O pernambucano Martins estreou na indústria fonográfica com um álbum que levava apenas seu nome artístico, lançado em 2019. Ano passado lançou “Almério e Martins Ao Vivo No Parque” e vem merecidamente conquistando uma legião de fãs e intérpretes – já foi gravado por Ney Matogrosso (“Estranha Toada”, de Martins e PC Silva, em “Nu Com A Minha Música”, de 2021), Daniela Mercury (“Deixa Rolar” em “Baiana”, de 2022), Margareth Menezes (o single “Me Dê”, ano passado) e Simone (“A Gente Se Aproveita”, em “Da Gente”, idem).
O álbum ao vivo em dueto antecipava algumas músicas de “Interessante e Obsceno” (Deck, 2023), produzido por Rafael Ramos, que chegou às plataformas de streaming na última sexta-feira (25), data em que o garoto do subúrbio recifense alçado a novo astro da MPB completou 33 anos de idade.
“Interessante e Obsceno” é um conjunto delicado de canções, em que instrumentistas como Juliano Holanda (guitarras), Alberto Continentino (contrabaixo) e Kainã do Jêje (percussão) emolduram a voz de Martins, a serviço da mensagem de suas letras – ele assina nove das 11 faixas do álbum: quatro solitariamente, outras cinco em parceria com Juliano Holanda (“Não Duvido”, “Deixe”, “Arrepia”, “Nu” e “Voltar Pra Si”, esta, deles em parceria com outros integrantes do coletivo Reverbo Marcello Rangel e PC Silva); as únicas não autorais são “Tá Tudo Bem” (Igor de Carvalho/ Juliano Holanda) e “Eu e Você Sempre” (Flávio Cardoso/ Jorge Aragão), releitura de um clássico do pagode vertida em balada romântica.
Por telefone, Martins conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.
ZEMA RIBEIRO: Você integra o que a gente pode chamar de nova cena pernambucana, uma geração pós-mangueBit, que faz uma música, digamos, mais delicada. Minha primeira curiosidade é saber o lugar do movimento mangue em tua formação.
MARTINS: Olha, o movimento mangue tem muito a ver com essa estrutura da cultura popular realizada em Pernambuco, começa por causa dos encontros de Chico Science (1966-1997) na Casa da Rabeca, onde vivia o Mestre Salustiano (1945-2008), que é um representante importantíssimo para essa coisa, desse movimento. E aí essas bandas começam a aparecer e tudo mais. A minha relação com o movimento mangueBit e com essa estrutura da cultura popular tem a ver com tudo que eu faço, só que para além disso, também, eu sempre fui muito apaixonado pelo cancioneiro popular, a MPB, enfim, vamos dizer assim. Eu sempre sou muito fã de Caetano [Veloso], de Chico Buarque, dessa galera toda. Quando eu completo 18 anos eu compro uma rabeca, que é um instrumento muito utilizado aqui, sobretudo na Zona da Mata Norte, que é uma região onde tem muitas manifestações de cultura popular. E aí é quando eu me encontro com o movimento mangueBit, que na ocasião já tinha acabado, não acabado, ele permanece, mas eu digo, não tava naquela efervescência que tinha antes, né? Então, a minha música, eu fico brincando que eu junto essas duas linguagens, tem uma relação muito forte com a o alto sertão de Pernambuco, onde tem uma estrutura poética e musical muito bem definida, que são os cantadores de viola, os emboladores de coco, então aquela métrica, as décimas, as sextilhas, que são poesia utilizada dentro dessa estrutura da cultura popular e consequentemente no mangueBit, com Chico Science, Nação Zumbi, Mestre Ambrósio, Chão e Chinelo, Mundo Livre S.A. Essa estrutura poética utilizo na minha música, só que com uma melodia mais do cancioneiro popular. Então eu digo que são duas linguagens que me cruzam, que me abraçam, que é o cancioneiro popular, que se você for perceber, uma boa parte da música também, você vê que tem essa estrutura poética. O Reverbo também tem um pouco a ver com isso, o Reverbo é um coletivo de músicos, de artistas que eu faço parte aqui do Pernambuco, que de alguma forma dá início a toda essa coisa da gente voltar a fazer canções, essa coisa mais calma, mais o lance da palavra, a voz suave, tem um pouco a ver com esse coletivo Reverbo, que é um espaço que agrega diversos artistas de várias regiões de Pernambuco, hoje temos 28 artistas, do sertão, do agreste, da capital, indígenas, mulheres, homens, enfim tudo.
