Mais de 50 anos depois, “Agontimé e sua lenda” ganha tradução em português

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Agontimé e sua lenda. Capa. Reprodução
Agontimé e sua lenda. Capa. Reprodução

Lançamento acontece hoje (9), às 18h, na Casa das Minas

Organizado pelo historiador Henrique Borralho e pelo tradutor Carlos Eugênio Marcondes de Moura, ambos professores, será lançado hoje (9), às 18h, na Casa das Minas (Rua de São Pantaleão, 857, Centro), o romance histórico “Agontimé e sua lenda – rainha na África, mãe de santo no Maranhão”, da norte-americana Judith Gleason (1929-2012), originalmente publicado em 1970 e pela primeira vez traduzido para o português e lançado no Brasil.

A presente edição da obra foi viabilizada por edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e é uma coedição da Editora da Universidade Estadual do Maranhão (Eduema) e Pitomba! livros e discos, com caprichado projeto gráfico e diagramação de Bruno Azevêdo, que assina também a capa – a imagem de um pingente representando a máscara da rainha mãe, século XVI, etnia Edo, autor desconhecido, do acervo do The Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque.

“Quando eu fiz Antropologia com [o professor Sérgio] Ferreti na graduação ele havia me falado nesse romance, que nunca havia sido traduzido, mas isso em 1994, eu esqueci completamente. Quando foi no ano passado, o Alessandro [de Lima Francisco], que é um professor [que] entrou em contato comigo para dizer que o Carlos Eugênio tinha os direitos autorais da família da Judith Gleason nos Estados Unidos, eles moram na Califórnia, e que o Carlos tinha recebido propostas do Museu do Negro, mas que ele se recusou porque ele achava que o livro tinha que ser publicado pelo Maranhão e perguntou quem aceitaria e eu topei, já que eu tenho edital da Fapema sobre pesquisa de literatura africana. Então eu tomei conhecimento, primeiro por Ferreti, e depois pelo próprio Carlos Eugênio, que propôs a tradução para o português”, o historiador Henrique Borralho relembra como travou contato com a obra.

O título original de “Agontimé e sua lenda” é “Agotime: her legend” e o subtítulo – que dá conta da trajetória da rainha – foi “sugerido pelo tradutor e prontamente aceito pela professora Dra. Maud Gleason [filha de Judith], em nome dos demais herdeiros da autora”, como afirma Carlos Eugênio Marcondes de Moura, no texto “Os múltiplos talentos de Judith Gleason”, que compõe o volume.

Além do texto integral do romance e das citadas laudas do tradutor, o volume inclui ainda textos de Henrique Borralho (“Nota à publicação brasileira”), Judith Gleason (“Prefácio à edição original”, da Grossman Publishers, NY, 1970), e do supracitado Sérgio Figueiredo Ferreti (1937-2018) (o indispensável “Voduns da Casa das Minas”).

“A tradução não existia, o Carlos Eugênio vinha trabalhando nela, nunca foi traduzido, e eu utilizei o recurso do Edital Fapema/IECT 2017, que havia sido contemplado com duas coletâneas, eu publiquei uma em 2020, sobre literatura africana em língua portuguesa, e a outra coletânea eu transformei na tradução e publicação deste romance”, continua Borralho.

O Maranhão é um dos estados de maior população negra do Brasil e as religiões de matriz africana, como de resto em qualquer lugar do Brasil, são vítimas da intolerância, do racismo religioso e da violência agudizada sobretudo nos últimos quatro anos do governo neofascista de Jair Bolsonaro. “Esse romance é muito importante para o Maranhão”, resume o organizador, como a afirmar, com toda razão, que é mais do que hora de nos livrarmos de nossa secular síndrome de vira-latas e a exaltar a decisão do tradutor, “que mesmo tendo recebido propostas para a publicação em outros estados e por outras instituições, [] entendia ser importante que tal tradução se realizasse no Maranhão, objeto de parte do romance e onde Agontimé supostamente teria passado seus últimos dias”, como afirma no texto em que assina no volume.

O evento de lançamento contará com as presenças e falas da professora Mundicarmo Ferreti e Euzébio Marcos, atual responsável pela Casa das Minas, entre outras autoridades em se tratando dos estudos das religiões de matriz africana.

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