O coletivo Choro Na Rua. Foto: divulgação
O coletivo Choro Na Rua. Foto: divulgação

Álbum homenageia Zé da Velha desde o título e reverencia grandes nomes do choro

Zé da Velha (1941-) já era uma lenda viva do trombone e da música instrumental brasileira quando conheceu o trompetista Silvério Pontes (1960-): em 1986 o sergipano deu uma canja em uma apresentação do fluminense no Bar Boca da Noite, no Centro do Rio de Janeiro. Começava ali a história da dupla Zé da Velha e Silvério Pontes, carinhosamente apontada como “a menor big band do mundo”, dada a qualidade de seu repertório e execuções.

Zé da Velha tocou com nomes como Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969) para ficarmos em apenas dois nomes fundamentais do choro – não à toa o Dia Nacional do Choro é celebrado em 23 de abril, data de nascimento de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Silvério Pontes, por sua vez, integrou a lendária Vitória Régia, que acompanhou Tim Maia (1942-1998) por quase 20 anos.

Aquele encontro é um dos episódios lembrados por André Diniz e Diogo Cunha em “Zé da Velha & Silvério Pontes – 30 Anos – A Menor Big Band do Mundo” (Al-Fárábi Editorial, 2016). 30 anos depois do encontro de Zé da Velha e Silvério Pontes, como entrega o título, era a vez de outro encontro: o Choro Na Rua se formou espontaneamente na Rua do Rosário, no Centro do Rio de Janeiro, em frente à livraria onde então acontecia a noite de autógrafos do livro.

Depois daquela noite, o grupo começou a se apresentar, sem formação fixa, como se fosse um time de peladeiros: quando um ou outro não pode, o restante do time vai defender o ofício. Peladeiros é metáfora barata; na realidade, os craques são músicos bastante requisitados, com agendas concorridas, e reunir sempre os mesmos nomes levaria muito tempo, algum acaso e talvez sorte. Em 2021 o Choro Na Rua compareceu a “Da Gávea Para O Mundo”, disco de Pedro Miranda – com que dividiu “Meu Pecado É Sorrir”, parceria dele com Moyseis Marques (seu colega de “Desengaiola”).

"Obrigado, Zé da Velha!". Capa. Reprodução
“Obrigado, Zé da Velha!”. Capa. Reprodução

Às vésperas do Dia Nacional do Choro, o coletivo Choro Na Rua lança seu disco de estreia, “Obrigado, Zé da Velha!” (Biscoito Fino, 2023), que aterrissa nas plataformas de streaming na próxima sexta-feira (21), sob liderança de Silvério Pontes e inspiração de Zé da Velha.

O inspirado álbum reúne a seguinte escalação: Alessandro Cardozo (cavaquinho), Alexandre Maionese (flauta e flautim), Daniela Spielmann (saxofones soprano e tenor), Dudu Oliveira (saxofone tenor), Silvério Pontes (trompete e flugelhorn), Tiago Souza (bandolim), Bebê Kramer (acordeom), Vinícius Magalhães (violão), Charlles da Costa (violão), Rogério Caetano (violão sete cordas), Henrique Cazes (cavaquinho), Netinho Albuquerque (percussão) e Rodrigo Jesus (percussão).

“Obrigado, Zé da Velha!” conta ainda com participações especiais de Eduardo Neves (saxofone tenor em “Um Chorinho em Cochabamba”) e Marcelo Caldi (acordeom em “Voltei Ao Meu Lugar”), além do próprio homenageado: um trombone é ouvido na mesma faixa, em “um solo gravado há tempos por Zé da Velha: optamos por deixar o seu trombone sozinho no início, para mostrar os detalhes da execução, o jeito fluente que Zé aprendeu com Pixinguinha e nos ensinou”, comenta Henrique Cazes, que assina a produção musical do álbum, com Alexandre Maionese, Rogério Caetano, Silvério Pontes e Diego do Valle.

Outra constelação desfila quando o assunto é repertório: entre clássicos do choro e temas autorais, em 12 faixas comparecem Zé Menezes [1921-2014] (“Bossa Nova Nº. 1”), Altamiro Carrilho [1924-2012] (“Deixe o Breque Pra Mim”), Sivuca [1930-2006] (“Homenagem a Velha Guarda”), Severino Araújo [1917-2012] (“Chorinho Pra Você”), Jacob do Bandolim (“Receita de Samba” e “Bola Preta”), Pixinguinha (“Cheguei”, parceria com Benedito Lacerda [1903-1958]), Waldir Azevedo [1923-1980] (“Vê Se Gostas”, parceria com Otaviano Pitanga [s/d]), Luiz Bonfá [1922-2001] (“Menina Flor”, parceria com Maria Helena de Toledo [1937-2010]) e Maestro Carioca [1910-1991] (“Voltei ao Meu Lugar”), além de membros do Choro Na Rua: Silvério Pontes assina “Meneziana” em parceria com o convidado Marcelo Caldi e Rogério Caetano e Eduardo Neves são os autores de “Chorinho em Cochabamba”.

Com tantos virtuoses juntos, as execuções são cristalinas e emocionantes, aliando anos de pesquisa, estudo e dedicação ao gênero ao frescor e espontaneidade de uma autêntica roda de choro. Pixinguinha estaria orgulhoso, Zé da Velha certamente está, bem como qualquer apreciador de choro que se preze.

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