Ontem, o mundo do rock alternativo foi surpreendido com a decisão da lendária banda nova-iorquina Sonic Youth de declarar apoio a Lula em suas redes sociais. Sobre um desenho que parodiava a capa do seu próprio disco Goo, de 1990, uma ilustração de Lula e Fernando Haddad abraçados, eles escreveram: “Feelings of being happy. I want to see your star shine again. We support Lula and Fernando Haddad to help Brazil get to better days” (“Sem medo de ser feliz. Quero ver brilhar a nossa estrela. Nós apoiamos Lula e Fernando Haddad para ajudar o Brasil voltar a ter dias melhores”). O desenho publicado pelo Sonic Youth é creditado à cartunista e ilustradora paulista Magô Pool. Minutos após a publicação, a banda inglesa de eletropop Ladytron republicou o post do Sonic Youth com o texto: “Nós endossamos essa mensagem”.

Hoje, foi a vez do ator Jason Momoa, protagonista do filme de herói Aquaman, juntar-se ao Sonic Youth. No dia 27 de setembro, outro integrante de um grupo de super-herois (Os Vingadores), o Hulk – seu protagonista de carne e osso, o ator norte-americano, Mark Ruffalo – já tinha gravado um pequeno vídeo declarando seu apoio.

Ao longo dos últimos meses, Mark Hammil (o Luke Skywalker de Guerra nas Estrelas), Danny Glover (Máquina Mortífera), o irlandês Bono Vox (U2) e o britânico Roger Waters (Pink Floyd) fizeram manifestações de advertência sobre o que está em jogo no Brasil e os perigos de uma eventual permanência de Jair Bolsonaro no poder.

Mas o que levou tantos astros do star system anglofalante a subitamente se preocuparem com o destino do Brasil? A resposta parece evidente: o Brasil produziu nos últimos anos uma unanimidade internacional em rejeição humanística. Bolsonaro é uma caricatura política que nos igualou às republiquetas de cartum e nos jogou no nível das piores ditaduras do mundo, com seus achaques constantes contra o sistema democrático e as investidas contra os direitos trabalhistas, das mulheres, dos negros, das minorias, o meio ambiente e a cultura.

Além de buscar se aliar aos párias internacionais em matéria de direitos humanos, direitos individuais, liberdade de expressão e gestão do meio ambiente (como Recep Erdogan, da Turquia, Viktor Orbán, da Hungria, e o saudita Mohamed Salman), Jair Bolsonaro se fez receptáculo das pretensões do ex-presidente norte-americano Donald Trump, precursor da gestão do Estado fundada em fake news e táticas diversionistas. Um dos filhos do presidente brasileiro, Eduardo, chegou a ser investigado pelo FBI por participação nos atos que culminaram na invasão do Capitólio após a eleição norte-americana. Por causa daquela violência contra as instituições, um dos gurus de Bolsonaro, Steve Bannon, foi condenado recentemente a 4 meses de prisão.

Em suas desastradas intervenções em fóruns internacionais, Bolsonaro insultou Brigitte, mulher de Emmanuel Macron, primeiro ministro francês, e a então chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Dirigiu comentários acintosos contra vizinhos, como a Argentina e a Bolívia.

A política internacional do Brasil nunca foi tão irresponsável, agressiva e ambígua. Na questão da Guerra da Ucrânia, por exemplo, Bolsonaro se prestou a visitar a Rússia e Vladimir Putin às vésperas da invasão russa à Ucrânia, num momento de pressão internacional para evitar o pior. O País jamais condenou a invasão, que produziu até agora quase 8 milhões de refugiados pelo mundo.

A imagem recente do Brasil foi abalada de forma inapelável por Bolsonaro, que se postou contrário a medidas de controle sanitário durante a pandemia de Covid-19, isolou o País e ainda se mostrou grosseiro e deselegante com colegas com estratégia diferente.

Em 2019, o Brasil foi excluído da Cúpula do Clima da ONU por não ter enviado um plano de incremento do compromisso climático (sem contar que, naquele ano, tinha tirado R$ 11,2 milhões no orçamento da Política Nacional sobre Mudança do Clima, um corte de 95%).

No plano interno, os retrocessos são muitos. Há alvos prioritários, como a floresta e os povos indígenas: segundo dados do Conselho Indigenista Missionário, em 2021 o Estado brasileiro seguiu fomentando as agressões e foram registrados 305 casos de invasões de terras indígenas, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio natural, atingindo 22 estados da federação e 226 terras indígenas.

Qualquer artista que seja digno desse nome sabe, por esse cartel de malfeitos, que está em gestação no Brasil um regime de vergonha e de táticas terroristas que pode abalar a segurança planetária. Para o universo dos super-herois, a analogia possível seria a um episódio da origem do Dr. Destino. Por isso, não é surpresa que muitos astros estejam se engajando maciçamente no esforço para ajudar a superarmos essa fase terrível de nossa história. É um fenômeno inédito e histórico. Quando são milhares de artistas brasileiros, a monopolaridade bolsominion sempre se escora no argumento fake de que estariam advogando em causa própria (“É por causa dos milhões da Lei Ruaneide (sic)!”, vociferam). Quando o apoio vem de tão longe, no entanto, dá tilt no séquito de fanáticos.

Mark Ruffalo, que é um ativista ambiental experiente, foi quem melhor explicou os motivos de seu engajamento: “Eu nunca ficaria confortável em dizer a vocês em quem votar nas eleições brasileiras, nós temos nossos próprios problemas aqui nos Estados Unidos. E eu sei quão difícil é tomar essas decisões. Mas nós vivemos em um mundo cada vez interconectado, especialmente em relação às mudanças climáticas, e o que acontece em um País tem efeitos em todo lugar, de algum modo. Nesse instante, a floresta tropical é uma das questões cruciais, seu tamanho, sua saúde, sua capa capacidade de reter carbono. Portanto, há uma implicação global em sua eleição que peço para levarem em consideração. O que acontece com a floresta tropical e com os povos indígenas é algo que vai afetar todo o mundo e, nesse momento, o líder que pode proteger a floresta tropical é Lula. E humildemente peço que considerem isso. Pelos seus filhos, pelos meus filhos, e pelas futuras gerações”.

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