Tem grupos do Acre, de Minas, do Distrito Federal, de Alagoas e do Rio Grande do Sul. Tem também de São Paulo, do Rio e do Ceará, assim como de Pernambuco, da Paraíba, da Bahia e do Maranhão. A 23ª edição do Palco Giratório, do Sesc Nacional, ocorrerá de 30 de setembro e 16 de outubro em formato de festival digital. Os mesmos 17 espetáculos de teatro, dança e circo selecionados para circular em 2020 pelo país, construindo uma ponte entre o centro e a periferia, se apresentarão neste ainda pandêmico 2021 em espetáculos ao vivo, gravados nas unidades de 13 estados.
O Palco Giratório, em seu formato tradicional, parte de um construção coletiva única. Os curadores do Sesc indicam até cinco espetáculos de seus respectivos estados, necessariamente vistos e avalizados presencialmente. Do conjunto selecionado, os curadores estaduais assistem aos espetáculos em uma plataforma online e decidem, no Encontro Nacional de Artes Cênicas, quais serão as companhias a circular. Veio a pandemia e a circulação se tornou inviável, se não pouco recomendada. E, para os artistas do palco em geral, a saída foi migrar para o ambiente digital. A solução do teatro online abriu possibilidades que, lá atrás, o Palco Giratório já permitia: conhecer espetáculos e grupos teatrais de outras localidades.
Fazem parte desse repertório Grace Passô, Cia Fluctissonante, Cia Lumiato e Coletivo Preto, Lume Teatro e Grupo Bagaceira de Teatro, entre outros. Os espetáculos continuarão nos canais do Sesc até janeiro de 2022. O Palco Giratório terá ainda as chamadas “ações formativas”, com 190 horas de oficinas, 97 debates e 132 intercâmbios, todos em modo online. Nessas atividades, neófitos, artistas e interessados terão a oportunidade de vivenciar experiências artísticas.
Regina Maciel, que apresentará Ikuâni, que explora a ancestralidade da mulher indígena Huni Kuin (veja programação completa abaixo), apresentará a oficina para quem quiser aprender danças indígenas do Acre, do Amazonas e dos vizinhos Peru e Bolívia. A ideia é incorporar a cosmogonia indígena não só com as músicas dos Huni Kuin, mas também com práticas de pintura e desenhos utilizados por esses povos.
O Coletivo Preto apresentará duas oficinas: circo para curiosos e nova visão. A primeira, com Orlando Caldeira, ensina exercícios de ritmo, agilidade, equilíbrio e coordenação motora, necessários para as artes circenses. Já a segunda, ministrada por Drayson Menezzes, é voltada para o público afrodescendente, capacitando-o com técnicas de produção de vídeo, preparação para testes e marketing pessoal. O grupo apresenta, no Palco Giratório, a peça infantojuvenil Boquinha …E Assim Surgiu o Mundo, com texto do ator Lázaro Ramos.
Lista de espetáculos (com sinopses fornecidas pelo Sesc Nacional)
Vaga Carne (MG)
Grace Passô
30 de setembro, às 20 horas
Vaga Carne é um solo de Grace Passô. A peça é um campo de jogo entre palavra e movimento, onde um corpo de mulher vive a urgência de discurso, à procura de suas identidades e de pertencimento. Em sua narrativa, uma voz errante, capaz de invadir qualquer matéria sólida, líquida ou gasosa, resolve invadir um corpo de mulher e, a partir dessa experiência, narra o que sente enquanto sujeito, o que finge sentir, o que é insondável em si, o que sua imagem é para o outro, sonda o que significa um corpo enquanto construção social.
Ikuãni (AC)
Cia de Teatro Garatuja
1 de outubro, às 20 horas
Ikuâni, mulher amazônida do século XVI, detentora de uma ancestralidade feminina do tempo antes do tempo, quando mundo era livre dos homens maus, os Nawa. O trabalho cênico Ikuãni trata da decodificação da movimentação cotidiana da mulher Huni Kuin. A linguagem do corpo em movimento durante seus afazeres e sua organização estética, coreográfica, ritualística e espiritual onde a música ocupa um lugar fundamental no desempenho do ritual das tradições indígenas, são objeto de pesquisa profunda neste trabalho. Toda movimentação cênica e narrativa corporal é baseada na vivência com essa ancestralidade da mulher indígena.
