Sem alternativa, Bolsonaro promulgou as duas novas leis de fomento à cultura nesta sexta-feira, 8

Os artistas brasileiros lançaram neste sábado, 17, um abaixo-assinado pedindo que o Congresso Nacional encaminhe um processo imediato pelo impeachment de Jair Bolsonaro, responsável por “calculado genocídio” na pandemia da Covid-19. Em julho do ano passado já houvera uma iniciativa semelhante, mas a nova petição agora investe-se do sentido de urgência e oportuna pressão. Os artistas esperam que o seu pedido vá se somar aos quase 100 pedidos de impeachment que já repousam na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira, e ajude a sensibilizar os parlamentares para a gravidade da ação governamental num dos momentos mais críticos da história brasileira. “Vivemos sob a tutela de um governo criminoso que, por diligência engendrada, causa um número muito superior de mortes do que seria previsto se houvesse uma condução correta desta crise sanitária”, diz o texto.

Segundo inúmeros relatórios e reportagens já divulgaram, o governo de Jair Bolsonaro deixou de comprar pelo menos 500 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus, além de ter contribuído para que se perdessem milhões de testes para detectar a contaminação, não ter comprado seringas para aplicação da vacina, ter investido milhões em remédios notoriamente ineficazes, ter boicotado a Coronavac por motivos políticos, não ter coordenado a ação nacional contra a Covid-19, ter feito pouco caso de cuidados sanitários básicos, como o uso de máscara e o isolamento, ter mantido hostilidade diplomática contra países que poderiam fornecer insumos para a produção de vacinas, entre outras milhares de ações de boicote explícito. À frente desse rol de barbaridades, esteve sempre o próprio presidente da República.

Entre os primeiros signatários do documento “Artistas pelo Impeachment” estão Chico Buarque, José Celso Martinez Correa, Ivan Lins, Chico César, Bia Lessa, Cláudia Abreu, Debora Bloch, Felipe Hirsh, Gregorio Duvivier, Antonio Pitanga, entre outra centena de pessoas de diversas áreas – da música, do teatro, do cinema, das artes visuais, etc.

“A forma com que o governo tem conduzido a crise sanitária é motivo mais do que suficiente para um pedido de impeachment, mas não é a única questão que nos leva a isto, são muitas as ações anti republicanas do atual mandatário que também devem ser levadas em consideração. A atual condução da política econômica tem levado milhões de pessoas em estado de vulnerabilidade a buscar formas de sobrevivência nas ruas, sendo expostos à pandemia de forma cruel. E explicitando a política de governo que os têm como pessoas descartáveis”.

Leia abaixo o documento que deve ser divulgado amanhã e alguns dos signatários até o começo da tarde:

ARTISTAS PELO IMPEACHMENT

Quando o barco Titanic afundou, em 1912, foram perdidas 1.500 vidas numa única noite. A catástrofe, por suas gigantescas dimensões, é lembrada até hoje. Os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2011, extinguiram, em um único dia, 2.996 vidas, catástrofes de repercussão mundial.

No Brasil, atualmente, acontecem catástrofes diárias de maior mortalidade, mas estranhamente temos isto naturalizado. Se pudessem ser enfileirados em linha reta, os mortos da pandemia no Brasil formariam um inacreditável corredor capaz de cobrir uma vez e meia a distância entre a Terra e a Lua.

Estamos no epicentro mundial da Pandemia e em progressão clara, os números do mês de abril ultrapassaram todas as métricas mundiais e a tendência é de piora no quadro. Todos os dias, um país que afunda, desaba. Um país que morre sufocado.

O comandante deste barco que afunda cada vez mais rápido e que segue em direção aos recifes tem nome e sobrenome conhecidos: ele se chama Jair Messias Bolsonaro.

Existem diversas medidas que poderiam ter sido tomadas para reduzir o número de mortes, mas não foram tomadas, pelo contrário, o descaso e a negação às conquistas científicas são incentivados e com isto aumentando o número de perdas humanas. Ou seja, vivemos sob a tutela de um governo criminoso que, por diligência engendrada causa um número muito superior de mortes do que seria previsto se houvesse uma condução correta desta crise sanitária.

E a pergunta que é feita todos os dias por milhares de Brasileiros, estarrecidos com as perdas diárias, que já somam mais óbitos que nascimentos entre o nosso povo é: O que se espera? Afinal, o que estamos esperando? O Brasil tem instrumentos para começar a estancar esta mortandade de imediato. Na atual tragédia, há um remédio mais potente e eficaz que a vacina: o impeachment! Já enfrentamos diversas lutas inomináveis na nossa história. Vencemos várias através de um instrumento único e fundamental: a participação popular através da democracia.

