Performance La Bête
Alvo do fundamentalismo religioso à brasileira em 2017, La Bête será reapresentada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, dia 10 de março, às 19h e às 21h. Foto: Caroline Moraes

Alvo do fundamentalismo religioso à brasileira em 2017, La Bête será reapresentada em São Paulo pela primeira vez, em duas sessões, no dia 10

A performance La Bête (O Bicho), do bailarino e coreógrafo Wagner Schwartz, tinha 12 anos quando foi tomada de assalto pela reação de lideranças religiosas e forças políticas conservadoras a um fragmento jogado na internet de uma apresentação em setembro de 2017, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Nu no palco e interagindo com uma escultura da série Bichos (1960), de Lígia Clark, e com o público, Schwartz viu-se acusado de artista pedófilo graças à disseminação da cena em que uma criança na plateia lhe tocava o tornozelo.

Prenúncio da chegada da era bolsonarista, o episódio serviu à demonização da arte e dos artistas brasileiros pela nova elite político-religiosa. Agora, La Bête volta à cena paulistana pela primeira vez desde os acontecimentos de setembro de 2017, em duas apresentações gratuitas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, dentro do circuito FarOFFa , na terça-feira, dia 10. Radicado há 15 anos em Paris, na França, Schwartz fala sobre a vertigem que sobressalta La Bête e o Brasil.

CartaCapital: Que balanço você faria do que aconteceu entre a apresentação anterior de La Bête no Brasil e esta volta, três anos depois? 

Wagner Schwartz: A apresentação que se transformou em polêmica de La Bête, aconteceu no MAM, em setembro de 2017. Estamos no segundo ano continuado desta exposição, quero dizer, faz pouco mais de dois anos que esta performance continua acontecendo na mídia, na fala das pessoas. Na apresentação anterior, não tínhamos o atual presidente do Brasil no poder, a extrema-direita instaurava um laboratório para angariar votos, e o ataque às artes foi fundamental para testar o funcionamento das fake news. Hoje, temos um presidente eleito a partir de fake news que demonizaram os artistas e a arte brasileira. Conseguiram convencer eleitores distraídos a se tornar aliados através de um discurso moralista, baseado em crenças religiosas, em que crianças estariam em perigo caso a esquerda viesse a governar este país. Neopentecostais difundiram esta hipótese, apoiaram este discurso falacioso. Paradoxal, não? A mentira continua solta.

CC: As consequências para você foram muitas em 2017, num momento ainda pré-Bolsonaro. Qual sua expectativa para esta volta em circunstâncias ainda mais graves?

WS: Não há expectativa, há um desejo de me reapropriar de um território que me foi retirado à força, de me reaproximar do Brasil, das pessoas que defenderam La Bête porque elas se tornaram La Bête.

CC: O que sua performance tem a comunicar para o Brasil de 2020?

WS: A mesma coisa que ela tinha para comunicar em 2005, quando foi criada, e em 2017, quando foi assaltada. É o Brasil que vai me dizer o que ela causou depois de ter sido vista em 2020.

CC: Que impressões lhe provoca o Brasil atual? É inspirador artisticamente?

WS: O Brasil atual está vertiginoso politicamente, mas precisamos lembrar que tudo isso se passa neste momento. Ter em mente que esta situação é reversível é o que me inspira. 

 

La Bête. Concepção e performance de Wagner Schwartz. Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo). Dia 10 de março, às 19h e às 21h. Grátis.
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