O compositor Josias Sobrinho em show no Teatro 4 de Setembro, em Teresina/PI, por volta de 1978. Foto: Assaí Campelo. Acervo Josias Sobrinho
O compositor Josias Sobrinho em show no Teatro 4 de Setembro, em Teresina/PI, por volta de 1978. Foto: Assaí Campelo. Acervo Josias Sobrinho

Compositor disponibilizará 10 canções por mês nas plataformas de streaming; primeiro lote é dedicado ao repertório do grupo Rabo de Vaca, que integrou; show de lançamento acontece domingo (2 de abril), no Talkin’ Blues

Josias Sobrinho, com o percussionista Erivaldo Gomes ao fundo, no mesmo show. Foto: Assaí Campelo. Acervo Josias Sobrinho
Josias Sobrinho, com o percussionista Erivaldo Gomes ao fundo, no mesmo show. Foto: Assaí Campelo. Acervo Josias Sobrinho

O compositor Josias Sobrinho completou, ano passado, 50 anos de carreira musical, contados não da estreia fonográfica, como é de costume, mas de quando veio “De Cajari Pra Capital”, como diz o título de uma das mais conhecidas músicas de sua lavra – na verdade ele nasceu no povoado Tramaúba, à época Penalva – e, após uma passagem por Minas Gerais, passou a integrar a trupe do recém-fundado Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte, em 1972.

Em 1978, Josias Sobrinho foi um dos compositores gravados por Papete no antológico “Bandeira de Aço”, produzido por Marcus Pereira, ex-publicitário que dava nome à sua própria gravadora, responsável pelo registro de um Brasil profundo desconhecido do próprio Brasil. Ao repertório do álbum, considerado, não sem razão, um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão, além da citada “De Cajari Pra Capital”, ele comparece com “Engenho de Flores”, “Dente de Ouro” e “Catirina”.

Entre 1977 e 1982, Josias Sobrinho (voz, violão e composição) integrou a trupe do igualmente lendário Rabo de Vaca, grupo que, nos moldes das experimentações laborarteanas, procurava aproximar do público de bares e teatros ritmos da cultura popular do Maranhão, à época ainda não bem vistos e ouvidos, como bumba meu boi e tambor de crioula, vitimados pelos preconceitos contra negros, pobres e moradores de periferias.

De um recorte de jornal, o Rabo de Vaca em uma espécie de retomada do grupo, para shows no Circo Voador, no Rio de Janeiro e em São Luís, em 1986. Em sentido horário, ao redor da canoa: Mauro Travincas, Omar Cutrim, Jeca Jecovski, Manoel Pacífico, Betto Pereira, Erivaldo Gomes e Josias Sobrinho, carregando o remo. Acervo Omar Cutrim
De um recorte de jornal, o Rabo de Vaca em uma espécie de retomada do grupo, para shows no Circo Voador, no Rio de Janeiro e em São Luís, em 1986. Em sentido horário, ao redor da canoa: Mauro Travincas, Omar Cutrim, Jeca Jecovski, Manoel Pacífico, Betto Pereira, Erivaldo Gomes e Josias Sobrinho, carregando o remo. Acervo Omar Cutrim

Pelo grupo, ao longo dos anos e várias formações, passaram nomes como Betto Pereira (cavaquinho e violão), Mauro Travincas (baixo), Vitório Marinho (violino), Zezé Alves (flauta), Rodrigo Castelo Branco (percussão), Erivaldo Gomes [1959-2022] (percussão), Manoel Pacífico (percussão), Omar Cutrim [1958-2015] (viola), Tião Carvalho (percussão e cavaquinho), Ronald Pinheiro (bandolim), Jeca Jecovski (percussão) e Baixinho do Pandeiro.

Por seus 50 anos de carreira, Josias Sobrinho deveria ter sido o homenageado da Turma do Quinto no carnaval do ano passado; a pandemia de covid-19 e o consequente isolamento social por ela imposto não permitiram; a ideia da homenagem se repetiu este ano, mas escola de samba azul e branco do bairro da Madre Deus se retirou da passarela em protesto contra a demora no repasse das verbas para o desfile pela Prefeitura Municipal de São Luís.