ZR: Como é que surge o Coletivo Reverbo, esse grupão solidário, colaborativo e em diálogo e ação permanente. Vocês, além do além do grupão fazendo essa ponte entre vocês, a meu ver os integrantes têm colaborado uns com os trabalhos dos outros, tem Reverbo nesse teu disco novo, por exemplo.
M: O coletivo Reverbo foi uma coisa que a gente pensou até de uma forma inconsciente, que era reunir os amigos para compor, para fazer canção. E aí quem teve a ideia inicial foi Juliano Holanda e Mary Lemos, que é a companheira e produtora dele, e ele foi juntando amigos da música que ele conhecia, que têm uma certa afinidade, que as músicas de alguma forma se correspondiam e foi fazendo esse apanhado assim, de pessoas, e a função principal do Reverbo era tão somente compor, era criar novas canções, enfim, a favor da palavra, da canção mesmo. Então eu fico brincando dizendo que o Reverbo é um ateliê de criação, a gente se encontrava, sem pretensões, na casa de Juliano, na casa de um amigo, levava o violão e fazia uma roda e todo mundo mostrava as canções. Isso de alguma forma dava um estímulo muito legal, porque a gente, se ouvia uma música muito boa de um amigo, de uma amiga, e você ficava, pô, vou chegar em casa, eu quero fazer uma música também. Então era uma brincadeira séria, então a gente se encontrava para compor e também fazia canções em casa e voltava e mostrava e reunia. E aí Juliano teve a ideia de pegar todas essas canções desses artistas e botar num palco. Por exemplo, as canções que foram feitas dentro desse processo do Reverbo, foram gravadas por diversos artistas importantíssimos da música brasileira, referência para todos nós, dentro desse processo do Reverbo. Teve música gravada por Ney Matogrosso, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Margareth Menezes, Simone, uma galera, Johnny Hooker também, a música de Juliano, gravou, então é isso, o coletivo Reverbo é um coletivo de oficina de canção.
ZR: Nesse álbum novo, o “Interessante e Obsceno”, o Juliano é teu parceiro mais constante, acho que de resto na obra toda. E aí essa coisa do destaque que vocês têm ganhado a partir do Reverbo, com essas gravações todas por esses nomes importantes. Queria saber de ti qual é o sentimento, a sensação, o tamanho dessa responsabilidade, de ser hoje um compositor gravado por esses nomes que você citou.
M: Poxa, é um presentão. Para mim é um presente enorme e até uma chancela de alguma forma, dessa turma maravilhosa que é referência para a gente. Eu lembro que quando eu recebi a notícia que Ney ia gravar uma música minha eu fiquei uma semana sem acreditar, porque ele sempre foi uma referência muito grande para mim e eu sempre tive a impressão, eu sempre pensei essa ideia de trabalhar com arte, eu vou fazer 33 anos amanhã [dia 25 de agosto, quando o álbum chegou às plataformas de streaming] mas desde muito cedo, sei lá, com 11 anos, eu comecei a tocar violão e já tinha muito interesse por essa estrutura da música brasileira, só que eu achava uma coisa muito distante assim para mim, né? Que era uma coisa que nunca ia chegar, imagina, um menino do subúrbio de Recife e tal, eu não sabia como era fazer um disco, como era mostrar as canções, porque as minhas referências eram muito grandes. Então, chegar num momento que eu vejo Ney Matogrosso gravando uma canção minha, por exemplo, porque Daniela Mercury foi a mesma coisa, Margareth também, Simone, meu Deus!, minha mãe gostou mais do que eu [risos]. É realmente, eu não sei assim explicar exatamente o que eu sinto porque eu acho que ainda estou entendendo isso. São referências para mim, me formaram na música, na arte, e é um reconhecimento de pensar que tá valendo a pena, entendeu? Eu nunca pensei em plano b, pra mim sempre foi plano a, esse lance de artista, eu quero ser isso, porque isso é uma coisa que apetece meu espírito, minha alma. Então acho que o que potencializa essa certeza de que arte é algo muito importante para mim são essas gravações, é o reconhecimento desses artistas.
ZR: 33 anos amanhã, quem ganha o presente é a gente, com disco novo aí na área. Obrigado!
M: Oba!
ZR: Vamos falar um pouquinho de quem colaborou para a realização do álbum, você já citou alguns nomes, os parceiros de Reverbo, mas entre músicos, parceiros, produção, enfim, todo mundo que colocou sua digital, para que o “Interessante e Obsceno” ganhasse vida.