A forma com que o governo tem conduzido a crise sanitária é motivo mais do que suficiente para um pedido de impeachment, mas não é a única questão que nos leva a isto, são muitas as ações anti republicanas do atual mandatário que também devem ser levadas em consideração. A atual condução da política econômica tem levado milhões de pessoas em estado de vulnerabilidade a buscar formas de sobrevivência nas ruas, sendo expostos a pandemia de forma cruel. E explicitando a política de governo que os tem como pessoas descartáveis.

A democracia hoje não é uma abstração, é uma afirmação da cidadania e uma convocação à vida. O Congresso Nacional tem em seu poder mais de cem processos de impeachment aguardando apreciação. Nós convidamos a nação brasileira a um pleito único, urgente e fundamental para que tenhamos a possibilidade de enxergar um futuro através da discussão pública e ampla do processo de impugnação do atual mandato da presidência da república.

O presidente da Câmara e os congressistas têm que colocar em discussão imediata o assunto, já que vivemos em um regime democrático e este é o desejo maior de grande parte da sociedade brasileira.

Não podemos mais assistir impassíveis a essas manobras macabras e irresponsáveis, que nos fazem perder, diariamente, milhares de vidas humanas para a Covid-19, através de calculado genocídio. Isto posto, nós infra-assinados, nos juntamos  a todos os pedidos de impeachment ora em tramitação no Congresso Nacional. Na certeza de que a representação legislativa cumpra a vontade popular;

 

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro…” Belchior

 

Assinam esta carta:

 

Ailton Graça                Ator

Aline Fanju                    Atriz

Amir Haddad                Encenador

Ana Kfouri                     Atriz e Encenadora

Andrea Beltrão                Atriz

Angelo Antônio                Ator

Antônio Pitanga                Ator

Arícia Mess                    Cantora e Compositora

Augusto Madeira                Ator

Bel Teixeira                    Atriz

Bia Lessa                     Atriz e Encenadora

Caetano Gotardo                Cineasta

Camila Márdila                Atriz

Cecília Boal                    Presidente do Instituto Augusto Boal

Chico Buarque de Hollanda        Cantor, Compositor e Escritor

Chico César                    Cantor e Compositor

Cibele Santa Cruz                Diretora de Elenco

Cláudia Abreu                Atriz

Claudia Missura                Atriz

Claudio Mendes                 Ator

Claudius Ceccon                Cartunista

Clarissa Kiste                Atriz

Débora Duboc                Atriz

Débora Bloch                Atriz

Débora Lamm                Atriz e Encenadora

Ellen Oléria                    Cantora

Emilio de Mello                Ator e Encenador

Enrique Diaz                Ator e Encenador

Eric Nepomuceno                Escritor

Fabiana Winits                Diretora de TV

Felipe Hirsch                Encenador

Felipe Rocha                Ator e Encenador

Fellipe Barbosa                Cineasta

Fernando Bonassi                 Escritor

Francis Hime                Compositor e Músico

Gregório Duvivier                Escritor e Ator

Guilherme Weber                Ator e Encenador

Gustavo Vinagre                Cineasta

Heloisa Passos                Cineasta

Inez Viana                    Atriz e Encenadora

Ivan Lins                    Cantor e Compositor

Jefferson Miranda                Encenador

José Celso Martinez Corrêa        Ator e Encenador
Julia Lemmertz                Atriz

Letícia Sabatella                Atriz

Leonardo Netto                Ator, Dramaturgo e Encenador

Letícia Lima                  Atriz

Liniker                    Cantora

Luciano Chirolli                Ator e Encenador

Luís Miranda                Ator
Luiz Henrique Nogueira            Ator

Malu Galli                     Atriz

Marcelo Drummond            Ator e Encenador

Márcio Abreu                Ator e Encenador

Marco Ricca                    Ator

Maria Luisa Mendonça            Atriz

Maria Rita Kehl                Escritora e Psicanalista

Marianna Lima                Cantora Lírica

Mariza Leão.                                           Produtora audiovisual

Maurício Farias                Diretor de TV

Matheus Nachtergaele            Ator

Miwa Yanaguizawa            Atriz e Encenadora

Monica Iozzi                 Atriz

Olivia Hime                    Cantora

Osmar Prado                Ator

Otávio Muller                Ator

Otto Jr                    Ator

Roberto Lage                Encenador

Paulo Betti                    Ator

Paschoal da Conceição            Ator

Rodolfo Vaz                    Ator

Rubens Rewald                Cineasta

Ruy Guerra.                                            Cineasta

 

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5 COMENTÁRIOS

  1. É importante que algumas vozes da classe artística se posicionem. Porém, é essencial que este seja um movimento de massa da
    classe artística e de todos os(as) trabalhadores(as) do campo artístico, público e privado; não apenas individualmente, mas nos seus coletivos, sindicatos e associações.

