Show de João Gilberto é lançado em álbum físico e digital pelo Selo Sesc

0
629
João Gilberto durante o show de 1998 no Sesc Vila Mariana, agora registrado em disco. Foto: Acervo Sesc Audiovisual. Divulgação
João Gilberto durante o show de 1998 no Sesc Vila Mariana, agora registrado em disco. Foto: Acervo Sesc Audiovisual. Divulgação

Com 36 faixas, apresentação ao vivo do baiano inventor da bossa nova inaugura a coleção Relicário, do Sesc/SP

Exatos 25 anos depois – na próxima quarta-feira (5 de abril) – o show realizado por João Gilberto (1931-2019) no então recém-inaugurado Sesc Vila Mariana ganha registro em álbum físico e digital: com 36 faixas, o duplo “Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)” [Selo Sesc, 2023] inaugura a coleção Relicário, com que o Selo Sesc disponibilizará gravações históricas realizadas nos palcos das unidades do Sesc em São Paulo, desde a década de 1970.

A escolha é acertada – e conta com supervisão artística da cantora Bebel Gilberto, filha de João e Miúcha (1937-2018). É indiscutível a importância do inventor da batida revolucionária ao violão que caracterizou a bossa nova e seu conhecido perfeccionismo acabou por tornar as três apresentações que fez em minitemporada no Sesc Vila Mariana uma espécie de prova de fogo da acústica do lugar, aprovada com êxito, como prova o registro ao vivo. A acústica perfeita foi uma das quatro exigências do juazeirense para realizar as três apresentações – as outras foram um banco para piano, um tapete persa e uma mesa para violão.

Em meio à execução impecável, marca do artista, ao final de “Louco” (Henrique de Almeida [1917-1985]/ Wilson Baptista [1913-1968]), 10ª. faixa do primeiro disco, ouvimos João comentar: “estou achando duras as cordas do violão”. Em seguida ataca “Pra que discutir com madame?” (Janet de Almeida [1919-1946]/ Haroldo Barbosa [1915-1979]). Antes de cantar “Retrato em branco e preto” (Tom Jobim [1927-1994]/ Chico Buarque), desculpa-se com a plateia e chama Octávio Terceiro [1936-2020], então seu empresário. Após cantar “Chega de Saudade” (Tom Jobim/ Vinícius de Moraes [1913-1980]), com a plateia em coro, revela: “eu adoro esse coral; às vezes eu quero pedir mais, mas eu fico com vergonha, eu digo aos amigos”. O coro do público volta a atacar em “Eu Sei Que Vou Te Amar”, também de Tom e Vinícius.

Em 60 anos de carreira, contados a partir da estreia com “Chega de Saudade” (1959), João Gilberto gravou poucos discos. O lançamento de “Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)” não é, no entanto, algo para satisfazer apenas ouvidos órfãos de joãogilberteanos iniciados. Em busca da perfeição, parecia sempre perseguir superar a si mesmo: nunca fazia dois shows iguais e talvez nunca tocasse uma música do mesmo jeito duas vezes, o que também se pode perceber ouvindo este novo registro. Ele chega mesmo a, por vezes, mexer nas letras e no andamento de algumas canções, tornando-se uma espécie de coautor, tão características são suas interpretações.

Uma curiosidade do repertório é “Rei Sem Coroa” (Herivelto Martins [1912-1992]/ Waldemar Ressurreição [1914-1980]), cantada por João Gilberto em shows, mas até aqui inédita em disco. A instrumental “Um Abraço no Bonfá”, inspirada homenagem ao violonista Luiz Bonfá (1922-2001), é a única do roteiro de autoria do próprio João Gilberto. Pelos números estão clássicos bossanovistas e sambas antigos selecionados pela prodigiosa memória do músico, de compositores de sua predileção, como Ary Barroso (1903-1964), Dorival Caymmi (1914-2008) e Tom Jobim, o mais constante, com 14 músicas nos dois volumes.

Grafite do artista visual Speto, no Centro de São Paulo. Foto: Daniel Frias. Divulgação
Grafite do artista visual Speto, no Centro de São Paulo. Foto: Daniel Frias. Divulgação

A capa de “Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)” reproduz um grafite de Speto, nome de destaque na arte urbana brasileira, realizado por ele em 2020, em um prédio na Avenida Senador Queirós, nas imediações do Mercado Municipal da capital paulista. O artista desenhou o papa da bossa nova usando o mínimo de traços possível, aludindo ao minimalismo do movimento e do violonista, que é retratado sentado, abafando o violão, como se silenciasse o instrumento ao fim de um ato.

Agenda – O lançamento de “Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)” será marcado por um bate-papo, no mesmo palco em que se deu o concerto agora registrado em disco. Dia 5 de abril, às 20h, no Teatro Antunes Filho (Sesc Vila Mariana), a jornalista Roberta Martinelli medeia a conversa entre o cantor, compositor, pianista e ensaísta José Miguel Wisnik, o cantor e violonista Renato Braz (que dedicou o álbum “Silêncio” [2014], com Nailor Proveta e Edson Alves, ao repertório de João Gilberto) e o diretor regional do Sesc/SP Danilo Santos de Miranda. Na ocasião será gravado um especial do programa Som a Pino, que Martinelli apresenta na Rádio Eldorado.

“Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)”. Capa. Reprodução
“Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)”. Capa. Reprodução

Serviço – “Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998)” será lançado na plataforma Sesc Digital dia 5 de abril, com o bate-papo acima; na mesma data, o single “Rei Sem Coroa” chega a outras plataformas de streaming; dia 26 o álbum completo será lançado em cd e chega a todas as plataformas digitais. Outras informações sobre o álbum inaugural e a coleção “Relicário” no site do Sesc/SP.

PUBLICIDADE

DEIXE UMA REPOSTA

Por favor, deixe seu comentário
Por favor, entre seu nome