Roda (PE)
Rapha Santacruz Produções
2 de outubro, às 16 horas
Circulando ele vem, trazendo pra roda os domínios fantásticos e misteriosos do reino da imaginação. Na bagagem, a alegria genuína de um brincante popular. E vai “arrodeando” e fazendo surgir uma surpresa a cada volta, e a roda vira circo, e do encontro brota magia. Arrodeia: ele chama pra cena. E lá vem os sons, os meninos, o povo… O brincante é de inspiração nordestina mas tem linguagem universal. A Roda vai gerando energia, é moinho de risada, de festa multiplicada, ciranda de gente vestida de infância. Roda é ciclo de alegria, virando noite e dia nos arrodeios dos sonhos e destinos desejados. Sem começo, sem fim, a Roda é o meio de tudo que de tudo um pouco tem.
2 Mundos (DF)
Cia Lumiato
3 de outubro, às 16 horas
Inspirado na colonização da América e dos territórios do mundo todo, o espetáculo conduz o espectador a viajar por um tempo passado que encontra analogias continuas com o presente. 2 Mundos conta a historia do encontro de duas culturas opostas, onde se revelam os sentimentos e motivações mais profundas da humanidade. Quando no embate das diferenças explode a luta pela vida, a morte de um jovem acontece trazendo uma nova esperança.
Mini Cabaré Tanguero (AL)
Julieta Zarza
4 de outubro, às 20 horas
Um fabuloso e variado Cabaré Porteño onde os espectadores mais exigentes poderão contemplar o melhor da dança e da música Rio-Platense. Seria tudo formidável, não fosse um pequeno “porém”: a excêntrica Julieta pode aparecer e roubar a cena. Um solo onde manipulação, mágica, danças excêntricas, humor e panaquice surpreendem e emocionam a cada instante.
Macbeth e o Reino Sombrio – Shakespeare para Crianças (RS)
Coletivo Órbita
5 de outubro, às 16 horas
Os generais de guerra Macbeth e Banquo, voltam triunfantes de uma batalha contra a Noruega. Passando por um pântano, se deparam com três bruxas que lhes apontam algumas previsões: Macbeth será barão de Cawdor e futuramente rei. E Flaêncio, filho de Banquo, também será rei. A ambição de Macbeth e de sua esposa, Lady Macbeth, diante das profecias das bruxas os leva a cometer um gesto de traição contra o rei, gerando tempestuosos conflitos.
Kintsugi, 100 Memórias (SP)
Lume Teatro
6 de outubro, às 20 horas
Kintsugi, 100 Memórias é uma proposta cênica que, partindo dos limites da teatralidade e de modo fragmentário, tenta aproximar-se de uma ideia de memória não linear nem bucólica, mas sim uma memória que apresenta o gesto da vontade no ato de lembrar. Para nós, a memória não é nem monumentalista nem autocomplacente; é, sim, um exercício do presente para revisitar as crises passadas, os erros cometidos, as cicatrizes – pessoais e coletivas – que a história nos deixou e, assim, corrigir o nosso futuro; é o reencontro com a dor como ato de superação.
Sobre Azares Futuros (MA)
Budejar Criações Artísticas
7 de outubro, às 20 horas
Um prólogo. Quatro cenas. Uma atriz. Cinquenta minutos de narrativas políticas e poéticas, singelas, dolorosas e alegres, sobre ser mulher no mundo, sobre as lutas diárias do universo feminino. Os azares futuros; os assédios; o aborto; a maternidade e o direito sobre o corpo; são essas as questões em debate, na cena, no corpo e nas marcas da atriz. Composto por uma estrutura dramatúrgica fragmentada, com cenas independentes e com uma estética que propõe cortes secos, picos de alegria, mas sem finais felizes, o espetáculo gera um fio de tensão, questiona, indaga e propõem cenas reflexivas sobre o feminino e as relações de poder no cotidiano da mulher.
O Vazio É Cheio de Coisa (DF)
Cia Nós no Bambu
8 de outubro, às 20 horas
Num vazio, se desenrola uma dramaturgia ilustra por meio da poesia, da pele, do vegetal, do gesto, do olhar, do som e da luz.
O Circo a Céu Aberto (RJ)
O Circo a Céu Aberto
9 de outubro, às 16 horas
O espetáculo O Circo a Céu Aberto resgata nos espaços públicos a atmosfera poética do encontro, do aplauso, do sorriso, do despertar para a imaginação, por meio da linguagem do palhaço, da comédia física e da arte de rua. O resultado é uma catarse coletiva de gargalhadas, transformando os espectadores, independentemente de idade ou perfil social, em crianças ao redor de um picadeiro, debaixo de um circo sem lona.
