O trompetista Arturo Sandoval, que toca neste domingo em São Paulo

Às portas de completar 75 anos (celebra em novembro), o trompetista, compositor, timbaleiro, tecladista e cantor cubano Arturo Sandoval ostenta um currículo invejável de colaborações com artistas de gêneros variados, começando com Dizzy Gillespie (1917-1993), seu mentor artístico. A história de como se encontraram daria um filme: o lendário Dizzy estava em Havana a passeio e Sandoval, que já era admirador do músico norte-americano, fazendo-se de “uber” cubano, ofereceu-se com seu carro para levar o gringo a conhecer a ilha. Assim foi. No fim da noite, Gillespie ficou chocado quando seu motorista subiu ao palco para tocar trompete com uma banda. O “chofer” era simplesmente formidável. Ambos então firmaram uma amizade que mudaria a vida do cubano para sempre: Dizzy ajudou Sandoval a fugir do regime castrista e, em 1987, Sandoval entrou no prédio da embaixada norte-americana em Roma, durante uma turnê, e pediu asilo político nos Estados Unidos.

Desde então, vivendo na Flórida, cimentou sua reputação como um dos maiores performers do trompete no mundo do jazz, com mais de 40 discos lançados. Flight to Freedom, de 1991, contou com uma big band que incluía Chick Corea e Danilo Perez. Colaborou em trabalhos de Michel Legrand, Tony Bennett, Josh Groban, Alicia Keys, a Filarmônica de Los Angeles, a Pittsburgh Symphony e a National Symphony Orchestra, entre muitos outros. Seu trompete já ressoou na festa do Oscar, na noite dos prêmios Grammy (já ganhou uma dezena) e dos prêmios Billboard. Já ganhou também um Emmy. No ano passado, foi agraciado com um Grammy Latino pela contribuição de uma vida à música.

Sandoval é considerado um dos pioneiros do chamado latin jazz, a fusão de elementos afrocubanos e harmonias de jazz, ao lado do seu mestre, Dizzy. Seus shows ao vivo são bem mais envolventes e virtuosos do que suas gravações, ele é um showman, e essa é uma apresentação imperdível. FAROFAFÁ conversou brevemente com o trompetista por telefone, nesta terça-feira, 9. Arturo Sandoval é a cereja do bolo do Festival BB Seguros de Blues e Jazz, evento gratuito que terá lugar no Parque Villa-Lobos no próximo sábado, 13 – com shows ainda do Bixiga 70, Renato Borghetti, Alabama Mike e outras feras.

FAROFAFÁ: O senhor tem uma grande contribuição à arte das trilhas sonoras de filmes de Hollywood. Já fez música para James Bond (a versão instrumental de Sem Tempo Para Morrer é dele) e para o filme O Pai da Noiva (Quiéreme Mucho), entre dezenas de outros.

ARTURO SANDOVAL: Eu amo tocar em trilhas sonoras. Mas não estou, nesse momento, trabalhando em nenhuma, sigo ocupado com minhas turnês. Hoje estou em Miami, depois de amanhã estarei no Brasil. Mas estou sempre aberto à possibilidade, basta me chamarem.

FAROFAFÁ: Dizzy Gillespie disse, certa vez: “Levei uma vida inteira para aprender o que não tocar”. O sr. tem algum tipo de música que não toca de jeito nenhum?

SANDOVAL: (Risos) Sabe, ninguém nunca me obrigou ou forçou a tocar qualquer coisa. Eu sempre toquei as músicas que me motivam, que tocam o público, que alcançam uma resposta da plateia. Essa é sempre a regra, toco a música que alcança sua ressonância no público.

FAROFAFÁ: Mas o sr. gosta, por exemplo, de hip-hop? Da música feita com máquinas, eletrônica?

SANDOVAL: Eu ouço de tudo. O que eu costumo dizer é que a música é uma só. Se for bem-feita, se tiver em si a alma do músico, sua honestidade, eu a respeito. Ouço bastante coisa que não é jazz, basta que me comova.

FAROFAFÁ: Falando sobre Cuba, que o sr. deixou há tantos anos. Outro dia o sr. tocou o hino nacional americano, Star Spangled Banner, na final de um jogo de beisebol. E essa entrevista está sendo feita em inglês. O sr. acha que Cuba é ainda uma parte fundamental da sua abordagem artística?

SANDOVAL: Eu sou um refugiado político. Mas comecei a tocar o trompete em Cuba, aos 11 anos. Saí de Cuba quando tinha 40 anos. Então, Cuba é parte fundamental do que sou, do que me tornei, do que carrego comigo. Será assim sempre.

FAROFAFÁ: Em 2022, o sr. esteve aqui em São Paulo e fez um concerto beneficente para crianças e adolescentes com câncer. O sr. faz isso frequentemente, apoia e também faz apresentações para estudantes. O que significa isso para o sr.?

SANDOVAL: Eu sou um professor. Lecionei durante 20 anos na Universidade da Flórida, mas agora estou aposentado. Entretanto, sigo ensinando, estou sempre disponível para ensinar, o que eu puder passar para os mais jovens eu vou tentar passar. O que puder fazer para melhorar a vida dos jovens, eu farei. E eu amo o Brasil. Dizzy Gillespie amava a música do Brasil, sempre mencionava isso durante nossas conversas. Gosto muito de samba e bossa nova e também do frevo. Mas nunca gravei frevo, eu adoraria gravar frevo um dia. Conheci pessoalmente Chico Buarque, com quem me encontrei para tocar em Cuba, e também Simone, Gal Costa. Ouvi sobre a morte dela. Toquei com Caetano Veloso na festa do prêmio Grammy. É um longo relacionamento e muito fértil.

FAROFAFÁ: O sr. vai completar 75 anos. Ganhou todos os prêmios possíveis da indústria musical, tocou na noite dos Oscars, tem música em dezenas de filmes. O que faz falta ainda para um músico com a sua reputação?

SANDOVAL: A única coisa que peço a Deus é saúde para seguir com a música. Seguir compondo, fazendo música, tocando. Eu amo a música, é isso que me alimenta e me faz seguir em frente.

SERVIÇO

Festival BB Seguros de Blues e Jazz

Dia 13 de abril, sábado

Onde: Parque Villa-Lobos – Ilha Musical (São Paulo)

Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2001 – Alto de Pinheiros, São Paulo – SP

Horário: Das 11h às 19h

GRÁTIS

Programação São Paulo – horários dos shows:

11h00 – Orleans Street Jazz Band

11h30 – Monk’s Dream Jazz Group

12h40 – Bixiga 70

13h50 – O Bando Rock & Blues

15h00 – Renato Borghetti

16h20 – Arturo Sandoval

17h40 – Alabama Mike

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