Para onde (nos) leva o “Labirinto” de Thami?

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A cantora e compositora Thami - fotos: Rodrigo Psy/ divulgação
A cantora e compositora Thami - fotos: Rodrigo Psy/ divulgação
"Labirinto" - capa/ reprodução
“Labirinto” – capa/ reprodução

A vida é labirinto: a cada encruzilhada que você escolhe, fica o se da que deixou de escolher. É mais ou menos essa a premissa do álbum de estreia da carioca Thami, intitulado justamente Labirinto

Composto quase solitariamente, ela reúne cinco produtores ao longo de suas 10 faixas, num début sonoramente coeso e maduro, após trabalhos com Tuany Zanini, no Rock in Rio 2019 e Iza, no Prêmio Multishow.

Desde 2020 a artista vinha lançando singles e o EP Nua (2022). De Labirinto, a faixa “Talvez” ganhou inspirado videoclipe, disponível no youtube.

Álbum de estreia lançado, Labirinto é ponto de partida, não de chegada. Mas engana-se quem pensa que o caminho até aqui foi inútil. É que a trajetória da carioca atualmente radicada em São Paulo está apenas começando.

Thami conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

ENTREVISTA: THAMI

ZEMA RIBEIRO: Labirinto, título de teu álbum de estreia, pressupõe um caminho difícil de percorrer. Quais foram as maiores dificuldades até essa estreia?
THAMI: Não vejo como um caminho difícil, tento enxergar como um emaranhado de caminhos onde eu preciso escolher para onde ir e assumir as consequências das minhas escolhas. Talvez o caminho que eu escolha, não seja o caminho que me leve para onde eu quero, mas acredito que me levará para onde eu preciso ir e estar. Então vejo o labirinto como um lugar necessário, por onde eu preciso passar. Acho que a maior dificuldade dentro de todo o processo é aprender a lidar com a solidão e saber que ninguém, além de você mesmo, vai fazer o seu trabalho de uma maneira mais efetiva. Você precisará fazer isso sozinha. É um mal necessário.

ZR: Você é carioca e mudou para São Paulo, um caminho que muitos de nós imaginamos superado, com o barateamento dos custos de produção e a força, cada vez maior da internet, ao contrário de alguns anos quando era imperativo para um artista que quisesse acontecer mudar-se para o eixo Rio-São Paulo. O que motivou a sua decisão de mudar?
T: Vejo em São Paulo um lugar com mais possibilidades, mais acessos à cultura de modo geral. Sigo sem a certeza, ela não existe. Mas vir para cá na minha concepção, aumenta minhas chances de alcance profissional. E tem sido assim. Não me arrependo, apesar de ser bem difícil estar aqui todos os dias.

ZR: É um álbum completa e solitariamente autoral, a exceção é “Saudade”, cantada com a participação especial do parceiro Rodd. Esta foi uma escolha ou quando você percebeu tinha um álbum composto?
T: Não foi uma escolha. Eu, num primeiro momento, convidei algumas pessoas para fazerem parcerias. Mas com o desenvolver do álbum, entendi que esse labirinto precisava ser meu, se eu falo sobre a solidão e a maneira que consegui lidar com ela, não caberia encher esse labirinto de gente, acho que seria contraditório ao que eu estava falando. A faixa “Saudade” foi uma exceção. Quando falamos de saudade, falamos de alguém ou de algo que traga esse sentimento. Então dentro dessa faixa, fazia sentido uma segunda pessoa.

ZR: Já em se tratando de produtores, as faixas se dividem entre Theo Zagrae, Julio Raposo, Pedro Guinu, Julio Mossil e Bernardo Massot. Apesar de tantas mãos, o disco tem uma unidade sonora interessante. Vamos falar um pouco da escolha destes nomes.
T: Eu posso dizer que trabalhei com os melhores produtores que eu poderia trabalhar, acho que dentro da individualidade de cada um, eles souberam me ler muito bem e isso tornou tudo mais fácil. Também fui bem estratégica na hora de montar o álbum. Peguei todas as faixas e mostrei para o Theo, disse que queria unificá-las e torná-las complementares uma à outra, para que o disco ficasse homogêneo. Ele soube fazer isso muito bem e quando você ouve o disco, consegue perceber as características de cada produtor mas ao mesmo tempo a ligação de cada música. Foi genial. Eu, como artista independente, preciso agarrar todas as oportunidades que me aparecem. E essas faixas vieram assim, como oportunidades e eu soube usá-las a meu favor e transformar essas vivências em um disco.