M: Esse meu segundo álbum de estúdio vai sair pela Deck, gravadora do Rio, estou fazendo parte agora do cast deles. A produção é de Rafael Ramos, que gere todo o rolê da gravadora, um sujeito muito sensível, muito inteligente musicalmente, muito atento, um cara que já produziu coisas incríveis, de artistas maravilhosos que a gente conhece hoje. E aí a ideia do álbum era a gente pegar as canções e pensar o que é que essa canção quer dizer. A gente foi montando assim os arranjos, o que é que essa canção quer dizer, então a gente ficou nesse laboratório de entender e fomos chamando os artistas que a gente achava que poderia somar. Eu tive a honra imensa, também, a alegria da canção “Deixa Rolar” ser gravada por Dadi, o baixista maravilhoso, o Leãozinho do Caetano Veloso, o Dadi gravou o baixo [e teclados] da canção, então tem contribuições de Dadi, de Pupillo [programação e percussão em “Deixa Rolar”], nós temos o Alberto Continentino, que é um baixista maravilhoso, incrível, toca com Caetano hoje em dia, que eu amava, sempre quis trabalhar com ele. Temos também Kainã do Jêje, também é percussionista incrível de Salvador, eu tenho as guitarras de Juliano Holanda, que é o meu parceirão assim, eu não queria perder também, porque o disco foi quase todo gravado por artistas, por músicos do Rio de Janeiro, de Salvador e Recife. Mas o lance da guitarra de Juliano, que tá muito presente em algumas canções, foi de propósito mesmo, porque eu também não queria perder um pouco dessa linguagem, desse som, desse timbre que a gente tem aqui em Pernambuco. Afinal é um disco de um pernambucano também, mas que se estende a outros ambientes. Então eu procuro sempre ficar atento aos sons, quando eu acho interessante, seja de onde for, eu acho bonito poder trazer, então por isso que é essa mistura.
ZR: Pernambuco falando para o mundo. Nessa vibe do quê que a música quer dizer, que você pensou aí as roupagens com que você vestiu essas letras, esses arranjos, uma faixa que chama atenção é “Eu e você sempre”. Você pegou o pagode do Jorge Aragão e transformou numa balada romântica. Queria que você comentasse um pouco essa escolha e qual foi o maior desafio para apresentar essa nova roupagem.
M: Eu faço muitas versões em rede social. Pego um samba antigo, um pagode dos anos 1990, e faço minha versão, trago pro momento mais atual, faço outro arranjo e sempre fiz isso e as pessoas sempre comentavam “você precisa fazer um disco fazendo versões” e tal. E eu ficava, “rapaz, será?, eu tou aqui cheio de música, quero gravar minhas coisas” e tal, então a ideia de ter essa música no disco também tem um pouco a ver com isso, com esses pedidos que a galera que me acompanha fazia e, sobretudo, porque eu tenho uma relação muito bonita com o samba, o pagode dos anos 90, que é o ano que eu nasci, eu sou do subúrbio de Recife, e a gente só ouvia isso no rádio. Meu irmão é fãzaço de Jorge Aragão, que é o compositor dessa canção e eu sempre achei a letra dessa música muito bonita, e o ritmo, o arranjo dela, era uma coisa muito expansiva, pra frente, muito rápido e eu nunca parei para prestar atenção nessa letra naquela época, a letra da canção. E é uma letra densa, embora eu ache a versão do pagode maravilhosa, acho linda. Todas as versões que eu já ouvi dessa canção, de pagode, eu acho maravilhosas, mas eu quis trazer quase que uma homenagem também, enfim, àquele momento na minha infância que eu ouvia esse pagodes e tal, e quis fazer essa versão para mostrar a letra da música, porque esse disco a palavra tá muito na frente, assim, sabe? Então foi quase que respeitando e atendendo os pedidos da versão, “faça uma versão, faça um disco de versões”, eu quis botar pelo menos uma canção para dar de presente ao meu público, uma homenagem também a meu bairro.
ZR: Qual é o bairro?
M: Iputinga, fica perto da Universidade Federal de Pernambuco, um bairro interessantíssimo.
ZR: Eu conheço Recife, mas não conheço Iputinga, ainda. Agora falando da minha experiência, eu acho que funcionou, viu? Porque se eu bem lembrar, acho que eu também não prestava muita atenção na letra quando eu ouvia com Jorge Aragão ou com outros sambistas.
