O grupo piauiense Validuaté, que se apresenta neste sábado no Rockambole, em São Paulo (Foto de Chico Rasta)

Com 18 anos de estrada, a banda piauiense Validuaté já encantou com diferentes abordagens, começando com um vertiginoso voo experimental no início dos anos 00, ligado aos ecos do tropicalismo do conterrâneo Torquato Neto. Mas, essa semana, quando chega mais uma vez a São Paulo a bordo de um novo disco, Escute, o Sol Está Nascendo, o grupo de Teresina mostra o garimpo de novas joias da tradição musical, agora na seara do pop absoluto. A banda toca no Rockambole, na Vila Madalena, neste dia 23, sábado, às 20 horas.

“Quando encaro essa jornada, agradeço/Eu nunca duvidei”,  canta o vocalista Zé Quaresma em Minha Sorte, que tem participação do pianista e cantor pernambucano Zé Manoel. É uma das gemas irresistíveis do álbum, já um hit precoce nesse início de turnê, e que parece ecoar um pop contemporâneo com grande senso de artesanato, além de infecciosa sinceridade. “Gera muita identificação. Coisa de quem tá no corre e não esmorece”, diz Zé Quaresma em entrevista por zap ao FAROFAFÁ.

Zé Quaresma é o frontman, e a Validuaté tem ainda Leone Vinicius (voz e teclados), Vazin Silva (guitarra), Igor Melo (baixo) e John Well (bateria).

“A música pop funciona sempre, tem elementos estruturais na sua composição que conduzem o ouvinte a se envolver com a música, seja um ritmo, um refrão, uma melodia que gruda na cabeça”, pondera Quaresma. “Nosso som já foi menos pop, com os pés mais confortáveis na poesia e alguma experimentação. Foi importante fazer aquelas músicas naquele tempo. Hoje vemos na música pop uma possibilidade de chegar a mais ouvintes, tanto de Teresina quanto do restante do país, com toda essa estranha sensação de que a música pode chegar para todos por meio dos aplicativos de música, o mercado digital e tudo que está envolvido nesse processo”.

Não se trata absolutamente de uma rendição comercial, garante o vocalista Zé Quaresma. O gosto dos integrantes sempre foi variado e sem preconceitos, assim como também sua base geográfica, Teresina, que tradicionalmente recebe bem a música de todos os cantos do País – foi o primeiro lugar em que a banda paraense Calipso, por exemplo, fez sucesso.

O mercado de música em Teresina é pequeno, possibilita pouco escoamento; mesmo as bandas de forró e sertanejo encontram ali um circuito ainda um tanto restrito, diz Quaresma. “Para nós do alternativo, do underground, o cenário é um pouco diferente, menor, mas com boas possibilidades de aqui e acolá, aparecer para um grande público em eventos abertos ou abrindo shows de artistas de circulação nacional”, conta o músico. Mas a mágica acontece com qualquer trampolim. Em 2010, após tocar com a Validuaté em Teresina no Festival Lusófonos, o menestrel Jorge Mautner declarou: “Foram momentos inesquecíveis de belezas, surpresas e fascínios”.

Talvez o problema até maior, no momento, seja a abordagem mais otimista, de enxergar além do nevoeiro, projetar-se para um momento no fim das tempestades. Não parece razoável, face à circunstância social e política do Brasil atual. “O título do disco não convida a olhar para um sol que está nascendo, mas para ouvir. Ou seja, ainda está escuro demais para ver, mas mesmo no breu a gente precisa ouvir, e acreditar que dá pra pelo menos enfrentar isso”.

Este é o primeiro álbum da Validuaté que ganhou primeiro um nome e depois um repertório. É oriundo de projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc. “Escute, O Sol Está Nascendo foi um título pensando para trazer uma imagem de esperança, de um tempo melhor por vir, apesar das dificuldades e desafios. E o repertório foi se construindo com canções que falam de amor, amizade, solidariedade, resiliência, resistência”.

É possível identificar aqui e ali alguns estilhaços do pop brasileiro de diversas épocas, de Roupa Nova e Lulu Santos a Victor Kley e outros artistas mais recentes. “Os 80 estão sempre flutuando nas coisas que escutamos. De modo geral, vejo que tentamos trazer mais elementos do pop para o som da banda neste álbum. Quando ensaiamos ou criamos músicas novas, é mais comum levantarmos possibilidades de ritmos para justapor a uma base rock, do que necessariamente nomes da música”, diz o cantor. “Mas lembro de ter ouvido nomes como U2, Skank, Jota Quest, Aerosmith quando ouvíamos o que estávamos criando. Acho que influência é isso, quando menos se espera, tem ali uma referência de algo que você ouve e gosta”.

A lírica do disco se constroi naquela região do quase clichê, do qual escapa de vez em quando para encontrar uma poesia bem informada, de fundações sólidas. “Eu vesti aquela roupa que você me deu/E me despi daquele medo que não era eu”, canta Quaresma em Aquela Roupa.

Validuaté. Rockambole (R. Belmiro Braga, 119). Dia 23, sábado. Abertura da casa: 18h
Início do show: 20h
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