O poeta Fernando Abreu. Foto: Eduardo Júlio. Divulgação
O poeta Fernando Abreu. Foto: Eduardo Júlio. Divulgação

O poeta Fernando Abreu realiza hoje (31) o sarau “Bob & Bob – I and I”, ocasião em que torna a autografar seu mais novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022).

O evento alinhava poemas de Fernando Abreu com músicas de Bob Dylan e Bob Marley (1945-1981) e acontece no Café Teatro Cazumbá (Rua Portugal, esquina com Beco Catarina Mina, Praia Grande), com entrada franca.

Fernando Abreu será acompanhado pelo guitarrista Lucas Ferreira (Babycarpets). Haverá ainda discotecagem de Ademar Danilo, que em seu set promete versões exclusivas de clássicos de Dylan em ritmo de reggae.

O poeta conversou com exclusividade com Farofafá.

ENTREVISTA: FERNANDO ABREU

ZEMA RIBEIRO – O recital marca uma nova noite de autógrafos de seu novo livro, “Esses são os dias”. Qual será o seu formato e em termos de repertório, o que o público pode esperar de “Bob & Bob – I and I”?
FERNANDO ABREU – Além de reafirmar conexões entre poesia e música popular, esse recital celebra a criação de dois autênticos heróis culturais do século XX. Dois artistas que elevaram a música pop à categoria de arte, injetando poesia direto nela. Apesar de ser algo despretensioso em uma época em que tudo precisa ser espetacular, épico, não tenho conhecimento de nenhuma iniciativa unindo no palco a obra desses dois bardos pop. O clima é mesmo de celebração, espero que as pessoas curtam, relaxem e se divirtam.

Esses são os dias. Capa. Reprodução
Esses são os dias. Capa. Reprodução

ZR – Qual a importância dos Bobs Dylan e Marley em tua formação poética?
FA – Sou um filho da contracultura, nasci em 1965. Esse é um dado que não pode ser ignorado, não como nostalgia, mas como um divisor de águas. É toda uma gama de referências que se abrem dessa época em diante. É nesse contexto que situo a importância desses dois gigantes. Acho, por exemplo, que “rasta”, a seu modo, é o último brado contracultural, que reverbera até hoje.

ZR – A pulsação regueira de “Infidels” [1983], de Bob Dylan, parece ser o ponto mais comum entre o astro americano e a música jamaicana. É um de teus discos prediletos dele? Que outros álbuns indispensáveis dele e de Bob Marley você poderia citar?
FA – Sim, “Infidels” está entre os meus preferidos, é um disco de ótimas cancões, “Jokerman” entre elas, mas também pela presença dos dois rastamen (Sly [Dunbar, baterista], e Robbie [Shakespeare, baixista (1953-2021)]) que deram ao disco uma personalidade singular. Gosto de quase tudo dessa dupla, fica difícil citar, mas arrisco dizer que “Survival” [1979] talvez seja o disco mais completo de Bob Marley.  Bob Dylan… se tivesse que escolher só um ficaria com “Desire” [1976] e “Blonde on Blonde” [1966], ou seja, ficaria com dois [risos].

ZR – Além de poeta você é letrista de música popular. Um grande sucesso assinado por você é o reggae “Guru da galera”, parceria com Zeca Baleiro, e durante a pandemia você fez, com Celso Borges, uma versão de “Small axe”, de Marley. Quero te ouvir sobre estas conexões e de que modo elas se farão presentes ao sarau.
FA – CB assina comigo duas versões livres que estão no repertório do recital: uma é “Machado Afiado”, feita a partir de “Small Axe”, dos primórdios dos Wailers, que conta com versão definitiva da banda “The Gladiators”. Foi composta, a versão, no contexto da luta antifascista no Brasil que, aliás, apenas começou com a derrota nas urnas do genocida Bolsonaro: “você me dá pão e circo/querendo se dar bem/mas o pau que dá em chico/dá em francisco também”. A outra é uma aventura pelas criações caudalosas de Bob Dylan, nesse caso, uma história de amor desencontrada chamada “Simple Twist of Fate”, onde nos permitimos um nível de liberdade tamanha a ponto de mencionar o Chico Maranhão na letra. Adoro o resultado nos dois casos, sem modéstia alguma, viajamos bastante e mantivemos total fidelidade ao espírito das duas canções.

ZR – A organização de teus livros nos faz crer em uma extrema disciplina do poeta. Você já está trabalhando em um livro novo? O que pode nos adiantar?
FA – Sim, de uns tempos pra cá nunca mais parei de escrever poesia. E quando não estou escrevendo, aí  mesmo é que estou trabalhando, de antenas ligadas, observando, sentindo e processando. Essa é minha forma de estar no mundo, assim sou feliz mesmo estando triste às vezes. O trabalho de Jah nunca termina, diz o rasta. Precisamos fazer a nossa parte na criação, não é? Eu tento. Tem sempre um livro novo a caminho. Tenho um projeto antigo de um livro chamado apenas “reggae”. Quem sabe esse recital faz ele sair? Veremos.

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