A cantora e compositora Bárbara Eugênia - foto: divulgação
A cantora e compositora Bárbara Eugênia - foto: divulgação

Desde sua estreia com Journal de Bad (2010), a cantora e compositora fluminense Bárbara Eugênia vem se firmando como uma das vozes mais interessantes da música popular brasileira deste início de século.

Artista de múltiplas facetas – inclusive sua persona DJane Fonda, com que frequenta pistas eletrônicas entre repertório autoral e releituras gringas –, ela passeia com tranquilidade por gêneros os mais diversos, da balada ao bolero, do frevo ao forró, entre muitos outros.

"Uno". Capa. Reprodução
“Uno”. Capa. Reprodução

Uno (2023), seu álbum mais recente, sucede Foi Tudo Culpa do Amor (Pérolas Populares, vol. 1), dedicado a repertório romântico comumente tachado de brega, e o EP the return of DJane Fonda, assinado por seu alter-ego, ambos lançados também em 2023 e disponíveis nas plataformas digitais.

Produzido por Bárbara Eugênia, Uno chama a atenção desde a capa, de Camile Sproesser. Atualmente morando em Portugal, a artista se aproxima da América Latina, em álbum cantado em português, espanhol e inglês, celebrando a diversidade (linguística, musical, temática) em um trabalho que serve como um alerta para a necessidade de re/conexão da humanidade com a natureza.

O álbum tem ecos de Mercedes Sosa (1935-2009) e Violeta Parra (1917-1967), entre outras. A quilométrica “Volamos Como Aguilas – Hey Wichichayo”, que abre Uno com seus quase nove minutos de voz (Bárbara Eugênia), tambor lakota (idem) e coro (Amala Shakti Devi, Anna Grabner, Djiiva, Lidia Lins, Lina Lahlou e Reachel Singh), atesta as referências.

É um disco de conexões e a ele comparecem músicos como Ricardo Dias Gomes (synth; baixo em “Pachamama”), Domenico Lancelotti (bateria e percussão) e Raul Misturada (violão e arco), entre outros. Bárbara Eugênia também se acerca de convidados para cantar as 11 faixas compostas solitariamente: Luiza Brina (voz e violão) em “Amor Brilhar”, Chankas (violão e guitarra slide) e Kinda Assis (viola clássica e coro) em “Waiting For The Sun” – a violista aparece também em “Mahakali Ma” –, e Mari Segura (voz) e Nacho Rodriguez (voz) em “Pachamama”.

O canto delicado de Bárbara Eugênia conduz o ouvinte a uma viagem sensorial e o convida a uma reflexão sobre suas relações com o outro e a natureza, sem que artista e álbum soem panfletários. “Agradece” e “Amor Brilhar” são preciosas lições de sabedoria e gratidão: engolidos pelo corre-corre cotidiano em busca do pão de cada dia, quase nunca lembramos de agradecer pela luz do sol, por exemplo. “Abre as portas do seu coração/ agradece/ abre as portas da imaginação/ sente o ar e sente o calor do sol/ agradece por tudo que vibra”, começa a primeira; “o amor vai encontrar seu porto aqui/ os ventos trazem luz pra quem sorrir/ abre o coração/ deixa entrar o som/ abre o coração/ deixa entrar a luz/ a gente quer é viver sem medo/ de peito aberto/ mente calma/ na paz/ e talvez um pouco de sol”, provoca-deseja a segunda.

Guerras e tragédias ditas “naturais” são fruto da estupidez humana. A arte salva, há provas de sobra. A música de Bárbara Eugênia é bem-vinda cura.

Serviço: A cantora e compositora Bárbara Eugênia é a entrevistada do Balaio Cultural do próximo sábado (21). O programa, produzido e apresentado por Gisa Franco e este resenhista, vai ao ar às 13h, na Rádio Timbira.

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Ouça Uno:

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