tenho cá comigo uma pequena coleção de trechos que me causaram impacto no livro “entrevistas bondinho” (azougue), um apanhado das entrevistas musicais e teatrais que o jornal (“underground”? “indie”? independente?) praticou lá nos passados de 1972. já salpiquei aqui uma intervenção do rogério duprat, mas tem mais, muito mais.

de cara(s & bocas), uma de março de 1972, com maria bethânia, desabalada e muuuuuito diferente da senhora reservada de hoje em dia:

“Eu sou muito esquisita. Eu já tentei o suicídio uma vez. Inclusive eu lembro que quando eu tentei me matar, no momento, eu pedia muito perdão, sabe? Porque não é legal. Mas eu tava descontrolada, muito nervosa. Era amor, era uma porção de coisas. Eu não fazia nada, ficava sentada dentro de casa, não queria trabalhar, não queria fazer nada. Ficava tomando vinho. Não falava com ninguém, não via ninguém, não lembrava de comer, esquecia de comer… magra, arrasada, abatida. Não sabia quando era dia, quando era noite. Não sabia nada. Só queria curtir minha cabeça. Escrevia, escrevia, escrevia, feito uma doida. Cartas, contos, letra de música, desenhava muito. Minha casa ficando cada vez mais desarrumada, porqeu eu não arrumava, ficando… Tava uma loucura e um dia eu resolvi sair. Me vesti e fui pra rua. Fiquei andando sozinha. As pessoas me olhavam assim, eu olhava pras pessoas, as pessoas falavam comigo. Não achei graça em nada, Aí eu disse: ‘Ah, vou me matar. Não tenho nada que fazer mesmo’. Fui pra casa e tomei uns comprimidos. Mas um amigo meu entrou lá em casa e me pegou. Agora eu amo esse amigo. Foi daí que eu passei a fazer análise. Foi maravilhoso. Durou só dois anos porque eu fugi. Eu queria saber uma coisa, quando soube me mandei. Eu tô pensando em voltar. Agora eu quero saber uma outra coisa. Meu psicanalista é a paixão da minha vida. Ah, mas que homem maravilhoso, lindo. Ah, esse homem é um amor”.

hum, a bethânia se suicida e o caetano é quem sonha que está “caindo” do pé de araçá azul?, sei, sei, sei…

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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