e agora, sras. e srs., a versão integral, quase literal, da entrevista que deu origem ao texto na “carta capital”, “lulu, o popstar”. serve para eu, tu, nós, vós, eles examinarmos como pode ser tensa, delicada, divertida, constangida, prazerosa uma entrevista com sua excelência, o pop star.
e uma ou outra intervençãozinha em [colchetes negritados] por parte do autor (da entrevista) vão bem e não fazem mal a ninguém, certo? para que a viagem não cause náusea, enjôo ou tédio, sugiro aos companheiros de bordo especial (e divertida) atenção às pequenas ironias, contradições, desnudamentos, constrangimentos, sufocos, sorrisos, carrancas, farpas, mesuras, duelinhos, música para nossos ouvidos, enfim.
o cenário é o hotel hilton da região dos brooklins paulistanos, a cafonice hoteleira, o saguão, a mesa rococó do restaurante, dois assessores (da gravadora e do artista), um cafezinho, um gravador…
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pedro alexandre sanches – gal costa lançou um disco chamado “hoje”, os paralamas do sucesso lançaram um disco chamado “hoje”, você lançou uma canção chamada “roleta” que fala “hoje acordei duvidando que o futuro vai mesmo nos endireitar, porque, no duro, tudo depende de hoje o que a gente faz”, que parece um ataque ao futuro em favor do presente, do hoje. por que a música brasileira anda falando tanto no hoje?
lulu santos – no meu caso, acho que dialoga um pouco com “eu vejo a vida melhor no futuro”. o fecho, por exemplo, quando diz “a roleta vai girar”, é um mote que peguei da minha declaração para o “jornal da globo” por ocasião do assalto que sofri, quando o cara me perguntou: “e aí, lulu, como é que você está?”. falei: “bom, é roleta, meu, foi a minha vez”. eu estava incaracteristicamente cuidadoso com o acabamento dessa letra em particular. ela tinha um momento que era bacana, que originalmente dizia que “se cabral perdesse o rumo no mar descobriria o japão, acho que não, não tenho certeza se era melhor”. mas aí ela ficava tão lá fora que eu dei uma… ao mesmo tempo é parlapatância, a boca que não pára de mexer. a boca não pára de mexer o que está vendo, o que está sentindo.
pas – no release, [o jornalista] tárik de souza trata essa letra como cética, mas ela não é mais no espírito de “viva o presente”, em vez de esperar que “o futuro nos endireite”?
ls – é mais realista. possivelmente. essa é sua leitura, sabe como é que é? disco serve para os outros.
pas – qual é a sua leitura?
ls – passa por aí, mas não com essa insistência editorial que você está vendo na canção. não sei muito, acabei de fazer isso, essa é uma das canções mais recentes, na realidade foi a música determinante para eu dizer “olha, tenho um disco novo”. fiquei tão excitado quando acabou essa música que tive que ligar para alguém para cantar. a única ligação que passou [ri] foi para o presidente da gravadora.
pas – ele ouviu?
ls – ouviu.
pas – a gravadora já era sony & bmg?
ls – esta, é. [o presidente “pop star” da resultante da fusão entre sony e bmg, alexandre] schiavo.
pas – há então um exagero em ver uma conexão entre todos esses desejos de falar do hoje?
ls – mas o desejo, talvez o meu menos consciente e mais colocado… é uma palavra boa, também. tem uma hora que há uma necessidade de fazer poesia também, uma compulsão de dizer que também pede que as palavras venham independentemente quase do significado. tem até esse componente, por isso é que não quero me afixar numa visão. mas o que você acha é o uso que você encontrou para ela. e para mim, em música pop, torna-se a coisa mais legítima que tem. não vou ensinar para as pessoas qual é a bula de “como uma onda”, elas que acenem as mãozinhas. é uma prerrogativa delas, podem não fazer isso também. e eu tenho tido a oportunidade de dizer já algumas vezes o quanto começo a conhecer o disco a partir do que acham, a partir do que eu leio acerca dele, das achâncias. isso é uma coisa fundamental. eu já te falei isso mais de uma vez, quando sai o disco você devia ter uma espécie de licença de mulher parida, como é? licença-maternidade.
pas – você estaria no período da licença ainda, agora?
ls – completamente.
pas – não daria para você mesmo inventar essa licença-maternidade para você? é inevitável lançar o disco, aí já virem todos os jornalistas entrevistarem você e assim por diante?
ls – aí eu vou dizer o que eu conseguir dizer, porque é da mecânica do show biz. mas estou repetindo a você coisas ilustradoríssimas que ouvi em um momento em que eu precisava ser ilustrado em sevilha, em 1992, depois de um desastroso espetáculo meu lá no pavilhão. no auge do meu mal estar e revolta com uma série de coisas que levaram àquela situação, eu, às três horas da manhã, assisti a uma entrevista do david byrne, falando de um disco solo dele. ele falava tão claramente que algumas coisas não eram claras no significado para ele, que se dava ao direito de não querer saber também. é importante esse direito à inconsciência psicológica que diz o que você não quer, ao ato falho, ao lapso. muitas dessas coisas estão embutidas e eu mesmo só vou saber depois.
