Benjamin de Oliveira, o 1º palhaço negro do Brasil

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A extraordinária trajetória do palhaço Benjamin de Oliveira até daria um livro, um samba-enredo ou uma exposição.  E deu. Nascido em 1870, num Brasil escravocrata, filho de um capitão do mato, Malaquias Chaves, e uma escrava, Leandra de Jesus, ele foge de casa aos 12 para se livrar das agressões que sofria do pai e se torna um dos pioneiros e mais celebrados artistas negros da história. A 54ª Ocupação Itaú Cultural celebra esse multiartista dos séculos 19 e 20, que foi também ginasta, acrobata, músico, cantor, dançarino, ator, autor de músicas e peças teatrais e diretor de companhia.

Erminia Silva, autora do livro Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, publicado em 2007 pela editora Altana e que ganhará uma nova versão em 2022 pelo Itaú Cultural e editora Martins Fontes, assina a cocuradoria da exposição. É ela que, em vídeos, permite ao visitante da exposição dimensionar a história improvável do palhaço Benjamin de Oliveira. Improvável e certamente teatral. Foi pegando carona em carroças com o Circo Sotero, percorrendo estradas empoeiradas ou de terra do sertão de Minas Gerais, que o jovem Benjamin decide fugir de sua casa. Ele pouco ou nada sabia sobre a arte circense, tanto que só veio a se tornar palhaço sete anos depois. Também sofreu violências dentro da companhia.

Chegou a viver de esmolas, até que um dia foi parar no Circo de Albano Pereira, outra família tradicional circense no Brasil. Lá teve a oportunidade de substituir um palhaço e nunca mais parou. Mais que isso, descobriu que só conseguiria fazer os outros rirem se fugisse do texto encenado, das armações conhecidas. A improvisação o tornou um sucesso sem precedentes, sobretudo ao ingressar no Circo Spinelli. Nos jornais da época, era anunciado como atração principal na “hilariante revista de costumes nacionaes”, no Rio.

Destacou-se também compondo, produzindo e escrevendo adaptações e paródias. A que fez sobre a peça O Guarany, de José de Alencar, popularizou o circo-teatro no Brasil. O artista foi homenageado pelas escolas de samba São Clemente, com o samba-enredo O Beijo Moleque, em 2009, e Salgueiro, com O Rei Negro do Picadeiro, em 2020. A Ocupação do Itaú Cultural recontará essa história a partir de um conjunto de 120 peças, entre recortes de jornais, fotos, registros audiovisuais, objetos circenses da época, livros e outros documentos. Há também fonogramas de canções que ele interpretou, algumas acompanhadas de artistas como Eduardo das Neves, Catulo da Paixão Cearense, Chiquinha Gonzaga e Paulina Sacramento. Benjamin de Oliveira morreu em 1954, aos 83 anos.

Ocupação Benjamin de Oliveira. No Itaú Cultural, de 27 de novembro a 27 de fevereiro de 2022. Grátis.

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