O filme Wasp Network tem desagradado de Havana a Miami

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Cena do longa-metragem Wasp Network
Wasp Network, longa-metragem de Olivier Assayas, tem colhido comentários negativos não pelo que é, mas pelo que aparenta ser

Wasp Network, longa-metragem de Olivier Assayas, tem colhido comentários negativos não pelo que é, mas pelo que aparenta ser

O crítico de cinema Luiz Zanin, em um post de Facebook, afirmou que gostou muito de Wasp Network: Rede de Espiões, em streaming na Netflix. “O filme tem vida, brilho, e os personagens são de carne e osso, tridimensionais”, sintetizou. Foi o bastante para chover críticas ao crítico. Não só ali. O longa de Olivier Assayas têm se saído muito mal nas avaliações de sites como IMDB e Rotten Tomatoes. Mas, com toda elegância, Zanin lembra que esta é daquelas obras que se encaixam com perfeição na parábola dos cegos e do elefante. O ensinamento dessa parábola é o de que a visão de cada pessoa será sempre limitada, mas que uma boa síntese se dá pela soma de olhares distintos. 

Wasp Network tem desagradado de Havana a Miami, o que em si já é um bom sinal. O filme é inspirado no livro de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, que narra a história real dos cinco cubanos, oficiais da inteligência do governo de Fidel Castro, presos na Flórida e condenados por espionagem. Nos anos 1990, após o fim da União Soviética e da ajuda do bloco comunista, o povo cubano sofre as consequências do criminoso embargo comercial dos Estados Unidos. É para lá que anticastristas se exilam para conspirar contra o governo de Fidel. É entre os dois países que o longa transita.

René González (vivido pelo ator Edgar Ramirez) é um piloto que foge de Cuba em um avião que parece sobrevivente da Segunda Guerra, deixando para trás a mulher Olga (Penélope Cruz) e a filha. Em Miami, ele entra para o grupo de anticastristas e é visto como traidor da pátria, um gusano. Juan Pablo Roque (Wagner Moura), também piloto, se junta ao grupo e se apaixona por Ana Margarita (Ana de Armas), filha de exilados cubanos. No meio da narrativa, o diretor provoca uma completa reviravolta no filme ao introduzir o personagem Gerardo Hernandez (Gael Garcia Bernal), reposicionando os papéis de cada um dos personagens, todos interligados na tal “rede vespa” (wasp, em inglês) de espionagem.

Olivier Assayas (Carlos e O Chacal) acaba por construir um filme pró-castrista. É um contraponto à avalanche de filmes e séries que narram um mundo em que muçulmanos, russos e cubanos devem ser odiados. O diretor não tem medo de lançar mão de personagens caricatos, como o terrorista da extrema-direita Luis Posada Carriles, apoiador da Fundação Nacional Cubano-Americana, fundada por Jorge Mas Canosa. Esse é um dos motivos que geraram críticas e até um pedido de boicote ao filme em Miami. Bolsonaristas fariam o mesmo se Lula, O Filho do Brasil, de Fábio Barreto, fosse lançado agora. Outra crítica é em relação ao vaivém de idiomas e sotaques. Wagner Moura, por falar em inglês, espanhol e russo, não é poupado das críticas.

O elefante Wasp Network tem tromba, pernas grossas, corpo paquidérmico e cauda longa e merece ser visto por inteiro. Em tempos pandêmicos, em que as horas excedentes de streaming transformam todos em críticos de cinema, o melhor conselho é: assista e tire suas próprias conclusões.

Wasp Network: Rede de Espiões. De Olivier Assayas. Na Netflix, 127 minutos.
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