pas – mas então seria um desconforto ter que falar, a ser meio obrigado a falar nesta hora?
ls – a gente está acostumado. tem um mapa para fazer, também. nada é tão definitivamente uma coisa só, isso é zen-surfismo, o que se pratica aqui. a gente tem nos tornozelos e no quadril um jogo. tem um mapa de fazer, e eu estou dando a entrevista no nível mais subjetivo, porque estou fazendo rádio desde de manhã, então dos níveis em que já discuti esse negócio hoje, acabei de tomar meia taça de vinho e estou me permitindo dizer a respeito o que não tem censura…
pas – nem nunca terá?…
ls – em algum momento teve. Essa canção é dos outros [ri].
pas – este é seu disco número…?
ls – vinte, é o que me dizem. os anotadores me dizem isso.
pas – quer dizer, no mínimo esse mesmo ritual se repete já pela vigésima vez. ele cansa, em algum momento?
ls – possivelmente pela última vez, este ritual, desta forma.
pas – como assim?
ls – eu não tenho mais interesse. [hum, lulu. a gente já ouviu essa música em outro disco…] este disco me dá um patamar fabuloso de manutenção, maintenance. estou a bordo de um set de canções novas que escolhi que fossem assim. eu não estou plugado nem “unpluggado” em nenhum projeto de subsistência, eu tenho uma plataforma criativa na qual me apoiar. e me desinteressa esse processo, porque até passei dessa fase, é a mesma coisa que se ficasse no ginásio para sempre. fuck, já me formei há anos. eu faço um pouco pelo mesmo motivo que os stones fazem, ou eu, pelo meu lado, acabo fazendo e observo que eles fazem e especulo aqui uma imorredoura forma de compulsão adolescente de amar, odiar, gostar. isso ainda ocorre.
pas – lulu, o ritual pós-lançamento, depois da criação…
ls – lembra desse disco? “ritual de lo habitual”, do…
pas – sim, do jane’s addiction.
ls – …perry farrel. jane’s addiction. esse nome é maravilhoso. o conjunto é uma porcaria, mas esse nome, “ritual de lo habitual”…
pas – é disso que estamos falando mesmo, não? nesse período pós-criação, não ficou tudo automatizado demais?
ls – sim e não. hoje eu tive uma série de encontros com a rádio de são paulo que muito me surpreenderam, porque fazia talvez oito anos que eu não fizesse de fato. Eeo nível do que se solicita melhorou muito, o nível das pessoas, dos jovens, dos que vieram depois que comecei isso, melhorou muito. várias coisas, hoje fiquei muito impressionado, porque tive um dia de rádio que não posso dizer que tenha sido desagradável. o encontro com o interesse que as pessoas têm por mim, pelo conjunto da obra e por esse disco específico é completamente legítimo. então eu estou te falando: é bacanérrimo eu poder me desligar desse processo como um ritual do habitual para me dedicar a fazer coisas matadoras, específicas, lubrificadas, lúbricas além de lubrificadas, coisas que vêm de um desejo tão absoluto que ali é a melhor forma de fazer.
pas – um jornalista de revista ou jornal não sabe muito bem isto: como é para um artista um “dia de rádio”?
ls – é um dia em que você tem oportunidade de, em uma hora de gravação, falar com 1.400 municípios, que a gravação de um determinado programa da rádio jovem pan am atinge. uma entrevista interessante, conversamos sobre “lost in translation”, de novo, esse filme está… [antes do início da entrevista, lulu havia comentado que o bar do hotel, subindo uma escadaria, parecia cenário do dito cujo], até no disco tem, quando fala “sem perder na tradução”, em “sinhá e eu”. a entevista foi interessante, o sujeito de terno, grisalho, me perguntou se “gambiarra” tinha alguma coisa de paul weller. eu fiquei “ahn? did you spell it?” [hum, volta e meia lulu fica “lost in translation”, né?]. não sei, não conheço paul weller direito, mas o cara conhece. e, na realidade, foi muito melhor do que era. e por tudo, até porque eu não estou – adoro essa expressão – “jocking for a position”. o que eu não quero mais é a sensação de corrida de rato. e fora o que, estritamente, música pop, como “popstar” é, é um veículo de jovens e de juventude. hoje nós temos duas gerações depois da minha fazendo isso no brasil, e com uma conexão perfeita com a audiência. sobre isso eu tenho algo a dizer também, que é esse disco que está aí. ao mesmo tempo, estou falando com quem quer ouvir e cultiva essa história. e, evidentemente, estamos aí em rádio pregando para não convertidos. mas isso, esse processo, tenho falado para carlão, bruno, luiz oscar niemeyer [integrantes de sua equipe, imagino eu, e, por último, seu recém-empresário e ex-presidente da gravadora bmg], para quem está junto comigo na jogada, o circão, está de bom tamanho, muito obrigado.
