Res Publica 2023, do grupo A Motosserra Perfumada, virou motivo de disputa no campo dos conservadores. O diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, o neobolsonarista Roberto Alvim, censurou a apresentação da peça, que faz uma discussão sobre a ditadura civil-militar. Como reação, o prefeito Bruno Covas autorizou uma temporada da montagem no Centro Cultural São Paulo (CCSP) entre 11 de outubro a 10 de novembro. “Com essa atitude, a Prefeitura de São Paulo reafirma que condena e combate veementemente qualquer tipo de censura, defendendo o direito de livre expressão artística”, afirmou, em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura.
O nome da peça é uma alusão à expressão latina “res pública”, que significa “coisa do povo”. Mas, segundo o diretor pernambucano Biagio Pecorelli, tem a ver também com o jogo de palavra que se estabelece entre o bairro do centro, bastante habitada por travestis, imigrantes e viciados, e o livro A República. Nesta obra, Platão confronta um ideal de cidade, na qual existe o sonho de uma vida fraterna, com o que a realidade dura impõe.
A peça é ambientada em 2023, na qual cinco amigos dividem uma república no centro da cidade e vão construindo uma trincheira dentro da casa. Nesse futuro-presente, um movimento nacionalista e “patrióticos” chamado Anaconda Brazil ocupa as ruas do País, perseguindo mulheres, negros, gays, travestis e artistas.
O texto foi escrito por Pecorelli e os músicos cearenses Jonnata Doll e Edson Van Gogh, da banda Jonnata Doll e Os Garotos Solventes. Os músicos foram acolhidos por Pecorelli, quando chegaram a São Paulo, no bairro da República. Durante a temporada numa kitnet, Jonnata Doll compôs músicas que foram integradas à montagem teatral.