O múltiplo Claudio Lima em dose dupla no Centro Cultural do Ministério Público

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Claudio Lima fala durante abertura das exposições - foto: CCOM-MPMA/ reprodução
Claudio Lima fala durante abertura das exposições - foto: CCOM-MPMA/ reprodução

“O mundo é um grande ecossistema. Estamos conectados, a despeito de teorias negacionistas. Os tristes eventos que ocorrem no Rio Grande do Sul são uma prova disso. Mas hoje prefiro pensar no que ainda temos de bom, de genuíno, da natureza. E essas exposições têm o poder incrível de nos remeter à pureza natural. É preciso, pois, mudarmos as nossas atitudes. Do contrário, essas Pássaras e essa Bicharada, aqui retratadas, serão apenas lembranças, carregadas de nostalgia”.

A afirmação é de Francisco Colombo, curador do Centro Cultural do Ministério Público do Maranhão, e foi dita ontem (5), dia mundial do meio ambiente, no Espaço de Artes Ilzé Cordeiro, espaço do equipamento, por ocasião da abertura das exposições “Pássaras de Upaon-Açu” e “Bicharada Nativa de Upaon-Açu”, ambas do designer, artista visual, ceramista, cantor, compositor e escritor Claudio Lima.

As 33 pássaras de Claudio Lima - foto: Francisco Colombo/ divulgação
As 33 pássaras de Claudio Lima – foto: Francisco Colombo/ divulgação
Tatu Peba e Bacurau, peças da "Bicharada Nativa de Upaon-Açu", de Claudio Lima - foto: Zema Ribeiro
Tatu Peba e Bacurau, peças da “Bicharada Nativa de Upaon-Açu”, de Claudio Lima – foto: Zema Ribeiro

A primeira, um conjunto de ilustrações – o bebeô já havia aparecido nas páginas de Serial Sereia (2022), prosa do poeta Celso Borges (1959-2023), que sugeriu o título Pássaras; a segunda, um surpreendente conjunto de esculturas em cerâmica. Em ambas, cobra, tatu, mucura, bacurau, guará, cambacica, maracanã, iguana: todas do sexo feminino. Pássaras e bichas, num trocadilho esperto, convidando a sociedade a reflexões: além da questão ambiental, contra a homofobia.

Claudio Lima não faz firulas nem concessões. É intenso e orgânico. O conteúdo das exposições é fruto da contemplação do artista, em caminhadas e trilhas de bicicleta pelo interior da ilha. “Hoje eu sou capaz de identificar cinco espécies ao mesmo tempo em cada esquina dessa cidade”, revelou, no evento de ontem, em fala que é, ao mesmo tempo, um convite também à reflexão, mas a uma volta às origens e ao contato com a natureza, para além de sua contemplação: é percebermo-nos parte dela.

Há muito dos ensinamentos de Paulo Freire (1921-1997) e Ailton Krenak neste par de exposições de Claudio Lima, nas aproximações entre discurso e prática e entre o ser humano e a Terra. Para as esculturas, realizadas em terracota, e envernizadas por jutaicica (um breu virgem vegetal), por exemplo, o artista desenvolveu as próprias tintas a partir de elementos encontrados na natureza, como seivas de árvores, óleo de andiroba e cal.

No processo de criação das esculturas, Claudio Lima quis experimentar um fazer artístico comprovadamente já realizado há cerca de seis mil anos na grande ilha de São Luís, a Upaon-Açu dos títulos das exposições. A técnica do ofício ele aprendeu com o mestre ceramista Luís Carlos Lima.

Os presentes à abertura da exposição ainda puderam ver Cláudio Lima performar o “Carcará” (João do Vale/ José Cândido), à capela, acompanhando-se com um maracá.

Claudio Lima performa o "Carcará" na abertura de suas exposições - foto: Zema Ribeiro
Claudio Lima performa o “Carcará” na abertura de suas exposições – foto: Zema Ribeiro

Serviço: “Pássaras de Upaon-Açu” (ilustrações) e “Bicharada Nativa de Upaon-Açu” (esculturas), exposições de Claudio Lima. Em cartaz até 31 de julho no Espaço de Artes Ilzé Cordeiro (Centro Cultural do Ministério Público do Maranhão, Rua Oswaldo Cruz, 1396, Centro, São Luís/MA). Visitação gratuita de segunda a sexta-feira, das 8h às 15h. Informações e agendamentos pelo telefone (98) 3219-1998.

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