O compositor pernambucano usa a quarentena para gravar versões de voz e violão para seus maiores sucessos

 

De quarentena, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença viu-se sozinho com seu violão, depois de décadas ininterruptas na estrada. A parada o levou de volta para o próprio cancioneiro, o que resultou na regravação de três dezenas de músicas de sua autoria. As versões meio desligadas consumam um feito inédito do artista de 74 anos: aproximam-no da bossa nova, sempre mais distante de sua voz agreste que o rock, a tropicália, o frevo, o maracatu, a ciranda e a nordestinidade elétrica dos anos 1970.

Alceu pretende desmembrar em três discos essa produção, e o primeiro deles sai agora sob o título Sem Pensar no Amanhã, homônimo da única canção inédita incluída entre as 11 faixas. O sucesso “La Belle de Jour”, de 1992, puxa o comboio, já fazendo notar a desaceleração atual de Alceu, que perpassa “Marim dos Caetés” (1983) e “Estação da Luz” (1985), também marcas registradas de sua obra. A esse bloco pertence também “Táxi Lunar”, uma parceria entre Alceu, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, lançada por esse último em 1979 e regravada inúmeras vezes por cada um dos três cantores.

Da fase mais experimental do músico aparece “Mensageira dos Anjos”, de 1974. “Íris”, que já era balada delicada em 1987, assim permanece em 2021. O bloco de frevos de rua transformados em frevos-canção inclui “Chego Já”, lançado por Elba Ramalho em 1982, “Pirata José” (2002) e “Beija-Flor Apaixonado”, gravado em 2014 com Fafá de Belém. Por fim, Alceu relê “Ciranda da Rosa Vermelha”, que adaptou do folclore cirandeiro em 2009. O resultado é música para escutar em dias calmos.

(Texto publicado originalmente na CartaCapital 1150, de 31 de março de 2021.)

"Sem Pensar no Amanhã" (2021), de Alceu Valença

Sem Pensar no Amanhã. De Alceu Valença. Deck, 2021.

 

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