O supergrupo Buena Vista Social Club no Carnegie Hall. Foto: Ebet Roberts/ Divulgação
O supergrupo Buena Vista Social Club no Carnegie Hall. Foto: Ebet Roberts/ Divulgação

Em 1996 eu era um adolescente que ainda vivia sob a barra da saia de minha mãe, separada de meu pai desde que eu tinha 10 anos de idade. Com a separação, fomos morar no Centro de São Luís, próximo de sebos que então comecei a frequentar, hábito que mantenho até hoje. Já tinha interesse por música, de modo geral, e acredito mesmo que já se insinuava em mim, desde àquela época, a vontade de ser jornalista e, mais especificamente, de trabalhar com jornalismo cultural, visto serem estas as minhas seções preferidas entre as publicações impressas a que eu tinha acesso: passados alguns anos, ainda hoje abro jornais e revistas pelas páginas de cultura, tendo ao longo do tempo, atuado em algumas redações.

Cuba e a capital maranhense, duas ilhas, foram musicalmente aproximadas na letra de “São Luís-Havana”, parceria tripla do poeta Celso Borges com o casal Criolina, Alê Muniz e Luciana Simões, música lançada pelo duo com participação especial do parceiro, em seu segundo disco, “Cine tropical” (2009), cujo conceito é imaginar gêneros cinematográficos através da música. Na faixa-documentário “São Luís-Havana” desfilam paisagens e personagens de ambas as ilhas.

Compay Segundo e Ry Cooder. Foto: Nick Gold/ Divulgação
Compay Segundo e Ry Cooder. Foto: Nick Gold/ Divulgação

Lembro-me disso tudo por que só fui tomar conhecimento do monumental “Buena Vista Social Club” (1996), o disco, através do documentário homônimo de Win Wenders, lançado em 1999, que chegou ao Brasil e foi indicado ao Oscar no ano seguinte. Eu já não era mais um adolescente e, embora já trabalhasse, ainda vivia sob a barra da saia da genitora, com quem muito me embriaguei ao som de “Chan chan” e “De camino a la vereda”, entre outras pérolas registradas pela velha guarda de ouro da música cubana. Durante muito tempo, cheguei mesmo a acreditar que o guitarrista Ry Cooder, o produtor do álbum, fosse cubano – e aqui é preciso dar um desconto, pois o acesso a internet era discado e horas navegando só eram possíveis após a meia-noite, quando se pagava pulso único, mas essa é uma outra história. Numa dessas farras regadas a boleros, sones e guajiras, um amigo tomou o disco emprestado. E perdeu. Perdoei. E comprei outro. Que nunca mais emprestei.

Buena Vista Social Club - 25th Anniversary Reissue. Capa. Reprodução
Buena Vista Social Club – 25th Anniversary Reissue. Capa. Reprodução

Gravado nos Estudios de Grabación Egrem, em Havana, o disco – e o documentário dirigido por Win Wenders – deu palcos mundo afora e merecido reconhecimento internacional a nomes como Compay Segundo, Eliades Ochoa, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Rubén González, entre outros, e terá reedição especial remasterizada, com faixas inéditas, para celebrar seus 25 anos. O álbum duplo “Buena Vista Social Club – 25th Anniversary Reissue” tem lançamento previsto pela BMG para setembro. A remasterização ficou a cargo de Bernie Grundman (Michael Jackson, Prince, Tupac e Outkast, entre outros). O primeiro disco traz as 14 faixas do disco original remasterizadas; o segundo, 19 faixas entre takes alternativos e gravações inéditas.

“O “Buena Vista Social Club” reuniu grandes músicos da época de ouro da música cubana e levou a nossa música tradicional para o resto do mundo. Além disso, me permitiu ser reconhecido internacionalmente pelos sones, guarachas e boleros que fazia desde jovem. Também me fez reconectar com músicos que eu admirava e com sua grande experiência. “Buena Vista” nos uniu através da música, e éramos uma família bem administrada. Neste 25º aniversário, iremos recordar com merecido orgulho aquelas grandes lendas que sempre estarão presentes entre nós. Celebraremos com alegria o legado do “Buena Vista Social Club” e a tradicional música cubana”, relembra Eliades Ochoa no material de divulgação distribuído à imprensa.

Ibrahim Ferrer, Eliades Ochoa, Compay Segundo e Puntillita Licea. Foto: Susan Titelman/ Divulgação
Ibrahim Ferrer, Eliades Ochoa, Compay Segundo e Puntillita Licea. Foto: Susan Titelman/ Divulgação

Ele canta em dueto com Compay Segundo, autor da música, a gravação inédita de “Vicenta”, uma das pérolas que ficou de fora do disco de 1996. O primeiro single da reedição, já disponível nas plataformas de streaming, conta a história de um incêndio, que em abril de 1909, destruiu quase completamente a vila de La Maya, próximo à Santiago de Cuba, onde Ochoa nasceu e passou boa parte da vida, entre plantações de banana, cacau e café.

Incêndios também aproximam as duas ilhas: a história de “Vicenta” me faz pensar imediatamente no Maria Celeste, navio que, em março de 1954, naufragou após um incêndio nas proximidades da Avenida Beira-Mar e do qual Mestre Apolônio Melônio, estivador que viria a fundar o Boi da Floresta, personagem citado na letra de “São Luís-Havana”, conseguiu se salvar nadando até o cais.

A quem ouviu e/ou viu “Buena Vista Social Club” ou (uma nova chance) a quem não: tenho certeza que seu repertório caliente incendiará os corações daqueles que apreciam boa música. Exatamente como aconteceu com aquele moleque recém-saído da adolescência que, quem diria, hoje escreve sobre os 25 anos de um disco que fez – e ainda faz – sua cabeça.

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Ouça “Vicenta”:

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