Flyer da Festa do Peão de Ouroeste, em São Paulo, em setembro

A prefeitura de Ouroeste, cidade paulista de 8 mil habitantes a 600 km da capital, São Paulo, contratou sem licitação shows que consumiram 650 mil reais dos cofres públicos para a Festa do Peão da cidade, de 7 a 10 de setembro. O cantor sertanejo Eduardo Costa foi contratado por 290 mil reais para se apresentar uma noite na cidade. Recentemente, o prefeito de Ouroeste, Alex Sakata, do Progressistas (PP), alegando a situação frágil do erário municipal, cortou o transporte coletivo gratuito feito por vans entre sua cidade e outras vizinhas, como Fernandópolis, Votuporanga e Rio Preto, serviço que custava cerca de 250 mil reais por ano (1 milhão em quatro anos).

Outros artistas sertanejos contratados para a festa de Ouroeste, como Di Paullo e Paulino e Cezar e Paulinho, receberão cachês entre 120 mil reais e 145 mil reais. Para fins de comparação, um dos maiores cachês da Virada Cultural de São Paulo em 2022 foi de 222 mil reais (para show da cantora Ludmilla), e foi objeto de contestação pelo Ministério Público de São Paulo (acionado, o Tribunal de Justiça de São Paulo manteve o valor do cachê, considerado de mercado). Os Barões da Pisadinha receberam 300 mil reais naquela Virada.

Em maio, a cidade de Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco, decidiu cancelar as contratações de apresentações musicais de alto custo envolvendo dois artistas. Um deles era o sertanejo Eduardo Costa, contratado por R$ 380 mil para se apresentar na Festa da Rapadura na cidade. A pedido da procuradora Germana Laureano, do Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPC-PE), a Prefeitura teria decidido cancelar os contratos.

Em abril, o cantor Eduardo Costa, em entrevista, atribuiu parte de seus problemas recentes ao fato de ter sido apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro em suas empreitadas públicas. As pessoas tiveram antipatia por mim. Se eu pudesse voltar, jamais falaria disso. Eu acho que fui um pouco babaca, sabia? Que babaquice me envolver nisso. Não me arrependo de nada, mas da política eu me arrependo”.

Os cachês milionários pagos para artistas da música sertaneja começaram a vir à tona após a revelação de que o cantor Gusttavo Lima, também apoiador de Bolsonaro, estava recebendo milhões para shows em cidades sem infra-estrutura, sem escolas e até sem asfalto e rede de esgoto. Começaram os cancelamentos, a maior parte deles devido a ações na Justiça. No Congresso Nacional, chegou-se a falar em abrir uma CPI do Sertanejo, para apurar tais pagamentos – é dinheiro público, e seu uso abusivo pode eventualmente tirar investimentos de áreas sensíveis de municípios pobres.

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