Cena de
Cena de "A última sessão de Freud", peça em cartaz no Teatro Porto - Foto: João Caldas Filho

A Última Sessão de Freud é, em primeiro lugar, uma peça de ideias. E também do confronto delas, com Deus envolvido no meio. E, embora gire em torno de um fictício encontro entre dois intelectuais do século 20, soa tão real e atual porque as reflexões ali presentes são as mesmas que perpassam séculos de disputas – e nenhuma resposta concreta. Com direção de Elias Andreato, a montagem fica em cartaz no Teatro Porto, em São Paulo, até o dia 7 de agosto.

A peça se passa numa trágica tarde de setembro de 1939, quando a Inglaterra anuncia sua oposição à Alemanha nazista. A iminência da guerra resgata o símbolo da morte e também o do sentido da vida, temas caros para um judeu refugiado de 83 anos, o pai da psicanálise Sigmund Freud (Odilon Wagner), e o escritor e veterano da 1ª Guerra Mundial C.S. Lewis (Claudio Fontana). O primeiro é um ateu convicto, enquanto o outro, um cristão fervoroso. Ambos nunca se encontraram de verdade; apenas na imaginação de Armand Nicholi Jr, professor de psiquiatria da prestigiada Harvard Medical School, que escreveu o livro Deus em Questão. O escritor Mark St. Germain, se baseou nessa obra para escrever essa peça em 2009 (traduzida por Clarisse Abujamra).

O que intrigava Freud era por que um intelectual decide abandonar a razão, e a ciência, para se tornar um cristão convicto. Mas no imaginativo encontro às vésperas da Segunda Guerra Mundial esse mote serve apenas para escancarar questões mais viscerais como a dor e o sofrimento, a natureza do amor e do sexo, e o sentido da nossa existência. Os argumentos civilizatórios, num mundo ameaçado de perdê-los, perpassam também a montagem, que transcorre dentro do escritório de Freud, reproduzido com suntuosidade pelo cenógrafo Fábio Namatame.

É bom adiantar que a encenação valoriza a palavra, as ideias, mas não é uma licença para um texto chato ou modorrento. Ao contrário, A Última Sessão de Freud é uma comédia, um peculiar estilo de humor, que pode ser visto nas finas tiradas entre supostamente dois opositores que têm mais em comum do que imaginam. Como em Esperando Godot, drama do irlandês Samuel Beckett, os personagens Estragão e Vladimir travam um longo debate em torno de reflexões várias, Freud e Lewis enveredam para temas como família, a doença, a crença de um ateu e a descrença de um cristão, até a mobília do escritório do psicanalista que valoriza o sagrado, o divino. Ambos são dotados de sagacidade para perceber que, apesar de diferentes gerações, nenhum deles tem convicção das suas “verdades”.

Wagner e Fontana estão à vontade em seus papéis que parecem feitos sob medida para plateias especializadas. Psicólogos, psicanalistas, terapeutas da mente, certamente, vão se sentir em casa no divã com Freud.

Cena de "A última sessão de Freud", peça em cartaz no Teatro Porto
Cena de “A última sessão de Freud”, peça em cartaz no Teatro Porto – Foto: João Caldas Filho
A Última Sessão de Freud. Direção de Elias Andreato. No Teatro Porto, sextas-feiras às 20 horas; sábados às 17 e 20 horas; domingos às 18 horas. Ingressos na Sympla a partir de 70 reais. Até 7 de agosto.
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