ZR: “Ninguém morre de amor/ mas o remédio é caro” são dos versos mais bonitos do álbum. “Talvez” ganhou videoclipe, dirigido por Rodrigo Psy, com diversas camadas de significados, desde a relação das religiões de matriz africana com a natureza enquanto elemento sagrado, passando pelo empoderamento feminino, particularmente o da mulher negra, sem perder a sensualidade. Como se deu a concepção e o desenvolvimento deste audiovisual?
T: A ideia era unir todos esses elementos de maneira eficiente e econômica. Não tinha muita verba para fazer o clipe, já que a prioridade era construir o álbum. Então precisei ser muito criativa e contei com a ajuda de amigos muito criativos também. David Batista, meu amigo pessoal, e produtor também, foi à minha casa e juntos desenvolvemos esse clipe. Queríamos passar todas as sensações de estar num labirinto, enfatizando a leveza do processo e não o peso que ele traz. Acho que conseguimos imprimir isso muito bem. Aproveitamos a natureza que nos é dada todos os dias, sem custo algum e conseguimos colocá-la como elemento principal dentro do trabalho. O resultado ficou lindo e ficamos muito orgulhosos de conseguir tirar do papel algo tão significativo.

ZR: O álbum foi lançado no último dia 2 de agosto em show no Teatro Cesgranrio, no Rio de Janeiro. Como foi a receptividade do público e como está a agenda?
T: Fizemos o lançamento no Teatro Cesgranrio e para mim não poderia ter sido um lugar melhor. Foi incrível poder voltar ao Rio com um trabalho consolidado. Uma sensação de estar fazendo a coisa certa e a certeza de ter escolhido o caminho certo dentro do meu labirinto. A receptividade das pessoas com o álbum foi algo lindo de ver. Todo mundo cantando, se emocionando. Foi bem especial. Agora estou de volta à São Paulo, buscando outras portas para cantar meu Labirinto. Ainda não temos datas novas mas espero que em breve consiga trazer mais shows. O show tá lindo, tá intenso, tá bem amarrado, acho que as pessoas precisam conhecer e tô trabalhando pra isso.

ZR: O seu som é muito particular. Quero te ouvir sobre influências, nomes que foram importantes em tua formação e trajetória.
T: Sim, muitas pessoas me falam isso e eu me sinto lisonjeada de conseguir uma sonoridade que é minha, que tem minha cara. Eu cresci na igreja, então minha maior referência vem do gospel, por ser o seguimento que eu ouvi muito. [O cantor americano] Kirk Franklin é o maior artista que eu já ouvi. Amo a forma que as músicas são construídas, as linhas melódicas, são músicas que me invadem e trago comigo até hoje. Outra referência que tenho é [a cantora britânica] Lianne La Havas. Conheci em 2018 e nunca mais consegui parar de ouvir. Amo a forma como ela compõe, uma artista completa que me completa. Para esse trabalho de labirinto mergulhei dentro da discografia de Luedji Luna também. Queria uma sonoridade mais brasileira, instrumentos percussivos, e ela traz isso muito bem dentro dos seus trabalhos, então fui beber dessa fonte. Além de trabalhar com o Theo Zagrae, que também trabalhou com ela, acho que facilitou muito chegar nesse resultado. Tive muitas outras influências também, ficaria horas aqui falando… Liniker, Djavan, Ogi [rapper paulista], Marisa Monte, Rita Lee (1947-2023)… Como eu queria trazer o Brasil pra dentro do meu álbum, quis me vestir das personalidades brasileiras que temos que pra mim são as maiores do mundo.

ZR: Com Labirinto a gente pode dizer que você percorreu o labirinto da vida até aqui. Quais os próximos passos?
T: Sim! Acho que percorri mas a vida é um eterno labirinto, então sigo caminhando, espero que não em ré [risos] [nota da redação: Caminhando Em Ré é o título de uma das faixas do álbum]. Meu maior objetivo no momento é conseguir ampliar o alcance desse disco, desenvolvê-lo ao máximo, conseguir fazer shows e levar isso para o Brasil todo e, por que não?, pro mundo.

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Ouça Labirinto:

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Bônus: a artista também foi entrevistada pelo repórter no Balaio Cultural do dia 24 de agosto de 2024, na Rádio Timbira FM. Assista:

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