pas – usa-se o termo “blitz de rádio”, o que você estava fazendo não tem nada a ver com isso?
ls – não, blitz é outra coisa, é quando a música de trabalho sai e a gravadora tem uma missão de, naquele dia, fazer o maior número de execuções possível com aquela canção.
pas – aí artista não tem que estar presente, fazendo visitas de rádio em rádio…
ls – não, não, isso é o que antigamente se chamava caitituar. é lindo esse termo, a pessoa ir pedir ao radialista para tocar a música dele através de simpatia, agrados. isso está hoje evidentemente profissionalizado num nível em que os agrados passam por cima da cabeça da gente, às vezes por cima dos pés [oooops!]. e o trabalho institucional é como estou te falando, é feito de uma forma, sobretudo no centro de broadcasting de fato do país que é esta cidade e as antenas da av. paulista. tem de tudo, né? tem isso e amanhã tem o “pânico”.
ls – sua permanência duas gerações depois da sua, como você falou, é em parte garantida pela permanência do ritual?
ls – não, porque eu abdiquei do ritual, por exemplo, há dez anos. o primeiro impacto, que [a faixa de abertura] “gambiarra” descreve, “não agüento mais isso”, foi no meu primeiro milhão de cópias [na época do desmiolado e divertidíssimo disco dance “eu e memê, memê e eu”, de 1995, pronto, opinei…].
pas – mas você não abdicou do ritual. tenho entrevistado você disco por disco, desde então.
ls – ah, mas há rituais e rituais. já não faço hoje em dia, por exemplo, programas de auditório. e mesmo fazer rádio, comecei dizendo que fazia pelo menos oito anos que eu não fazia este ritual de rádio, e por isso pude notar, surpreso, como o negócio está bacana. na boa, as pessoas estão interessadas e há uma outra geração de gente com uma outra informação, um nível cultural melhor, mais ensinados. o nosso progresso a despeito de nós mesmos, sabe como é que é?
ls – é como se você tivesse ficado oito anos sem aparecer e encontrasse pessoas oito anos mais amadurecidas?
ls – não, e jovens também, a nova geração. hoje falei com pessoas que não estavam nesse negócio. o menino que fez a parte da rede transamérica me falou, espetacular essa história brasileira de vida, que “quando eu era office boy na paulista, eu andava com seus cassetes”. tive que perguntar para ele se, quando era office boy na paulista, ele se vislumbrava fazendo o que faz agora. a gente está se melhorando, né? [está! está! está!] então esse “hoje eu acordei duvidando que o futuro vai mesmo nos endireitar” é um pouco daquele pessimismo inglês, que permite o “hope for the better, expect the worse, work with what comes” [encontrou-se in the translêichon?].
ls – me parece mais otimista que pessimista seu verso.
ls – é realista isso. pode haver coisa mais equilibrada? nada como um povo que foi um império para ensinar a gente um pouco de verdade consensual.
pas – houve um acidente de percurso mais recente, de tentar manter o ritual com programas de auditório, no episódio do “domingão do faustão” [num domingão de 2003, fausto silva interrompeu bruscamente uma apresentação de lulu, que reagiu pedindo respeito numa carta aberta em seu site (já não está mais lá, mas restam memórias na internet, de frases como “se você me permite um comentário, sempre achei e continuo achando imperdoável o fato de você falar em cima das palavras e notas de uma música sendo cantada”, hahahaha). faustão contra-atacou no ar, chamando a reação de lulu de “babaquice” e finalizando, com fineza estonteante: “solta a franga, luiz maurício”]…
ls – era de tentar manter o ritual e aquilo ficar muito mais difícil para mim do que imaginei.
pas – aquilo deixa seqüela, o que aconteceu?
ls – seqüela para mim? [pensa] uma lição… você viu alguma anulação minha na tv globo? acho que não, uma novela chamada “como uma onda”, um prêmio tim logo depois daquilo, uma permanência em outros programas… acho que não. pode ser que alguma seqüela possa ter ficado, mas por outro lado o que eu ganhei em credibilidade com aquilo…
pas – deu para sentir?
ls – deu, inclusive com o testemunho das pessoas. na realidade nós, brasileiros, temos essa estranha capacidade de discutir com televisões, a gente fica em casa dizendo “seu babaca”, mas não é capaz de desligar aquilo. então, como as pessoas têm esse diálogo reflexivo com a televisão… e fora isso… vou dizer, em meu primeiro encontro com o presidente da minha gravadora – estou completamente autorizado a dizer isso, porque é verdade –, eu estava na notória pizzaria capricciosa [recentemente envolvida num imbroglio daslúlico com tráfico de drogas, lembra?], consumindo um bucho, vamos dizer – o que não é verdade –, e nosso schiavo chegou, sem eu conhecer ele e: “olha, lulu, eu queria lhe cumprimentar pela sua atitude naquele programa daquela pessoa, porque precisava alguém com seu cacife”, não sei o quê. foi esse retorno, das pessoas que dizem “ah, você falou o que todos nós queríamos dizer”, que é diferente do retorno popular mesmo e é um reconhecimento de que, realmente, tudo tem limite [tem! tem! tem! sem limites, só a guerra do bush…]. sabe aquele momento em que gabeira enfrentou severino? eu não quero me colocar, aquilo foi highlander, é diferente, mas basicamente, resguardados os níveis, era um pouco a mensagem que eu estava querendo passar, por favor não me desrespeite como forma de entretenimento.
