Elenco da peça
Elenco da peça "De Perto Ninguém é Normal", com a Cia Teatro Epigenia - Foto: Ronaldo Gutierrez

Convém o espectador saber que De Perto Ninguém é Normal, com a Cia Teatro Epigenia, é um meta-teatro, ou seja, o enredo fala de teatro dentro do próprio espetáculo. No caso, a comédia brinca com a ideia de que a peça a ser encenada sequer teve um derradeiro ensaio antes de estrear para o público. Não é preciso ser adivinho para perceber que as cenas e as situações cômicas no palco vão se alternar nesse jogo entre realidade e ficção, produzindo o riso fácil pelas várias confusões previsíveis.

O nome da peça, De Perto Ninguém é Normal, é uma remissão a um personagem dentro da dramaturgia que é um autor de… teatro. Mas o espetáculo que eles, em tese, estariam se preparando para apresentar ao público faz referência a outro espetáculo, Arsenic and Old Lace, de Joseph Kesselring. Gustavo Paso, que assina a dramaturgia e a direção, inspirou-se livremente nessa peça, que é uma comédia de humor macabro ambientada nos anos 1940. Duas irmãs idosas, Abby e Martha Brewster, são reconhecidas como senhoras bondosas e caridosas pela sociedade. Donas de um hotel/albergue, elas na verdade são obcecadas em assassinar pessoas solitárias e enterrar seus corpos na adega.

Em De Perto Ninguém é Normal, a atriz Clara Carvalho vive a personagem Abby Bishop e Regina Maria Remencius é Martha Bishop. São elas que orquestram seu plano de matar pessoas inocentes num dia como outro qualquer. O “dramaturgo” dentro da peça é Mortimer Bishop (Marcelo Varzea), crítico de teatro, e que tem um relacionamento com Elaine (Luciana Fávero). O pacto com o público em torno do meta-teatro se dá poucos minutos após o espetáculo se iniciar e ser interrompido por Milhem Cortaz, que vive o personagem Jack Bishop, mas também é o “diretor” do espetáculo.

Por escolha da Teatro Epigenia, uma companhia carioca, o meta-teatro praticamente desaparece assim que a peça De Perto Ninguém é Normal “estreia” e o público passa a assistir o desfecho da história que gira em torno de Abby e Martha. Já não caberia, evidentemente, interromper a encenação, apesar dos vários erros visíveis que acontecem diante de todos. Não deixa de ser engraçado perceber que a intencionalidade de desnudar a arte do teatro acaba por tornar o “espetáculo” dentro da montagem uma aula cômica de como não fazer teatro.

Em cartaz no Teatro do Sesi, em São Paulo, De Perto Ninguém é Normal fica em cartaz em longa temporada, até 2 de julho. Para quem ficou curioso com o nome da peça dentro da peça, o título é uma homenagem de um verso contido em Vaca Profana, composição de Caetano Veloso e eternizada na voz de Gal Costa: Mas eu também sei ser careta/ De perto, ninguém é normal/ Às vezes, segue em linha reta/ A vida que é meu bem, meu mal.


De Perto Ninguém é Normal. Com a Cia Teatro Epigenia. No Teatro Sesi-SP, quintas e sextas-feiras e sábados, às 20 horas; e domingos às 19. Reservas em www.sesisp.org.br/eventos. Grátis.
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