De criação em criação, a Cia LaMínima cria dificuldades crescentes, mas daquelas que todos gostariam de enfrentar. A maior delas é como se superar a cada novo espetáculo. Desta vez, a trupe circense apresenta A Divina Farsa, uma divertida comédia capaz de levantar a alma do espectador, tão carente de leveza em tempos tão radicalizados, e de apagar com brilho as velinhas pelos seus 25 anos de existência.
A Divina Farsa é o 17º espetáculo do LaMínima, e iniciou sua jornada de apresentações no Itaú Cultural, em São Paulo. A nova peça rende uma homenagem ao circo e ao teatro, artes que a companhia fundada pela dupla de palhaços Domingos Montagner (falecido em 2016) e Fernando Sampaio, em 1997, dominam com maestria.
No palco, Dionísio (Alexandre Roit), o filho bastardo de Zeus (Fernando Paz), reivindica um espaço no panteão dos deuses e deusas. Naquele momento, está se decidindo quem descerá até a Terra para salvá-la de mais uma crise entre os mortais. O escolhido, Apolo (Fernando Sampaio), é enviado ao mundo terreno e acaba parando no Circo Olimpo, onde conhecerá um grupo mambembe cheio de personalidade. Dionísio, o deus do vinho e do teatro, decide tramar contra o meio-irmão, tentando manipular o elenco do circo, criando uma série de situações que acabam por gerar conflitos e, em contraposição, a esperança.
A dramaturgia de A Divina Farsa é de Newton Moreno e Alessandro Toller, enquanto a direção artística, de Sandra Corveloni. No palco, o destaque vai para o elenco feminino, composto pelas atrizes Rebeca Jamir, Marina Esteves e Mônica Augusto, que interpretam deusas que introduzem os melhores questionamentos nos embates entre o que vem a ser o divino ou o sagrado e o mundano. Como bom grupo circense, o LaMínima não abre mão das coreografias e danças, pantomimas e da música, que fazem o espetáculo passar voando.
Em 2018, o LaMínima havia apresentado Ordinários, um espetáculo trágico-cômico, que tocava na ferida das estúpidas guerras pelo mundo. Três soldados descobrem que são inaptos para o serviço militar e logo se põem a questionar o que estão fazendo uniformizados e armados. A peça anterior não deixava de provocar risos no meio de uma discussão do absurdo dos conflitos armados. Desta vez, o embate é de outra natureza, e o público é convidado a desvendar uma farsa bem diante de seus olhos.