pas – é um hábito que o Brasil havia mais ou menos perdido e está readquirindo, de exigir respeito, pedir respeito, não ter medo de enfrentar, não?
ls – de não ter medo da autoridade, em primeiro lugar. a atitude da cindy sheehan sendo presa com um sorriso nos lábios [mãe de um soldado americano morto no iraque, ela foi presa protestando em frente à casa branca de bushinho]… ser preso é uma prerrogativa da contrariação do esquema legal de que você discorda. e ao lado a declaração do homem que dizia: “estou honrado de ser preso junto com essas outras pessoas”. é isso que essa cpi em tempo real traz, finalmente, a esses políticos, a sensação de que eles não ganharam uma carta branca em benefício próprio e de que há um eleitorado do outro lado que é vigilante, cobrador. é disso que estamos falando desde o início, num certo sentido. a qualidade do país, a despeito de si próprio, melhora. as pessoas lêem mais, se informam mais, ficam mais curiosas, querem saber mais e acabam sabendo. o parâmetro de discussão é melhor.
pas – dentro desse caldeirão, sua atitude diante de fausto silva pode funcionar como uma jurisprudência, ensinando pessoas a perderem o medo de fazer o mesmo?
ls – sem querer ter sido isso, e ao mesmo tempo é bacana, adorei a terminologia, me envaidece. acho que em vez de jurisprudência vou falar em precedente, porque não significa que mais para frente outras pessoas vão fazer exatamente a mesma coisa. mas senti, também, uma certa tomada de posição de outras pessoas em relação ao que estão a fim de agüentar em termos de indignidade para poder promover seu trabalho.
pas – lulu, é difícil manter essa dignidade que você acabou de citar dentro da indústria fonográfica, mesmo para um pop star que está na frente da linha de fogo?
ls – olha, eu não tenho… essa gente da sony & bmg conheceu meu disco na hora que chegou à mão deles. pagaram tudo de olho fechado. então não tenho nenhum tipo de constrangimento dessa natureza.
pas – mas estou pensando no nível mais abrangente possível, incluindo gravadora, empresário de show, jornalista, imprensa…
ls – meu empresário é luiz oscar niemeyer, uma pessoa que tem nome e sobrenome. sabe o que eu acho? que você constrói isso. tinha isso no [álbum de 2003,] “bugaloo”, a gente é resultado das escolhas. você faz escolhas, escolhas implicam que, quando você escolhe um caqui, o mamão vai ficar de fora. mas você pode achar que pode passar uma vida com o caqui. a imagem é pobre, sem significância, mas a verdade é que é escolha. tudo na vida você escolhe, um caminho, uma postura, e pronto, você colhe o que aquela postura… pelo menos você está assentado na sua escolha, na sua certificação. aquilo é o que você é, e fim de papo. e fim de papo em todos os sentidos, aquilo tem um retorno, ou uma seqüela como você falou, ou uma conseqüência. mas é necessário. é mais cômodo você fazer uma escolha, tomar uma iniciativa, ir por ali, ficar “não sei por onde vou e sei que vou por ali”.
pas – cito isso porque seu disco resvala nesse tema, em “gambiarra”, que é um pouco o da desconstrução dessa cultura atual de celebridade.
ls – em que sentido você diz?
pas – até no exemplo que a política está dando, de desierarquização. antes a gente brigava com a tevê…
ls – acho que não é uma desierarquização, não, acho que existe uma desempulhação. a impostura cai. acho que o que existe é um cansaço. o que cai é o que não se sustenta, o que [cantarola] não veio pra ficar, como diz “letra & música” [é o nome do disco novo]…
pas – você está falando de política?
ls – não, em tudo.
pas – poderia valer para música?
ls – não, aí estou falando sobre parceria, sobre trabalho, “letra & música” é sobre fazer música. mas serve.
pas – a indústria musical, como a política ou qualquer outra, tem seus calcanhares de aquiles, não?
ls – como a imprensa.
pas – como a imprensa [êêê!].
ls – como… bom, não conheço o que não tenha, é da natureza humana.
pas – este não é, por isso, um momento de desconstrução disso tudo, após um período em que cada um tinha seus próprios calcanhares de aquiles e não pensava sobre eles, pensava só sobre os dos outros?