    Romper com o governo autoritário e neofascista é a única saída, sem qualquer tipo de concessão ou justificativa furtiva ou oportunista.

    Talvez seja preciso relembrar que, nos anos da ditadura militar, houve inicialmente uma convivência relativamente pacífica entre artostias e regime autoritário, até surgir uma segunda fase, quando o discurso dos artistas começou a influenciar estudantes e a classe trabalhadora, concorrendo com o endurecimento do regime, a censura e a perseguição posterior ao AI-5. No decorrer do anos 70, emerge uma
    terceira fase, durante a distensão, marcada pela tentativa de cooptar, através de fomento, algum silêncio de certos artistas, como demonstra Flora Sussekeind.
    Em magistral ensaio, publicado há pouco mais de um ano, J. P. Cuenca afirmava que “o que vemos e veremos no Brasil no primeiro mandato deste presidente abertamente fascista é uma mistura destes três tempos: permissividade (até que as vozes críticas ofereçam real ameaça), censura (principalmente econômica) e, finalmente, cooptação.”

    A previsão se concretizou com boa parte da domesticação das entidades associativas e de classe, especialmente aquelas voltadas
    a representação de produtores de eventos, espetáculos e audiovisual, sob a desculpa do diálogo que, de fato, esconde interesses econômicos.

    Não há conciliação e diálogo com um governo que vem sendo acusado de desprezo à vida; de governar por conflitos; de vilipendiar direitos fundamentais e que se tornou um pária internacional. Até parte do pensamento militar e conservador passou a execrar a sua cria.

    Assim, é o momento dos sindicatos e associações de produtores do audiovisual, teatro, eventos e assemlhados largarem a sua posição de apenso ao regime e romper com essa passividade. O “diálogo” deverá se dar nas lutas sociais, na batalha das narrativas e parlamentar; na derrubada deste (des)governo. Devem, na sua condição privilegiada, se somar as vozes individuais que se levantam.

    No mesmo sentido, vimos pouquíssimos quadros da burocracia estatal da cultura pedirem exoneração. Não se iludam: o diário oficial sempre será um registro da sua adesão ao regime, seja ativa, por nomeação, seja passiva, por permanência. Se exonerar, romper, é a única saída, integrando a corrente de protesto. Não precisa se exonerar do cargo efetivo; precisa se exonerar do cargo ou função comissionada, passando a ser um elemento de combate e resistência interna, denunciando e promovendo obstáculos ao desmonte dos instrumentos do sistema nacional de cultura; combatendo o dirigismo.

    Na Alemanha nos anos 30, o regime favorecia financeiramente grupos e indivíduos que estavam alinhados com as ideias políticas
    do governo nazista. O mesmo aconteceu na Alemanha Oriental e nos países do leste europeu durante os regimes ditatoriais comunistas. de linha stalinista. Em todos os casos, sem exceção, aqueles que contribuiram com os regimes foram posteriormente identificados e execrados como colaboracionistas.

    Então, caro(a) burocrata estatal, servidor público, artista ou dirigente domesticado de entidade da classe artística, não se iluda: se este governo for considerado incompetente, genocida e fascista, você também será.

    Levante-se! Lute!

  2. Com muito pesar vejo que a Ivete Sangalo não assina e nem participa desse movimento. Novamente se esquivando e passando pano , será que é devido a falta de dinheiro 💸 ou tem muitos carnês vencendo ? Ou concorda com a política de governo e saúde do Bolsonaro? Uma formadora de opinião como ela não pode ficar se escondendo, respeito muito mais o Zezé de Camargo que apóia o governo mesmo não concordar do que aquela que fica na sombra passando pano. Nem mesmo a morte de mais de 400.000 pessoas dentre elas o Paulo Gustavo… Decepcionante.

  3. Eu me envergonho como Baiana, de ver artistas Baianos como Ivete Sangalo calar-se e não se posicionar com o argumento que não faz “politicagem”, isso deve ter nome “patrocinadores”. Hoje deixo de segui-la em todas as redes sociais porque pra mim cidadã ela e todos os artistas que se omitem ao caos que o país está vivendo não merecem minha audiência.

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