Odair José apresenta o disco O Filho de José e Maria, uma ópera-rock no Teatro Municipal

A Virada Cultural começou às 18 horas de sábado, para muitos fãs de Odair José às 20 horas, quando iniciaram as distribuições de senha para a atração, e para o produtor musical Michel Plácido ganhou significado maior à 1h45 de domingo. Foi nesse horário que Plácido saiu do Teatro Municipal feliz da vida depois de ver a apresentação do ídolo. A alegria tinha menos a ver com o show (“Teve problemas de som, né?”, comentou) e tudo com o autógrafo do ídolo em seu disco vinil O Filho de José e Maria (1977), uma raridade entre colecionadores.

Michel Plácido, fã de Odair José
Plácido conheceu o disco há três anos. Primeiro baixou pela internet, gostou e foi garimpar nos sebos. Só encontrou o exemplar autografado agora por Odair José de uma fã carioca, que vendia o disco pela internet. O produtor musical tem uma coleção de 200 discos raros, incluindo O Filho de José e Maria. “O álbum tem muito a ver com a perseguição religiosa dos dias de hoje”, explicou Plácido. “Ele foi muito criticado pela Igreja Católica com as músicas desse disco.”

Odair José começou a cantar aos 33 minutos de domingo. O Teatro Municipal estava lotado. A execução de um bis fora do previsto, com “A Noite Mais Linda do Mundo (A Felicidade”), indicou que a plateia era formada por fãs do cantor “brega” e, provavelmente, não do disco renegado à época pelo público católico. Espécie de disco maldito do artista popular, O Filho de José e Maria foi sua obra mais conceitual, uma ópera-rock que finalmente encontrou seu palco ideal na Virada Cultural.

“Convido a todos nessa noite a serem filhos de José e Maria”, disse logo no início do show. Era o cantor cada vez mais reconhecido e valorizado pelo conjunto de sua obra procurando fazer as pazes com uma parte singular de sua carreira. Em maio de 1977, o álbum chegou ao mercado e foi logo rechaçado pela Igreja. A ópera-rock conta a história de um jovem homossexual, filho de José e Maria que o conceberam antes mesmo de serem casados. Esse jovem só vem a conhecer a felicidade quando assume a sexualidade aos 33 anos.

Da noite para o dia, um dos maiores vendedores de disco dos anos 1970 saiu da programação das rádios, seu disco ficou encalhado nas lojas. O cantor teve também problemas com a censura e com a Igreja, que o ameaçou de excomunhão. Nem mesmo a escalação de um time de músicos de primeira, como Hyldon, Jaime Alem e Don Charley, que produziram ousados arranjos, reduziu a rejeição ao álbum.

Na noite de ontem, a plateia ouviu respeitosamente Odair José. Aplaudiu o artista quando ele tentou explicar sua concepção sobre a origem da vida. “Sempre acreditei que o Universo todo está no corpo de Deus. De vez em quando ele sai desse corpo, sai eu, você, a banda, o cachorro. Sai um e volta outro.” Aceitaram o fato de sermos, afinal, filhos de José e Maria.

Depois do bis, Michel Plácido tentou, timidamente, mostrar o álbum para o seu ídolo. Sentado na primeira fila do Municipal, ele era incentivado pelos outros fãs a gritar mais alto, pular no palco e mostrar o vinil para obter o sonhado autógrafo. Não teve jeito, Odair José não percebeu seus apelos. Mas a mulher do cantor, duas fileiras atrás, viu toda a movimentação e disse que daria um jeito. Minutos depois, O Filho de José e Maria voltava autografado. Para Plácido, essa Virada jamais será esquecida.

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