ls – não, os poderosos, né?, os que tinham capacidade de botar bota de aço. é essa sensação de vale-tudo. é isso que começa… é muita gente, e quanto mais gente, mais gente atenta. os meios de comunicação, a velocidade disso, fez… velocidade é estabilidade, isso é uma lei física. quando você lança um petardo, quanto mais velocidade, mais estabilidade. uma forma prática de ver isso é de fato a saúde institucional do país em face da crise. isso é um exemplo muito bom de como existe um isolamento já. o país econômica e institucionalmente são, vivenciando um problema político, a gente está se dando conta que tem uma maturidade de todas as ordens.
pas – muita gente se recusa a acreditar nisso ainda, vê um cenário de fim de mundo, “o governo mais corrupto de todos os tempos”, o fundo do poço.
ls – sim, mas ainda assim ele governa. não houve um golpe, de nenhuma natureza. o máximo que houve foi uma tentativa da própria chefia do governo de cindir o país entre iletrados ou não opinados e gente que lê jornal [só do governo, lulu?, ora, ora!, gabeira não fez isso com severino, não, né?, ora, ora!]. na hora em que a gente chega numa maturidade dessa natureza, consegue separar as idéias de governo e estado, governo e nação. estado não é nação, eu quero reparação. é como se o peru tivesse que pagar pelo fujimori. não. por outro lado, esta crise e este fim do mundo instalados dentro do governo também estão instalados dentro de um patamar de lisura tão absoluta que garantiu que um operário fosse eleito presidente da república. o patamar institucional, na realidade, é muito elevado, há que se notar isso [é! é! é!]. é sólido. esta bagunça, este furdúncio está acontecendo dentro de um governo que levou 30 anos. quantos anos luiz inácio tentou se eleger? não é um processo novo, não é um fernando collor, uma coisa que cega todo mundo. é uma coisa que estava sendo articulada havia tempos, que seja para nego fazer aposta e dizer “pô, a aposta não deu certo, mas a banca continua, o cassino está sólido”. eu vejo a vida melhor no futuro.
pas – ou no presente?
ls – é, me recuso a achar que é o futuro que tem o encargo… hoje acordei duvidando que o futuro vai mesmo nos endireitar se, no fundo, depende tudo do que a gente faz. por que seria igual ao paraíso, em que só depois que você morrer e for enterrado é que vai chegar no bom? [por quê? por quê? por quê?]
pas – a popularidade atual das cpis causa algum flash-back em você, que teve uma experiência na cpi dos direitos autorais [em 1995, houve uma comissão parlamentar de inquérito para investigar irregularidades na cobrança de direitos autorais no país, e alguns artistas entraram na roda. tim maia estreou a bancada em alto estilo, e foi sucedido por luiz ayrão, lulu santos, waldik soriano, zezé di camargo. reportagens da “folha” na época davam conta de que deporiam também genival lacerda, paulo massadas, leandro e leonardo, chitãozinho, belchior, gilberto gil, geraldo vandré (!!!) e… roberto carlos. mas eu não sei se eles depuseram, você sabe?]?
ls – isso é estranhíssimo, porque era uma cpi em cima de um órgão que não é governamental. você pode fazer cpi sobre tudo que está dentro do âmbito do governo, agora o ecad é o escritório central de arrecadamento de direitos, um negócio autônomo, não governamental. na realidade, alegava-se na época até que era inconstitucional. depois vi um deputado do pt acusando nesta cpi de agora o fisiologismo de governos anteriores, tanto de fernando henrique quanto o fisiologismo que foi praticado pelo ministério das comunicações para conseguir os cinco anos de mandato de josé sarney. o mensalão ali foi à base de licitações de rádios fm. então essa cpi do ecad era um grupo de deputados, provavelmente donos de rádios, querendo intervir num órgão não-governamental para cessar [ri] a arrecadação de direitos autorais. isso é uma coisa insana. e eu chego nessa cpi, num tempo em que esses políticos não eram monitorados nem tinham essa sensação de responsabilidade de fato…
pas – não eram transmitidos ao vivo…
ls – não era transmitido, não existia blog, internet, celular… celular já existia. o primeiro deputado perguntou o seguinte [imita sotaque nordestino]: “o senhor, neste mês, ganhou quanto de direitos autorais?”. eu respondi: “r$ 11 mil”. ele falou: “eu e o ascensorista desta casa sabemos que o senhor não é roberto carlos [se fosse o nando reis, teria respondido “não sou nenhum roberto, mas às vezes eu chego perto”, hahaha]. se roberto carlos ganhou só r$ 4 mil, o senhor está mentindo”. dito isso, agora é que eu sei, ele pegou o celular e começou a conversar, virou de costas para mim, cagou, é esse nível de “ferrabrasismo” que é praticado. o sujeito é eleito pelo eleitor e depois se desfaz do eleitor. e, de fato, eu não tinha ganho r$ 11 mil. eu tinha ganho r$ 10.684. essa cpi, depois, as notícias de jornais diziam exatamente as mesmas coisas, que eu havia sido evasivo, que eu poderia ter sido preso por perjúrio. deu margem a um colega cantor sertanejo dizer a frase que depois foi publicada em manchete, “lulu santos deveria ser preso”. e eu não sei em que estado de desarranjo pessoal eu estava na época que não consegui tomar uma atitude legal. esse é o momento que desemboca na canção “gambiarra”, too much, really too early, e realmente estava custoso para mim em vários âmbitos, sobretudo no pessoal. se eu estivesse um pouco mais organizado pessoalmente aquilo não ficava daquele jeito. mas acabou ficando, e é necessário que a história dessa cpi seja contada direitinho, porque o que se publicou é que eu tinha sido evasivo e sonso, como se eu fosse um delúbio. a situação realmente era kafkiana. havia uma desconexão enorme da minha parte, eu estava em machu picchu, “garota, eu vou pra machu picchu”…
pas – você está falando em termos concretos ou simbólicos?