Josias Sobrinho, ao mesmo tempo em que ficou lisonjeado com a escolha da escola para a homenagem, não se abalou com o adiamento dela, antes, e o cancelamento depois. Ele, que não é de tirar o chapéu pra qualquer vagabundo, não tem na vaidade uma peça do vestuário que lhe caiba bem, e bem poderia, compositor gravado por nomes como Betto Pereira, Ceumar, Diana Pequeno, Fátima Passarinho, Flávia Bittencourt, Leci Brandão, Rita Benneditto, Vinaa e Xuxa, além do citado Papete, para lembrar uns poucos.

Em pleno vigor criativo, como demonstrado ao longo da pandemia de covid-19, quando lançou diversos singles e revelou algumas parcerias, Josias Sobrinho parte para um projeto ousado de registro de sua própria obra, neste 2023 em que completa 70 anos de idade – no próximo dia 15 de julho.

“Canção em Canção” fará chegar às plataformas de streaming, ao longo do ano, nada mais nada menos que 100 músicas de autoria de Josias Sobrinho – sozinho ou em parceria. 10 lotes (um por mês) com 10 faixas cada, o primeiro volume, intitulado “Vida Bagaço” é, como diz o subtítulo, “Um Tributo ao Rabo de Vaca”.

O primeiro álbum do projeto traz “Noves Fora” (parceria com o conterrâneo João Madson [1954-2016]), “Naszora”, “O Dia da Caça” (parceria com Escrete [1952-2007]), “O Sonho”, “Doutor Pai Francisco”, “Estrupício”, “Bote Terra”, “Lancha Nova” (parceria com Lourival Tavares), além da faixa-título e de “Boi de Pireli”, única não-inédita do repertório, lançada por Josias Sobrinho em seu segundo elepê (1994), que leva apenas seu nome por título.

O registro destas composições é fundamental para nos ajudar a compreender os rumos e a grandeza de um dos mais importantes compositores da música popular brasileira, que alcançou este patamar tendo escolhido viver e produzir a partir do Maranhão, num tempo em que os conceitos de centro (o eixo Rio-São Paulo) e periferia (a ficção Nordeste no dizer do bardo Belchior [1946-2017]) ainda não eram tão diluídos pelas internets da vida. Estão no repertório marcas de uma época, com seu frescor e, para o bem e para o mal, muita coisa bastante atual, mesmo em se tratando de criações de há quase meia década – reflexos de um Brasil em que pais Franciscos e mães Catirinas ainda sofrem com a incerteza sobre ter o pão de cada dia (ou a língua do boi) para alimentar aos filhos e a si mesmos.

Em “Vida Bagaço” Josias Sobrinho está acompanhado por Rui Mário (produção musical, arranjos, sanfona e piano), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão), Dedé de Valença (baixo), Israel Dantas (violão nylon e viola), João Neto (flauta), Tião Lima (percussão), Vinícius Lima (percussão) e Roberto Chinês (cavaquinho em “Que Sonho”).

O show de lançamento de “Vida Bagaço”, que acontece neste domingo (2 de abril), às 21h, no Talkin’ Blues (R. Auxiliar II, quadra 9, nº. 16, Cohajap, São Luís/MA). Os ingressos custam R$ 20,00, com reservas pelo telefone (98) 98817-2855. Josias Sobrinho (voz e violão) será acompanhado por Sued Richarlys (guitarra), Lucas Sobrinho (baixo), João Neto (flauta) e Ricardo Sandoval (bateria) em um repertório que vai além do álbum.

O projeto “Canção em Canção”, o registro das 100 canções e sua disponibilização nas plataformas de streaming, é uma realização da Associação Cultural Música do Maranhão, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, com patrocínio do Governo do Estado do Maranhão e Potiguar – o show não está contemplado no projeto e somente por isso não é gratuito.

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Faça a pré-save do volume 1 de “Canção em Canção”: “Vida Bagaço: Um Tributo ao Rabo de Vaca”:

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