A revista norte-americana de música Billboard celebra Gusttavo Lima e busca explicar os porquês de o pop acaipirado dos interiores do Brasil ter virado um fenômeno planetário.

A revista norte-americana Billboard , devotada ao mercado musical, colocou em palavras resumidas, em reportagem publicada na quarta-feira 27 de junho, aquilo que os brasileiros que não estamos surdos já sabemos há meses: nossa música de matriz interiorana, dita “sertaneja”, rompeu fronteiras pela primeira vez em sua história e reflete, hoje, um fenômeno planetário em curso.

FAROFAFÁ, que há tempos vem batendo nessas teclas, tem a honra de traduzir e reproduzir um pouco do modo como nossa ex-matriz está nos interpretando. Sim, estamos falando de fenômenos transnacionais de mercado, de lucro – mas isso não impede (por que impediria?, por que impediu por tantos séculos?) que nós, plebeus brasileiros, nos orgulhemos de nós mesmos. Impede?

 

A ascensão da Brazilian Sertaneja Music, de Michel Teló a Gusttavo Lima

por Leila Cobo (@leilacobo), de Miami

 

Parece uma impossibilidade estatística. Mas seis meses após “Ai se Eu Te Pego”, de Michel Teló, liderar as paradas radiofônicas e digitais europeias e sul-americanas, outra canção brasileira – em português – está escalando aquelas mesmas paradas.

Desta vez, é “Balada”, de Gusttavo Lima, outra canção sertaneja – o equivalente brasileiro da country music -, ainda mais sedutora que a de Teló. Acompanhada por acordeon e também legitimada por jogadores brasileiros populares de futebol – principalmente Neymar -, está em 19º lugar nas paradas Euro Digital Tracks e Euro Digital Songs desta semana. É também número 1 na parada digital da Itália e da Holanda, número 2 na Suiça e na Bélgica, número 3 em Luxemburgo e França (onde estava em primeiro no início do mês) e número 6 na Áustria.

Gusttavo Lima no Villa Country, em São Paulo - Foto Gilson Medeiros

“‘Ai se Eu Te Pego’ se tornou um sucesso tão gigantesco que foi inevitável que as pessoas ficassem curiosas a respeito de outras canções semelhantes”, diz Marcelo Soares, presidente do selo indie Som Livre (nota de FAROFAFÁ: é curioso, no mínimo, que a Billboard considere “indie” a gravadora da Rede Globo), do qual Lima e Teló são contratados. “Esse interesse veio dos selos para os quais estávamos licenciando música, mas também do público em geral, que começou a procurar por novas canções no YouTube.”

Apesar de Teló e Lima cantarem sertanejo – um gênero que até poucos anos atrás era desprezado por fãs de música pop -, sua música é “pop friendly” e dançante o suficiente para que Soares o rotule como um novo tipo de pop brasileiro, ou B-pop, como ele chama. O gênero “tem criado hits tão poderosos que os fãs ao redor do mundo nunca se decepcionem na procura”, diz.

“Ai se Eu Te Pego” e “Balada” foram lançadas quase ao mesmo tempo, no ano passado, e ambas se tornaram grandes sucessos no Brasil e na Argentina. No YouTube, há múltiplos vídeos de “Balada”, que ultrapassam facilmente 100 milhões de visitas, incluindo uma versão colocada no site de Lima, há cerca de um ano, que foi assistida mais de 31 milhões de vezes, e uma com Lima e Neymar apresentando-a juntos, ao vivo.

Segunto Soares, mais que a conexão Neymar, “a conexão do futebol como um todo tem sido importante para ajudar a difundiar os hits mais velozmente ao redor do mundo. Mas, de novo, isso não teria nenhum efeito se as canções não fossem grandes hits por natureza”.

“Balada” é ainda mais chamativa que “Ai se Eu Te Pego”, e seu refrão de “tchê tchererê, Gusttavo Lima e você”, pontuado por movimentos pélvicos, faz dela não apenas memorável, mas também promove efetivamente Lima, que a escreveu sozinho (“Ai se Eu Te Pego” é um cover) e a incluiu no último minuto em seu DVD e CD ao vivo.

Aqui nos Estados Unidos, a canção entrou nas paradas de pop latino nesta semana em 36º lugar, auxiliada por um remix com o duo “urban” Dyland & Lenny.

“Eu honestamente penso que ela vai escalar o Top 10 em um mês”, diz Nir Seroussi, diretor geral da Sony Music Latin, que também licencia Teló nos Estados Unidos e produziu o remix de “Ai se Eu Te Pego” com Pitbull, que ajudou a promover a canção aqui. “Aquela canção ficou cozinhando por um tempo.”