ls – ambos. “gambiarra” foi escrita em cuzco, depois que eu havia passado por aquele episódio. é a minha resposta aos meios, “e aí, Lulu Santos, o que você acha?”. “um saco.” eu realmente estava despreparado e aquilo era kafkiano a ponto. e eu, muito mal assessorado, desconectado, num momento desconectado da minha existência e incapaz de reagir à altura àquilo que estava acontecendo. mas o mapa você entendeu: fisiologismo para obtenção de uma regulamentação, esse fisiologismo em termos de licitações de rádios fm e depois esses mesmos tentando de alguma forma extinguir… porque o que se queria era uma intervenção, queria se provar que o ecad era corrupto, que não passava… não é que o ecad não repassa meus direitos, é o dono da rádio que não paga os direitos para o ecad.
pas – por que lulu santos virou o bode expiatório desse conflito?
ls – porque eu não quis corroborar. eles acharam que estavam chamando alguém que era metralhadora giratória e ia detonar.
pas – que seria você?
ls – que seria eu.
pas – você tinha essa fama de metralhadora giratória?
ls – não, acho que eles me confundiram com outro personagem.
pas – um que começou na mesma banda que você?
ls – quem sabe? isso você pesquisa…
pas – seria o ritchie?…
ls – o fernando gama, do boca livre…
pas – ou luiz paulo simas…
ls – é, tadinho, que estava nos estados unidos nessa época… [a brincadeira aqui é a seguinte: fomos citando todos os integrantes da banda de origem de lulu santos, o vímana, menos um: lobão!]
pas – havia a história do carro, que você teria ganhado um carro do ecad [deturpei um pouquinho na hora de perguntar, por falta de pesquisa: o que se ventilou à imprensa na época foi que lulu supostamente ganharia um carro para defender o ecad na cpi]. foi esse o motivador?
ls – [ri] não, não foi esse o motivador. a “folha de s.paulo” conseguiu descobrir 80 mil dinheiros daquela época na minha conta. e aí eu, evidentemente, me saí com o recibo. quando você ganha R$ 80 mil… isso fernando collor me ensinou, que é melhor não ter caixa dois. naquela época você tinha que declarar tudo.
pas – collor ensinou você, mas não a lula?
ls – é, é que eles desaprenderam. eu produzi o recibo, da minha gravadora, eu tinha acabado de renovar meu contrato. carro? o que é isso, do que é que você está falando, que tipo de elucubração posterior é essa que dá a você, um jornalista sério, o direito que dizer que eu ganhei um carro do ecad? cadê esse carro? você deu uma volta nele?
pas – não era verdade?
ls – não, se eu tivesse ganhado um carro do ecad eu teria sido de alguma forma imputado. onde é que saiu esse negócio de carro? carro eu não vi, eu vi a história que saiu na “folha”, alguém do banco, nego entregou a minha conta. uma forma dessas de denúncia. aí “o senhor foi acusado de ter r$ 80 mil na sua conta”. eu falei: “é, eu tenho, está aqui, para renovação de contrato com esta gravadora”.
pas – citei o “bode expiatório” porque escolheram lulu santos, mas poderia ser qualquer outro, não?
ls – é, mas é porque se o tim maia foi e esculhambou todo mundo… ele foi, foi o primeiro. aí nego adorou, começou a convocar artistas populares que é para ver se falavam… provavelmente é porque eu estou vivo. não é que fiquei de bode expiatório, não, eu é que peguei um bode daquela situação.
pas – você foi de terno e gravata, como vão hoje em dia?
ls – eu não tinha. tentei, até botei uma gravata, a roupa era a minha. eu estava de cabelo louro, na época eu estava “eu e memê, memê e eu”, lembra aquela imagem?, o clubber, o pré-clubber, o clubber de 95, quando as pessoas ainda estavam de calça preta e cigarrete? foi esse personagem que foi à cpi [ri] e depois falou “achei um saco”.
pas – quando você vê as cpis de hoje, que são líderes de audiência, você se reconhece neles?
