem mais cruel, quando se percebe que Paulo é presa não de uma jiboia, mas da dependência química. A história se desenrola em torno das paixões e desventuras dos jovens Paulo, Sandra (Gleice Damasceno, ex-integrante vencedora do Big Brother Brasil, nascida no Acre) e Rivelino (Gabriel Knoxx), mas também dos coadjuvantes mais maduros Alê (Chico Diaz) e Beatriz (Joana Gatis), mãe também jovem de Rivelino.

Cidade e floresta se entrelaçam em “Noites Alienígenas”

Às palafitas, casas e cercas de madeira que remetem a estereótipos ribeirinhos, somam-se agora alvenarias em construção e esgotos a céu aberto comuns a periferias quaisquer, assim como as peles afro-brasileiras de jovens periféricos em rodas de slam e de hip-hop, como a afirmar que o Norte e o Acre não são alienígenas ao conjunto do Brasil. Outros contrastes, vários, se fazem nas cenas de mulheres indígenas (uma delas, mãe de Paulo) que se banham no rio, frequentam culto evangélico, tomam ayahuasca e fazem ritual para livrar Paulo do descontrole químico. O título do filme se justifica, mas por caminhos bem diferentes dos óbvios.

O desenlace torna mais pungente o todo de Noites Alienígenas, vencedor do Festival de Gramado no ano passado. Uma nota extra-cinematográfica fica para a canção que encerra o filme, “Estrela Cadente”, interpretada com emoção e grande voz por Pedro Lucas, cantor e compositor de 21 anos, acreano de Cruzeiro do Sul, que acaba de lançar seu álbum de estreia, Por um Fio. Por mais de uma razão, Noites Alienígenas existe para demonstrar que alienígena talvez seja qualquer terráqueo brasileiro que não sabe onde fica o Acre.

“Estrela Cadente”, com o cantor acreano Pedro Lucas

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