“Extremistas.br”, o cachorro morto da Globo

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Still da série documental Extremistas.br
Still da série documental Extremistas.br

Se depender da TV Globo, Jair Bolsonaro é o cachorro morto da política brasileira. Sem papas na língua, firulas ou voltas na narrativa, a série Extremistas.br, que estreou na Globoplay, mira e acerta em cheio na jugular da direita radical. Durante dois anos, jornalistas da emissora passaram a acompanhar diferentes personagens pró-Bolsonaro, inclusive nos acampamentos que perduravam até dias atrás nas frentes dos quartéis. O resultado é uma radiografia precisa sobre a barafunda sociopolítica em que o Brasil se meteu.

Em cinco capítulos, com três já disponíveis, Extremistas.br segue personagens emblemáticos entre os defensores de Bolsonaro. Em cada um deles, são perfiladas as histórias que revelam diferentes aspectos desse movimento ultra radical. No episódio “Indignação”, um produtor explica como mobiliza a raiva e o ódio coletivos à base de baldes de desinformação. A estratégia foi combatida pelo deputado André Janones (Avante), que não esconde usar dos mesmos recursos da direita, equilibrando minimamente a balança do jogo sujo nas redes sociais. “Sitiados” retrata o risco de um País militarizado, em que parte substancial dos apoiadores do ex-presidente são homens fardados. O diálogo é imediato com o episódio seguinte, “Armados, em nome de Deus”, que revela que o fanatismo religioso é capaz de abençoar armas para “proteger a família”.

Com direção de Caio Cavechini, a série deixa claro o modus operandi fascista e alienado que move os bolsonaristas. A produção não teve dó de retratar a tacanhez do pensamento político da direita, expondo o quão frágeis e, paradoxalmente, fortalecidos são os “soldados” extremistas do exército do ex-presidente. Embora o trabalho seja de fôlego, os fatos acabaram por atropelar a produção. Às vésperas de ir ao ar, ocorreu a tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. Com a velocidade de uma emissora que tem no jornalismo um de seus carros-chefes, as imagens da destruição em Brasília já se fazem presentes desde o primeiro episódio.

A série se ancora ainda em especialistas, a maioria deles em segurança pública, para desatar o nó da radicalização da direita no Brasil. Ao mergulhar no esgoto dessa parte da política, Extremistas.br é capaz de dar um embrulho no estômago do telespectador, ao mesmo tempo em que assusta por dar a nítida sensação de estamos longe de um final feliz. E a dura verdade é que a produção global não será capaz de dar conta de revelar os muitos episódios da vida real que ainda estão por vir. Em vez de uma biografia, produziu um perfil, um recorte temporal, mas que no calor dos acontecimentos já é bastante útil para retomar o direito à narrativa, sequestrada por Bolsonaro e seus asseclas nos últimos anos.

Extremistas.br não é um panfleto do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tampouco apenas uma peça publicitária contra o ex-presidente, que se autoexilou em Orlando, nos Estados Unidos. Mas é inegável que a série chuta sem dó Bolsonaro como o cachorro morto que o Brasil sem limites e desalmado defendido pela turba dos destruidores da democracia insiste em venerar.

Extremistas.br. De Caio Cavechini. Em streaming na Globoplay.

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