ls – eu vejo essas cpis. não me reconheço. eu lembro do [josé] genoíno passar na minha frente fazendo sinal de positivo, tipo “tudo bem com você?, eu sou legal, você é legal”. e depois chico vigilante a fazer acusações, chico vigilante, mas, rapaz, a coisa tem perna tão curta que três meses depois chico vigilante deu um churrasco e foi autuado porque não pagou os direitos autorais de não sei o quê [hum, lulu, será que “armaram” para cima do vigilante como “armaram” para cima de você?]. e cadê chico vigilante? está no pt [ri], então está entre os seus. cadê, existe ainda? [existe, parece que ainda é deputado, vê lá em www.chicovigilante.com.br] este homem já me depenou publicamente, disse que eu tinha cometido perjúrio, devia ser preso, não sei o quê.
pas – hoje isso ainda acontece, é igual?
ls – não, é totalmente diferente, porque o que está sendo investigado são os próprios deputados, os próprios processos. é entre eles. e ao mesmo tempo dá gosto de acompanhar essa garotada.
pas – garotada? os políticos? [hahahaha]
ls – é, os novos, porque você pode se certificar da trajetória deles. você vê uma história, os atos, pode julgar aquela gente por isso?
pas – você se arriscaria a citar nomes?
ls – claro. eduardo paes. acho ele sério, interessante. [ih, só citou um…] ele é do partido [psdb] do político que eu vejo, no Bbasil, como o homem público mais sério, mais independente, com uma santa irritação com a canastrice do processo, que é o tasso jereissati. e, na realidade, vejo a vida melhor no futuro. eu quero ter um presidente da república que adora lulu santos [santo ego inflado, batman!]. Ele tem nome.
pas – não é o Lula…
ls – aecinho, né? aécio neves.
pas – você é tucano, lulu santos?
ls – eu me afino… eu fiz a opção histórica de votar no candidato, não revelei meu voto, fui cobrado por causa disso… teve um jornalista que age no eixo rio-belo horizonte-brasília que quis dar uma embaçada e me patrulhar um pouco apenas porque eu me neguei a declarar que ia fazer e fiz esse voto. mas me sinto muito mais bem representado por essa idéia. acho partido uma coisa difícil, eu sou do partido do coração partido. o conservadorismo está embutido na própria idéia, mas essa história de “fodam-se todos”, essa demonização é uma babaquice adolescente que eu não me permito. o caminho dessa coisa é organizar essa via, com um pouco de anarquia, até nessa visão que tenho de partido, essa organização engessada e dura. mas a verdade é que eu me sinto mais representado… existe esse estranho axioma em que elite ficou sinônimo de uma coisa sombria, negativa e usurpante, quando eu digo que pobre da sociedade que não produziu uma elite, de tudo, porque ela não se melhorou a ponto de uma parte dela vir à tona. e o que eu observo nesses caras é um domínio da língua, que para mim revela estudo fundamental, no mínimo. eu tive a ocasião de sentar na frente de josé dirceu e ouvir ele monologar. é quase revoltante, porque é evidente uma psicose.
pas – espera, mas então é outra coisa, não é uma questão de língua… se você preza o domínio da língua, você não preza a falta de domínio da língua?
ls – não, a língua presa [pronto, escorregou na casca da banana do preconceito, mas vai fazer o quê, né?…], a república não só da língua presa, essa estranha capacidade de não corrigir isso. uma das coisas que mais estranhei lula dizer mesmo, eu que fiz essa aposta, foi na hora em que ele falou “eu não me meto na vida dos meus filhos”. porra, mas o presidente da república é o grande pai, né? é essa idéia republicana, de que aquele cara representa o chefe da família nacional. então, se é incapaz de corrigir a língua presa quando está pequeno, é incapaz de acreditar em correção para o futuro, melhorar, essas coisas.
pas – eu não estou entendendo, você disse “eu, que fiz essa aposta”, que aposta?
ls – esta. eu votei.
pas – no lula?
ls – votei.
pas – ah, isso eu não estava entendendo [êita, língua presa para pronunciar uma palavrinha de quatro letras!]… a gravadora de maria rita, warner [lulu gravou pela warner entre 1982 e 1985, sob as asas do jabazeiro assumido – mas brilhante, pronto, opinei de novo – andré midani], deu um ipod para os jornalistas que foram entrevistá-la, para eles melhor poderem ouvir o disco da cantora. qual é sua opinião sobre isso?
ls – quem ipod, ipod. quem não ipod se sacode [ri]. imagina, pedro, se você vai me pegar nessa querela.
pas – não quero pegar você. quero saber sua opinião, é uma questão importante.
ls – não acho nada. não acho nada. não estranho nada nos processos. não vou moralizar os processos dos outros. eu apenas me dou o direito de observar. ou melhor, ser informado, porque também não sabia disso. e, assim…, ipod cansa [ri].
pas – cansa, mas é preciso ter grana ou fazer outras coisas para ter um e para ter oportunidade de cansar, não?
ls – é, não, possivelmente. mas cansa. estou te falando, o brinquedo cansa. e, por outro lado, me pergunte sobre minha ética.
pas – qual é sua ética em relação a isso, se sua gravadora propusesse “vamos dar um ipod junto com seu disco”?
