“Territórios em travessia, ocupar como base de um processo”

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"Territórios". Capa. Reprodução
"Territórios". Capa. Reprodução

Territórios (Rocinante, 2023), álbum de estreia da garota prodígio Gabriele Leite, é um assombro, que vem coroar uma trajetória de dedicação total à música, desde que, criança, simulava tocar violão empunhando uma vassoura, até o início dos estudos formais, no Projeto Guri, programa do governo estadual paulista gerido pela Santa Marcelina Cultura através de convênio com a Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas de São Paulo.

Nascida em Cerquilho, no interior paulista, em 1997, Gabriele Leite ganhou seu primeiro violão aos seis anos, presente do avô. Entrou no prestigiado Conservatório de Tatuí aos 11 anos e desde então vem amealhando prêmios nos mais importantes concursos do universo do violão clássico: em 2018, num intervalo de 15 dias, venceu o Souza Lima, Musicalis e Assovio Vertentes. Durante sua graduação na Unesp foi a ganhadora do Programa de Bolsas de Estudo Magda Tagliaferro, promovido pela Sociedade Cultura Artística.

Aluna do professor doutor Paulo Martelli, foi ele quem, orientando-a sobre o estudo do repertório de concursos e festivais, convenceu-a a morar fora do Brasil. A citada Sociedade Cultura Artística convidou-a para participar de um festival na Alemanha e em Koblenz ela chegou pela primeira vez à semifinal de um concurso internacional, defendendo a “Ritmata” de Edino Kriger (desenvolvida a pedido do maranhense Turíbio Santos), gravada por ela no álbum de estreia.

Na cidade alemã, após uma masterclass com o escocês David Russell, um dos principais nomes do violão na atualidade, ela ouviu dele um “te espero lá nos Estados Unidos”, convite fruto das boas impressões causadas pela violonista. Gabriele Leite tornou-se Mestre com Honrarias pela Manhattan School of Music, sob orientação do violonista Mark Delpriora, sendo a primeira mulher negra a obter tal grau na instituição.

Pioneirismo parece ser seu forte: Gabriele Leite foi a primeira violonista clássica a ter o nome incluído na lista “under 30” da revista Forbes, isso depois de ter conquistado o prêmio na categoria jovem revelação da revista Concerto, além dos prêmios Hubert Kuppel (Alemanha), Lillian Fuchs Chamber Music Competition (Nova York) e o Segovia Rose Augustine Award (idem).

Atualmente Gabriele Leite é doutoranda em Performance Musical na Stony Brook University e foi indicada pelo Consulado Brasileiro em Nova York para realizar o concerto de abertura da cerimônia de posse do Brasil como integrante temporário do Conselho de Segurança da ONU.

A síntese, se é que podemos falar assim, de tão intensa trajetória pode ser ouvida em Territórios, adequado título de seu álbum de estreia, em que passeia com desenvoltura por peças do britânico William Walton (1902-1983) e dos brasileiros Edino Krieger (1928-2022), Sérgio Assad (outro que se impressionou com a vocação e talento da violonista, assina um dos textos da contracapa do elepê) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959).

“Unindo tradição e inovação, Gabriele Leite empresta as cordas de seu violão a um mundo sedento por sua singularidade. Sua música transcende fronteiras, fundindo um estilo atemporal com seu espírito pioneiro – e sua jornada soa como um acorde brilhante na sinfonia de excelência”, anota Sérgio Assad, no citado texto da contracapa.

Territórios tem direção artística de Gabriele Leite, Sylvio Fraga e João Luiz Rezende, com produção musical dos dois últimos e direção musical do último. O álbum foi gravado por Pepê Monnerat, no Bunker Studio (Brooklyn, Nova York).

Sobre a violonista, também na contracapa, anota Pedro Mattos (de onde roubei a manchete): “No violão de Gabriele Leite não há notas erradas, muito menos corretas. Nele habita a dança de um corpo encantado. O livre trânsito dos territórios possíveis e, por que não, impossíveis. Carregado de pureza no gesto, porém estruturado com inteligência”. E arremata: “Cada palmo percorrido aqui se faz descoberta. Em Gabriele Leite os territórios não se encerram ou, tampouco, possuem fronteiras: tudo se amplia na potência do que ela representa”.

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Ouça Territórios:

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