M: Eu sempre tive essa impressão, é maravilhosa a música, quanto toca todo mundo canta junto, não sei o quê, e alguma vez eu ouvindo, eu falei, “mas gente, essa letra é muito densa, é um término, a pessoa vai embora, leva, aí o barraco desabou”…
ZR: Eu acho que essa tua versão contribui para a gente prestar atenção na mensagem que o compositor está trazendo.
M: Que beleza!
ZR: Bom, outra coisa que chama atenção no teu álbum é o título, “Interessante e Obsceno”. Aí eu fiquei pensando aqui, tentando estabelecer uma divisão, assim: interessante é o repertório, teu canto, a arregimentação, enfim, os elementos sonoros do trabalho; aí você aparece nu na capa, que é o título de uma das faixas. Eu queria saber de ti se é essa a obscenidade, ou se não, que você aprofundasse um pouco esse conceito.
M: Maravilha! É um pouco isso mesmo, você já identificou de pronto. Se você perceber, nas letras da canção, você vê que tem uma parte mais reflexiva, sei lá, como a música “Deixe” [ao longo da entrevista ele declama trechos de algumas letras]: “Deixe que tudo que há no corpo se revele/ pra que a vida cicatrize todo trauma/ pra que o desejo seja o anexo da pele/ e a liberdade o corpo físico da alma/ deixe que a sólida geleira descongele/ e a sensatez fluidifique o coração”, quer dizer, é uma letra mais pra dentro, uma coisa mais reflexiva e até a própria canção “Interessante e Obsceno” tem uma coisa de quase que um conselho que você dá para alguém, né?: “Espero que um dia você volte/ e torço que você esteja em paz/ aguardo o dia em que você solte/ aquilo que não te abraça mais”. Então essa parte mais interessante que eu quis abordar dentro desse nome do álbum, é um pouco isso, esse meu lado também mais reflexivo, assim, de falar pro outro individualmente, falar no ouvido aquela pessoa. E a parte obscena era em relação a essas coisinhas, tipo “Arrepia”, a canção “Arrepia”, que é um flerte, na canção “Deixa rolar” também, “quando teu bloco passou/ um suor, um calor”, tem a coisa do desejo, da paixão, do rompante, a própria música “Não duvido”, “eu tenho lábios de sorrir/ você tem dentes de quem quer morder”. Então, esses meus dois lados, assim, não que eu seja interessante, não é uma coisa no sentido de, como é que eu posso dizer?, uma modéstia. Mas são as possibilidades que uma pessoa pode ouvir as canções e entender que a gente tem esses dois lados. O interessante também pode abraçar outras coisas para além de interessante, pode ser da curiosidade, do conhecimento de si, é essa brincadeira. Tem a canção “Nu” também, né?, “não olha que eu me sinto nu”, então achei que podia ficar interessante uma capa assim pelado, mas tímida, né?, eu tou meio que rindo, olhando para baixo, “ai, tira logo essa foto pelo amor de Deus, acaba logo” [risos].
ZR: É um pelado sutil [risos]. Agora outra coisa: algumas faixas do álbum, incluindo a faixa-título, foram reveladas ano passado, no álbum ao vivo que você dividiu com Almério, outro nome pernambucano que também tem chamado atenção, a minha inclusive, que tem conseguido o merecido destaque. Eu queria que você relembrasse esse momento, esse álbum ao vivo em dueto com o Almério.