ls – olha, acho que eu não sou a gravadora. ela não me representa. ela processa o meu produto cultural. e o máximo que eu faço é me submeter.
pas – mas você não é co-participante?
ls – não.
pas – do seu produto?
ls – do meu produto. eu não sou responsável pela promoção do meu produto.
pas – lulu, isso não é escapista?
ls – é escapista dessa tentativa de você criar um fogo com essa questão. o que há a moralizar nisso? o presente não foi aberto [foi!, como você sabe?]? o dado não foi aberto? todo mundo sabe que a prática da indústria é tratar bem, se puder, tratar bem a quem for interessante tratar bem. que me conste, essa é a prática das indústrias. você agracia. e, por outro lado, não me parece que isso tenha sido escuso. não é escuso. é ilegal? se é antiético…, eu não acho.
pas – não é um pouco a mesma discussão da política, de limiares éticos confusos? um ipod para um jornalista não é um pequeno caixa dois?
ls – não é, não é. a política é a “res publica”, é a coisa pública, não é a coisa privada, não é o que você faz com o lucro, de que forma você compra o seu lucro. ao mesmo tempo, por que a gente vai só demonizar o corruptor, não o corrompido? será que a gente vai ter que achar que os corrompidos vão ter uma leniência maior ou menor porque foram corrompidos? então talvez aquilo só tenha servido como uma prova [sim! sim! sim!]. agora, por outro lado, política trata do bem e da coisa pública. o que é privado tem outra organização. e a gente precisa realmente encerrar, pedro [hahahaha, tá bom, nem vai dar tempo de perguntar se a música, coisa privada criada pelo lulu santos, não vira depois a música, coisa pública veiculada em todo país e amadodiada por todo o país]. estou trabalhando há horas.
pas – última: “sinhá e eu” não seria, em nível algum, uma retribuição a “manhatã”, de caetano veloso?
ls – em nenhum.
pas – você até hoje não retribuiu aquela canção, que era dedicada a você?
ls – o máximo que fiz em relação àquela canção foi perguntar por quê, porque não me via nela e depois foi reconhecido que quem chamava manhattan de manhatã era cazuza. portanto, esse foi um tiro a esmo. “sinhá e eu” é a minha vivência americana. eu fiz uma excursão aos estados unidos em novembro de 2004. foi desastrosa, com exceção do fato de eu estar com scarlet [moon], com quem a gente pode rachar toda uma vivência daquela cidade, daquela língua, daquela cultura. é essa experiência que está relatada ali. isso é “the ballad of john and yoko”, versão 2004. eu tinha acabado de tomar café com panqueca e bacon ao acordar em um estado azul, a gente estava em massachusetts, a eleição tinha acabado de se definir, aquele era um estado democrático. e tem uma parte minha que dialoga com essa coisa, como o mundo inteiro dialoga. você não ficou querendo saber qual era o resultado da eleição para presidente dos eua? [sim! sim! sim!] diz respeito a todos nós quem é o kaiser, quem é o césar. ao mesmo tempo eu sou democrata, torci muito por aquela situação. seria uma sinalização de que a gente precisava naquele momento, e que não veio, precisou dois furacões. todo o encolhimento do poder de crítica da imprensa, por exemplo, isso que se observou nos eua, o fato daquela moça do “times” ter sido presa.
pas – está começando a acontecer aqui um questionamento do papel da imprensa, talvez um encolhimento?
ls – encolhimento eu não sinto, não, muito pelo contrário. outro dia vi uma coisa do “financial times” que eu achava interessante: que a imprensa no brasil julga. a imprensa no brasil julga [sim! sim! sim!].
pas – não é algo que já começa a ser colocado em questão, a próxima bola da vez? também por isso pergunto sobre ipod a você.
ls – não, mas ao mesmo tempo a prática de oferecer ipod não me parece ilegítima. não me parece ilegítima, eu não consigo ver o ilícito. quem pode pode, a resposta é factual, quem tem dinheiro para pagar um ipod para quem interessar, bacana, vai fundo, é uma forma.
pas – isso a respeito do termo “ilícito”, mas…
ls – “moral”?
pas – não quero usar esse também, mas questionar o jornalista que vai se sentir mimado e vai falar “olha, que legal o disco do lulu santos”.
ls – se a pessoa não conseguir separar uma coisa da outra, aí então estamos todos perdidos, igualmente. está entendendo o que estou falando? [espero que sim, e você? ei, você aí, do outro lado do blog? cê tá entendendo?] se a pessoa não consegue fazer o julgamento moral, ela, e vai se sentir obrigada a falar bem para ganhar o ipod depois…
pas – ou “obrigada” a falar mal, dependendo do veículo de comunicação?…
ls – é, mas aí é contigo…
pas – estou me colocando na roda.
ls – eu sei, muito obrigado.
@
e sua excelência se despede, sobe o olhar de esgüela ao bar que lhe evocou sofia coppola e seu “lost in translation” (“encontros e desencontros”, em parco português de língua pre$a), desliza pelo hall e parte, rumo ao próximo compromisso.