O afogamento da lagoa

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A Lagoa dos Dinossauros agoniza em Salvador

A catinga começou a ser sentida há pouco mais de uma semana. Quando o Sol fica mais forte, no início da tarde, ela aumenta consideravelmente, tornando difícil o trabalho dos congierges do hotel que fica atrás da lagoa, fazendo penoso o esforço de almoçar num restaurante qualquer da área. Logo, os moradores da região, além dos hóspedes dos hotéis e o pessoal que fica preso no trânsito começaram a desconfiar que o cheiro fétido vinha da própria Lagoa dos Dinossauros, a antiga Lagoa dos Frades, no bairro Stiep, em Salvador (nas imediações do antigo Centro de Convenções).

Com 16.470 m2, a Lagoa dos Dinossauros ganhou esse nome somente em 2021, quando o então prefeito Bruno Reis empreendeu ali uma obra de requalificação urbana de 9 milhões de reais, implantando réplicas de dinossauros no entorno do parque para incrementar as visitações. “Estivemos aqui há pouco mais de um ano e nos deparamos com um lugar completamente abandonado, com esgoto alimentando a lagoa, sem peixes, sem patos. As pessoas não frequentavam esse local. Decidimos, portanto, implantar um projeto arrojado e impactante”. A lagoa então passou por um processo de aeração, para melhorar as condições da água. Foram jogados cinco mil alevinos, para aumentar o número de peixes. A mata do entorno, resquício de Mata Atlântica, abriga camaleões, micos e pássaros de diversos tipos.

Mas, aparentemente, o hábito de derramar esgoto na Lagoa dos Dinossauros não foi interrompido. Passados dois anos, a lagoa protagoniza um processo doloroso de afogamento por derramamentos clandestinos. É como assistir a um assassinato ao vivo e em cores – a mancha de esgoto vai tornando azul a água da lagoa, de onde emana o forte cheiro que chega a causar náuseas na vizinhança. Informada do problema, a fiscalização da Prefeitura veio até o bairro, fez algumas diligências e chegou à conclusão que o esgoto que polui implacavelmente a lagoa provém de um condomínio próximo. Multou o condomínio, mas a poluição parece que se intensificou desde então. Havia informações de que a Prefeitura iria multar novamente o mesmo prédio essa semana, mas a multa por crime ambiental é irrisória, dez vezes menor do que uma multa do Psiu por poluição sonora (essa tolerância ao abuso ambiental, de resto, é uma marca social do País todo).

É duro observar a agonia lenta da lagoa sem que nada, aparentemente, possa ser feito de forma rápida e emergencial. A TV esteve por lá, fez o seu papel, mas parece que a opção do cidadão brasileiro é quase sempre torcer intimamente para que algo aconteça a tempo. O Stiep é um agradável bairro de Salvador na região da Pituba, perto da Boca do Rio. Residencial, mas com forte crescimento de edifícios empresariais, diz o guia. O nome do bairro origina-se da sigla Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Extração de Petróleo da Bahia, que tinha sua sede instalada no local décadas atrás.

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