M: Certo. No ano de 2022 eu tinha feito um show com o Almério, num festival daqui de Recife, chamado Janeiro de Grandes Espetáculos. Então foi uma ideia, porque eu sempre admirei muito Almério, assim, eu conheci o trabalho dele, depois a gente se conheceu, ficamos amigos, no segundo disco dele, ele gravou duas canções que eu fiz e aí a gente foi e teve uma afinidade, e embora ele cante de uma forma muito expressiva, ele tem uma coisa na voz, uma projeção assim muito maior do que a minha, eu canto mais suave, mas ele tem essa coisa mais expansiva que eu não tenho, e isso para mim é tão bonito, porque eu aprendi. Curioso também que o tom da música que geralmente é bom para ele, é bom para mim. Então a gente já tem uma facilidade de cantar as canções, de ter o timbre um pouco parecido, mas ele é ainda mais expansivo do que eu, eu cantando ali mais suave, então quando a gente juntou isso nesse Janeiro de Grandes Espetáculos, a gente pirou, assim, “meu Deus, que massa!, funciona muito bem”, e a gente teve uma resposta muito boa do público. Então esse show começou um pouco assim, e ainda não tinha a canção “Interessante e Obsceno”, que a gente gravou, não tinha a canção “Deixe”, a gente inseriu depois, porque logo em seguida veio a pandemia, depois do carnaval, e todas as canções que eu gravei no meu disco eu fiz na pandemia, eu escrevi na pandemia, já agora no finalzinho. E aí quando teve essa primeira abertura da pandemia, a gente teve a ideia de voltar a fazer aquele show lá de 2020 e aí fomos inserindo essas canções, porque naquela ocasião também era muito importante dizer aquilo assim, sabe?, sobretudo a canção “Interessante e Obsceno”, mas inicialmente essas canções que eu fiz na pandemia eram canções pro meu próximo disco, eu já estava pensando nisso, “vou compor agora, quando eu puder, quando essa loucura acabar eu vou gravar um disco novo, meu segundo álbum de estúdio”. Só que aí rolou esse show antes, o repertório do meu álbum tava pronto, e eu tinha essas canções, que eu já tocava na internet, que as pessoas conheciam, e muitas versões, a galera cantando em todos os tipos, em xote, em reggae, sabe?, e a galera fazia muita versão, e aí, pô, essa música eu tinha feito pro meu disco, tinha guardado ela pro meu disco, mas eu falei, “sabe de uma coisa?, eu vou é cantar e gravar ao vivo com Almério”. Mas também, gravamos e muito legal, acho que o disco está há um ano nas redes, tem quase meio milhão de ouvintes, uma canção que aparentemente, para mim, tem um outro apelo, assim, não é uma canção, um hit mercadológito, e tal, não entra nesse nicho, assim, é uma MPB quase que clássica, aquelas coisas que a gente ouvia, sabe?, que Geraldo Azevedo poderia escrever, é muita pretensão minha dizer isso [risos], com todo respeito. Mas eu acho que ela tem uma adesão muito grande, muito por causa do texto. Então era uma canção que estaria no meu disco, só que eu disse “não, quer saber de uma coisa?: vou gravar antes”. Gravei com Almério no ao vivo, foi ótimo e fiquei preocupado porque o nome do meu disco também, desde o início, seria “Interessante e Obsceno”, eu fiquei preocupado, “puxa, eu vou gravar um disco novo agora, vou botar “Interessante e Obsceno”, só que é uma música que a galera já conhece, não tem um fonograma, né?, tem um ao vivo, mas não de estúdio, mas as pessoas já conhecem, eu vou lançar um disco novo com um nome antigo, vamos dizer assim, será que é estranho?”. Fiquei pensando isso, aí tentei fazer um nome diferente pro disco, e não vinha, não chegava, assim, passei meses, não conseguia chegar nada que me deixasse feliz. Enfim, conversando com meus produtores, com Rafa também, a gente chegou numa conclusão, eu falei: “realmente, o nome do disco é esse mesmo, eu quero também gravar essa canção numa versão de estúdio, porque só tem ao vivo, eu quero gravar do meu jeito, como eu pensei. E aí eu achei que foi bom, porque também abre um pouco o leque, as pessoas que me conhecem, que curtem meu trabalho e vão ali escutar e vão ficar emocionados com a versão nova e tal, e tem músicas inéditas. E a galera que não me conhece ainda, eu acho que vai ser legal ouvir, abrir, sei lá, uma plataforma que seja e ter um disco chamado “Interessante e Obsceno”, as pessoas vão querer saber o que isso quer dizer.
ZR: Eu acho que entre tantos, esse foi mais um acerto. Me diz uma coisa: vai ter em formato físico, ou só nas plataformas?
M: Olha, por ora a gente vai ter só plataforma, mas eu penso muito em fazer um vinil. Meu primeiro álbum de estúdio saiu em vinil, eu fiquei apaixonado pela ideia e teve uma adesão boa também, aí eu penso, estou estudando transformá-lo em vinil, vamos sentir, mas por ora vai sair só das plataformas
ZR: O trabalho não para, depois de gravação, agora lançamento, eu queria saber como é que está a agenda de divulgação, shows, enfim.
M: Pro meu show de lançamento a gente tá vendo uma data aqui em Recife em outubro, se não me engano, final de outubro, ou início de novembro. Enfim, eu queria lançar antes, provavelmente a gente está tentando fechar em São Paulo alguma coisa, mas ainda não tem nenhuma data definida do lançamento do meu disco solo. Mas com o Almério, esse show da gente tem 14 apresentações, até o final do ano a gente tá fazendo show, vai fazer Sesc São Paulo, Sesc Rio, Caixa Cultural Salvador, Brasília. Do meu disco solo não tem ainda agenda definida.
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Ouça “Interessante e Obsceno”: