4 observações sobre o novo edifício do Masp

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Obra "Labirinto", de Lydia Okumura, acrílica sobre malha de arame de aço inoxidável, pertencente ao acervo do Masp e em exposição no novo edifício anexo, na Avenida Paulista

“Quando a gente pensa nas exposições que vão inaugurar um novo museu, imaginamos que devam ser mostras dedicadas ao próprio acervo, uma panorâmica de todas as obras que pertencem ao museu”, diz o diretor do Masp, Adriano Pedrosa. “É algo mais familiar”, argumenta, assim como distingue a priorização do trabalho das próprias equipes do museu. O importante, para ele, é a articulação entre as diversas exposições para que não apenas deem conta da diversidade do acervo do museu, mas “conversem entre si”, possibilitando um passeio por um período de tempo que vai de 1947, data da fundação do Masp, até o dia de hoje, 2025.

Foi assim que se constituíram os Cinco Ensaios Sobre o Masp, as mostras que abrem oficialmente nesta sexta-feira, 28, para todo o público em geral, a partir das 10 horas, o novíssimo museu do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), o Edifício Pietro Maria Bardi, na esquina ao lado do maior museu de arte clássica da América Latina (e, como salienta Pedrosa, provavelmente do hemisfério sul). Com a incorporação do novo espaço, um edifício contíguo de 14 andares, o Masp espera incrementar as visitas gratuitas ao museu em 80 mil pessoas por mês. São 7.821 metros quadrados a mais para o museu.

A seguir, fazemos algumas considerações sobre nossa visita ao novo espaço expositivo do Masp:

  1. INTEGRAÇÃO FÍSICA – Como explicou Adriano Pedrosa, a passagem subterrânea entre o prédio principal do Masp e o novo edifício não ficou pronta para a abertura, e só será entregue no final do ano. É que o túnel entre o Masp e o novo prédio não é financiado por mecenas (como foi a construção e museologia do novo Edifício Pietro M. Bardi): são 4,5 milhões de reais incentivados pela Lei Rouanet, o que requer captação de recursos. Isso frustrou um pouco a expectativa de experimentar como funcionará realmente o fluxo entre uma e outra construção, sua integração funcional.

2. RENOIR – A sala que destaca a coleção de 13 obras do impressionista francês Pierre-Auguste Renoir (das mais valiosas do acervo e que não eram vistas juntas havia 23 anos), apesar de parecer que permite uma proximidade quase sensorial com as telas, as dispõe em superposição e torna acanhada a possibilidade de comparação visual instantânea entre fases e experiências visuais.

3. ÁFRICA – O acervo de arte africana poderia funcionar melhor com alguma contextualização histórica, relações de construção de influência e impacto social e cultural na identidade nacional, debate mais quente do momento. Está centrado mais na questão da estética.

4. ACOLHIMENTO – O hall do edifício novo poderia ter replicado funcionalmente o Instituto Moreira Salles, na mesma Paulista, que oferece uma praça de acolhimento antes da experiência cultural, para recepcionar mesmo quem não vibra na mesma sintonia – aproximar mundos, atrair, abrir. Cafés e restaurantes caros a cidade tem de monte.

Isso dito, é preciso salientar que um novo museu sempre deve ser recepcionado com alegria e espírito aberto. Abaixo, os destaques da abertura:

CINCO ENSAIOS SOBRE O MASP

Isaac Julien: Lina Bo Bardi – um maravilhoso emaranhado

2º andar

Na videoinstalação sobre o legado da arquiteta modernista Lina Bo Bardi (1914–1992), que projetou o icônico edifício do Masp na Avenida Paulista, as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro interpretam os escritos de Lina, dando voz às suas ideias sobre o potencial social e cultural da arte e da arquitetura, especialmente a partir de sua experiência com a cultura afro-brasileira na Bahia.

Artes da África

3º andar

Exibe mais de 40 obras do acervo do museu, principalmente do século 20, oriundas da África ocidental. O conjunto reúne estatuetas, objetos cotidianos, bonecas, tambores, mobiliário e máscaras usadas em festividades, rituais de iniciação, celebração ou funerais.

Geometrias

4º e 10º andar

A exposição apresenta mais de 50 obras do acervo MASP, incluindo cerca de 20 doações recentes. São trabalhos realizados por artistas que despontaram à época das vanguardas construtivas, em diálogo com trabalhos de artistas contemporâneos que empregam diferentes materialidades para criar composições geometrizadas.

Renoir

5º andar

Apresenta todas as obras do francês Pierre-Auguste Renoir (1841–1919) pertencentes ao acervo do MASP, sendo 12 pinturas e uma escultura. O conjunto abrange praticamente toda a carreira do artista e foi exposto pela última vez há 23 anos.

Histórias do MASP

6º andar

Revisita mais de sete décadas de trajetória da instituição, refletindo sobre a história do museu e sua importância para a constituição de um modelo de museu moderno.

VÃO LIVRE

Iván Argote: O Outro, Eu e os Outros

A partir de 10 de abril, será exposta no vão livre a instalação interativa O Outro, Eu e os Outros, do artista colombiano Iván Argote. A obra é composta por duas gangorras de grandes dimensões que se inclinam conforme o deslocamento dos visitantes, refletindo as dinâmicas de movimento e equilíbrio em coletivo.

Serviço

Cinco Ensaios Sobre o Masp: Mostras de inauguração do Edifício Pietro Maria Bardi. Dia 28 de março, das 10h às 20h30. Avenida Paulista, 1510 – Bela Vista. Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos

Adriano Pedrosa, curador e diretor artístico do Masp
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