Interior (CE)
Grupo Bagaceira de Teatro
10 de outubro, às 20 horas
Interior traz para a cena duas velhinhas que insistem em não morrer. Elas já cruzaram diversas gerações e sabem tudo a respeito da vida. Dão conta de todas as histórias prováveis e improváveis. O espetáculo nos convida a um olhar criativo e amoroso perante a vida, onde o impossível é mero detalhe. Com muito bom humor, Interior é irreverente e, ao mesmo tempo, singelo. Cheio de afeto, igual a bolo feito por avós.
Meia Noite (PE)
Orun Santana
11 de outubro, às 20 horas
O espetáculo explora a capoeira como elemento criador e motivador do movimento, construindo um procedimento de uso de imagens/memória do corpo do dançador, dialogando dramaturgicamente a relação pai e filho, mestre e discípulo, sendo o intérprete filho do Mestre Meia-Noite (mestre de capoeira co-fundador do Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo, na periferia do Recife), aspectos da ancestralidade pessoal colocados em evidência, revelando princípios motores e do imaginário poético-político do corpo negro na cena.
Boquinha …E Assim Surgiu o Mundo – teatro infantojuvenil – RJ
Coletivo Preto
12 de outubro, às 16 horas
Boquinha… E Assim Surgiu o Mundo une teatro, circo e música para falar sobre o surgimento do mundo segundo diferentes culturas. O espetáculo se passa no sótão da casa do menino João Vicente (Orlando Caldeira), onde ele encontra uma caixa com as pesquisas de seu avô escritor. Através dessas pesquisas, João Vicente e Boquinha, um pequeno ser feito de dobraduras de papel, viajam pelas culturas cristã, africana, chinesa, pela cultura dos índios brasileiros e pela ciência, para entender como o mundo foi criado.
Enquanto a Chuva Cai (PR)
Cia Fluctissonante
13 de outubro, às 16 horas
Encenada em português e libras simultaneamente e voltada a integração do público surdo e ouvinte na plateia, a peça acompanha o encontro e a aproximação de duas crianças órfãs dentro de uma casa em ruínas durante a guerra. A menina se comunica utilizando a libras e o menino, a língua portuguesa. Numa guerra, um amigo é como uma fonte no deserto. A barreira linguística, portanto, não pode ser um empecilho para que os dois personagens se tornem amigos e cúmplices na luta pela sobrevivência. Assim, em delicados jogos de cena, com brincadeiras simples e ternas, a aparente barreira entre os dois é resolvida e a comunicação entre eles acontece.
Terreiro Envergado (PA)
Coletivo Tanz
14 de outubro, às 20 horas
Terreiro Envergado é uma obra construída na relação que estabelece com o público, uma sucessão de pequenos ritos cotidianos, ressignificados no corpo e no lugar, em constante transformação. Inspirado livremente nos ecos das obras do escritor paraibano José Lins do Rêgo em sua série sobre o ciclo da cana de açúcar. Nesse terreiro “circulam” ambulantes, bêbados, brincantes entre outras figuras místicas que povoam o imaginário popular e que nos convidam a dividir o mesmo espaço, seja palco ou praça para celebrar o encontro. Um verdadeiro caleidoscópio de imagens e sons que se traduzem no corpo atravessado e recortado pela força midiática e memória pessoal dos intérpretes.
Ícaro (RS)
Luciano Mallmann Produções
15 de outubro, às 20 horas
Ícaro é acima de tudo um espetáculo sobre a diversidade humana. Em cena um único ator e histórias que abordam temas universais, como relacionamentos entre pais e filhos, resiliência, relações amorosas, suicídio, preconceito, gravidez e maternidade. O ponto em comum: todas são depoimentos ficcionais de pessoas cadeirantes. Dramas que se tornaram espetáculo pelas mãos do gaúcho Luciano Mallmann, que estreia como dramaturgo e interpreta todas as personagens. A inspiração partiu das próprias experiências do autor e de pessoas que conheceu depois que passou a usar cadeira de rodas, quando sofreu um acidente com acrobacia aérea de circo em 2004.
Salão (BA)
Casa 4
16 de outubro, às 20 horas
Amor, breguice e viadagem conduzem o “dois pra lá, dois pra cá” de Salão, primeiro espetáculo do coletivo Casa 4. Em cena, busca-se repensar os estereótipos de gênero que tradicionalmente envolvem as danças de salão e excluem outras possibilidades de dançar a dois.
Festival Digital Palco Giratório. De 30 de setembro a 16 de outubro. No Youtube do Sesc Brasil.