Ciclo de debates do Tablado Arruar - Foto: Exército Brasileiro
Ciclo de debates e leituras do Tablado Arruar analisam a militarização em curso no Brasil - Foto: Exército Brasileiro

O escritor, diretor e dramaturgo Alexandre Dal Farra afirma que chegou a hora de corrermos “o risco de pensar hipóteses um pouco absurdas, para entender o mundo absurdo em que estamos vivendo”. Sim, ele está preocupado com o atual momento autoritário, retrógrado e reacionário do Brasil, do mundo, mas é preciso cutucar um pouco mais essa ferida. Por que e como chegamos a esse estado surreal de aberrações sobre aberrações politicas? E, mais que isso, sem nos dar conta de que estávamos sendo dragados para essa “realidade”? A partir desta semana, Alexandre Dal Farra cutucará essa ferida estando à frente do Ciclo de Leituras Dramáticas, dentro do evento que inclui debates promovidos pelo Tablado de Arruar, seu grupo teatral, sob o título: Parece Guerra, Porque É Guerra, Só Não É a Guerra Que Parece Ser.

A atual militarização do governo Bolsonaro é, para muito além do escândalo das vacinas, um projeto de poder, aponta Dal Farra. Ele cita um vídeo de 2014, divulgado no YouTube por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que mostra o então deputado federal fazendo campanha diante de aspirantes a oficiais dentro da Academia Militar das Agulhas Negras. “Esse vídeo mostra como a nossa narrativa está equivocada. Não existe militarização do governo, Bolsonaro presidente é projeto direto dos militares”, diz o dramaturgo.

O Ciclo de Debates e Leituras do Tablado de Arruar, grupo criado em 2001 e que conta ainda com Clayton Mariano e Ligia Oliveira, vai se dedicar a refletir sobre o projeto de poder dos militares no Brasil. Estarão presentes temas como “psyop” (algo como “operações psicológicas”, que buscam influenciar e manipular comportamentos) e “guerra híbrida” (na qual os verdadeiros agentes do conflito seguem invisíveis).

Para Dal Farra, um dramaturgo que se habituou a discutir a negação em recortes e chaves mais profundos, como na trilogia Abnegação, não é demais pensar que chegamos “a um ponto em que a razoabilidade começa a se transformar em negacionismo”. E exemplifica: na Alemanha nazista, muitos se recusavam ou desconheciam a realidade macabra levada ao cabo por Hitler. “Seria necessário ser um pouco paranoico para imaginar que se estava matando pessoas em série em câmaras de gás.”

Na programação do evento, que se iniciou na terça-feira e vai até 13 de agosto, sempre às terças (debates), quintas (leituras) e uma sexta (dia 13), políticos, juristas, cientistas políticos, filósofos e jornalistas abordarão a atual militarização do poder central, que se completa com a leitura de peças políticas importantes, como Villa e Discurso, do chileno Guillermo Calderón, e As Nações Unidas, do brasileiro José Agrippino de Paula.

Em 2022, o Tablado de Arruar deve estrear o projeto Verdade. Até lá, estará envolvido em ações artísticas que discutem o tema dos militares e também o da esquerda.

Ciclo de Debates e Leituras
Grátis youtube.com/TabladodeArruar
20/7 – Debate “Guerra híbrida no Brasil”, com Marildo Menegat
22/7 – Leitura dramatizada* da fala do general Álvaro Pinheiro na Comissão Nacional da Verdade
27/7 – Debate “Comissão Nacional da Verdade”, com Pedro Dallari e Eugênia Gonzaga
29/7 – Leitura das peças Villa e Discurso, de Guillermo Calderón (Chile)
3/8 – Debate “Milícias” com Bruno Paes Manso e Chico Otávio
5/8 – Leitura do depoimento do Paulo Malhães à CNV
10/8 – Debate “Militares na política”, com Coronel Marcelo Pimentel e João Roberto Martins
12/8 – Leitura de trechos das peças Stuff Happens, de David Hare (Inglaterra) e As Nações Unidas, de José Agrippino de Paula (Brasil)
13/8, – Debate “Forças Armadas brasileiras, ontem e hoje”, com José Genoíno
* Leituras dramatizadas pelos atores e atrizes Alexandra Tavares, André Capuano, Clayton Mariano, Gabriela Elias, Lígia Oliveira. Direção: Alexandre Dal Farra

 

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