O Datafolha divulgado nesta quinta, 24, foi uma ducha de água fria nos planos do grupo político de João Doria Jr para o futuro. Estagnado nos 2% das intenções de voto, o governador de São Paulo tem 9 dias para decidir o seu destino, mas sua távola redonda já se antecipou a ele na decisão.

Nesta sexta-feira, 25, o atual Secretário de Cultura e Economia Criativa de Dória, Sérgio Sá Leitão, divulgou um comunicado afirmando que está desistindo de sua candidatura a deputado federal. Ele sairia em pouco mais de uma semana para entrar na disputa, e o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (também candidato ao governo paulista, mas com apenas 3% das intenções na mais recente pesquisa eleitoral) já tinha planos para o seu lugar – Fred Mascarenhas, chefe de gabinete de Leitão, iria assumir interinamente, mas o cargo foi prometido por Rodrigo Garcia a partidos da sua base de apoio.

Assim, Sérgio Sá Leitão recuou de largar o osso e acabou se tornando mais uma pedra no sapato de Garcia, já que o secretário de Cultura é réu em duas ações da Justiça Federal no Rio de Janeiro (motivo que seria convincente na busca de foro privilegiado), além de enfrentar uma férrea oposição da classe cultural paulista e outras denúncias de irregularidades em sua gestão no Estado. Sua secretaria deve, por exemplo, resposta a um requerimento de informações da Assembleia Legislativa sobre a Virada SP Online 2021, protocolado há um ano e sem qualquer esclarecimento até agora.

A mensagem de desistência da candidatura de Sérgio Sá Leitão é digna do Armando Volta da Escolinha do Professor Raimundo. “Fui convidado para ser candidato a deputado. Fiquei lisonjeado. Entendi como um reconhecimento”, iniciou, para à frente concluir: “Refleti muito (…). Por diversas razões, cheguei à conclusão de que posso contribuir mais para a sociedade, para a cultura de São Paulo, para o governo e para o projeto político do qual participo continuando à frente da secretaria e me dedicando ao máximo às muitas entregas que ainda faremos em 2022”. Quanto ao reconhecimento, há sérias controvérsias. O secretário chegou a ameaçar de pancada um vereador no interior de São Paulo em uma audiência, e suas postagens nas redes sociais têm registrado no máximo uma dúzia de curtidas – talvez ele ainda não tenha uma noção precisa do tamanho de sua popularidade. Sua secretaria não atualiza os dados de Transparência de Gestão no site oficial há três anos, descumprindo o decreto 64.367, assinado em 2019 pelo próprio vice-governador, Rodrigo Garcia.

Entre as “muitas entregas” a que o secretário se refere, estão investimentos mistos do governo de São Paulo e da iniciativa privada, como o Museu do Ipiranga (que poderá até ter um confronto de força na reinauguração, em 7 de setembro, entre os governos federal e estadual) e o megaprojeto da nova Usina São Paulo, a ser construída às margens do Rio Pinheiros no vácuo da antiga Usina Elevatória de Traição, de 1940. Com 30 mil m2 de área, canaliza muito dinheiro para um empreendimento privado (as empresas JHSF, RFM e FEHU) de “revitalização” de uma área degradada, um dos xodós de Doria, seu irmão Raul Doria e seu grupo político. A ideia ali é que o espaço abrigue, além do “cinema ao ar livre com a maior tela da América Latina”, um mirante de 360°, cafés, bares, restaurantes e lojas com os quais prometem transformar o local em um “novo cartão postal da cidade”.

A iminência de perder o controle dos recursos de São Paulo leva o grupo de Doria a fazer jogadas de aparelhamento político para manter sua influência. Um desses lances, revelado aqui com exclusividade pelo FAROFAFÁ, foi a indicação de Claudia Pedrozo, secretária Executiva da cultura de Sá Leitão, como presidente da novíssima Fundação do Museu do Ipiranga. Mas pode acontecer, nos próximos dias, a desistência de Doria para manter seu feudo político ao menos por mais 9 meses.

A ironia é que Leitão faria campanha para uma vaga na Câmara Federal em disputa com um dos seus grandes detratores no governo federal, Mario Frias, secretário Especial de Cultura, outro que tem em alta estima sua própria popularidade.

LEIA MENSAGEM DE SÉRGIO SÁ LEITÃO, NA ÍNTEGRA:

Bom dia! Fui convidado para ser candidato a deputado federal pelo PSDB de São Paulo. Fiquei lisonjeado. Entendi como um reconhecimento. De fato, o Governo do Estado está realizando muito na cultura (e em outras áreas) desde 2019. O orçamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa em 2022 é o maior da história: R$ 1,25 bilhão. A candidatura poderia amplificar essas realizações. E contribuir para que o setor cultural tenha uma representação política mais efetiva. Além disso, o PSDB é hoje o partido com o qual me identifico. Refleti muito. Conversei com o governador João Doria, com o vice-governador Rodrigo Garcia, com Marco Vinholi (colega de Secretariado e presidente do PSDB no Estado), com Fernando Alfredo (presidente do PSDB na Capital) e com outros parceiros e amigos. Falei, claro, com a minha família e a equipe da Secretaria. Por diversas razões, cheguei à conclusão de que posso contribuir mais para a sociedade, para a cultura de São Paulo, para o Governo e para o projeto político do qual participo continuando à frente da Secretaria e me dedicando ao máximo às muitas entregas que ainda faremos em 2022. Sou essencialmente um executivo. Muito obrigado a todos que se entusiasmaram com a ideia da candidatura. Peço sua compreensão. Muito obrigado também ao governador João Doria pela oportunidade de integrar sua gestão vitoriosa; e ao próximo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, pela oportunidade de continuar na Secretaria nos próximos meses. Ainda há muito por fazer. E faremos!

 

 

 

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