Munhoz & Mariano, uma das próximas apostas sertanejas da Som Livre

E há outras a caminho, segundo Soares. Incluem “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tchá”, da dupla sertaneja João Lucas & Marcelo, uma faixa na qual Neymar se envolveu em outro nível: ele aparece no clipe oficial. O vídeo original ao vivo no YouTube tem 12 milhões de visitas, enquanto o vídeo com Neymar tem 4,8 milhões, 90% dos quais, segundo Soares, vindas dos Estados Unidos nos dias antes do jogo entre Brasil e Argentina em Nova Jersey.

Também vem aí “Le Le Le”, de João Neto & Frederico, e, mais recentemente, “Camaro Amarelo”, de Munhoz & Mariano, com mais de 5 milhões de visitas após um mês no YouTube.

Leia o que já saiu em FAROFAFÁ
≡ É o amor!
≡ ‘Ai Se Eu Te Pego’

Siga o FAROFAFÁ no Twitter
Conheça nossa página no Facebook

PUBLICIDADE

3 COMENTÁRIOS

  1. Sou de uma geração que via a música sertaneja como algo de periferia e de gente peba, sem cultura. Música sertaneja só tocava de madrugada. Na televisão o espaço era quase inexistente, até que em 1986 isso começou a mudar nacionalmente por conta da Rede Globo, a mais penetrante rede de televisão brasileira. A MPB deixou de ser a bola da vez e os shows milionários são realizados por artistas da área sertaneja. Que fenômeno é esse? Certamente pessoas da década de 20, 30 questionaram quando de repente surge uma onda e desbanca o que estava ali quase que para sempre estabelecido.Não quero falar aqui sobre qualidade musical, pois acho esse discurso vazio e preconceituoso, mas pelo que vejo a juventude de hoje está mais para o sertanejo do que para a MPB ou a música pop. Os maiores cachês hoje estão concentrados nas mãos dos artistas sertanejos. Se dependesse de mim a situação desses artistas seria difícil pois não curto o gênero, nunca fui a um show de artista sertanejo e jamais tive nem tenho em minha coleção de Cds um artista do gênero.Por que parâmetros analisar esse fato? No tempo da ditadura a onda era MPB e rock nacional e artistas nordestinos. Será que a mudança está associada à mudança de regime ou será que o tipo de música ovacionada na época da ditadura era a música da hora exatamente por ser um canal de contestação utilizado pela juventude da época? Poderia aqui expor várias perguntas em relação a isso.Eu não tenho as respostas. Músicas consideradas lixo sempre existiram, mas comercialmente deram muito dinheiro para as gravadoras, assim como acontece hoje. Mas pera ai, que parâmetro é o correto, o certo, o legal para determinar se a música é um lixo ou não? A elite jovem brasileira está curtindo adoidada o sertanejo, o forrózão, os tcha, os tchu . Fiz uma pequena pesquisa e perguntei para cerca de 700 jovens com idade entre 15 e 21 anos sobre se eles´já ouviramalguma vez a música de Alceu Valença, Milton Nascimento, Caetano, Gil ou Tom Jobim e 90% das respostas foi ~: Não ; os outros 10% disseram conheço sim, meus pais ouvem lá em casa.
    Quero mesmo saber que fenômeno é esse.

    • Senô, faço minhas as suas palavras – as dúvidas inclusive. Só demarco uma diferença: lá no meu Paraná a gente dizia “reba”, e não “peba”… 🙂

      Qual é a tua profissão, hein? Não gostaria de publicar algo no FAROFAFÁ, nessa linha de refletir e buscar respostas sobre essa troca de guarda entre rock/MPB e sertanejo(/axé/pagode) que a gente viveu-vive(-viverá?)? Seria bacaníssimo, hein? 😉

  2. O Setanejo pra ser nacionalmente aceito tiveram que copiar a música popular romântica(vide xororó e zezé)e agora pra ser internacionalmente aceito tiveram que emular a música pop(vide Teló e Gustavo lima).O Sertanejo autêntico foi ficando cada vez mais distante.Quando eu era bem jovem quem ouvia música caipira eram pessoas velhíssima e/ou cafoníssimas,ou folcloristas por obrigação sociológica(uma raridade e um luxo né).

DEIXE UMA REPOSTA

Por favor, deixe seu comentário
Por favor, entre seu nome