Cena com o elenco do musical
Cena do musical "Dominguinhos", em cartaz no Teatro Faap - Foto Priscila Prade

De Dominguinhos, o sanfoneiro, o crítico musical Pedro Alexandre Sanches, deste FAROFAFÁ, já havia dito: “A atenção seletiva a Dominguinhos (por parte da gravadora, minha, sua, nossa) depois de sua morte não aplaca os vários esquecimentos”. Morto em 23 de julho de 2013, após longa agonia hospitalar – e, coincidentemente, enquanto o Brasil vivia sua própria agonia social -, o instrumentista, cantor e compositor pernambucano ganhou um sensível musical, mas que padece de “esquecimentos” difíceis de não serem notados.

Em cartaz em São Paulo, no Teatro Faap, Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais tem dramaturgia de Silvia Gomez, direção de Gabriel Fontes Paiva. Já o elenco é composto por uma maioria de músicos, em vez de atores ou atores-cantores. Vale listá-los: a cantora Liv Moraes é filha de Dominguinhos com a cantora Guadalupe (a primeira de três companheiras dele); o sanfoneiro Cosme Vieira, que tocou com o homenageado quando crianças; o compositor e arranjador pernambucano Zé Pitoco, outro que acompanhou Dominguinhos em shows; o violeiro Hugo Linns e o percussionista Jam da Silva. Apenas Wilson Feitosa, professor musical, e Luiza Fittipaldi, cantora, são também atores.

Com essa formação, era esperado que o Dominguinhos, o musical, focasse mais nas performances das canções do que nas interpretações de episódios da vida do protagonista. Sem se guiar por uma ordem cronológica estrita, a dramaturgia de Silvia Gomez, que também é jornalista, procurou evidenciar momentos marcantes da vida do sanfoneiro. Na construção textual, ela se baseou na pesquisa do também jornalista Lucas Nobile, que, por sua vez, buscou documentações em várias fontes, inclusive em livros como O Brasil da Sanfona, de Myriam Taubkin, que assina a direção musical do espetáculo.

Nascido em Garanhuns, Dominguinhos tocava nas ruas com os irmãos até ser apadrinhado pelo também pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989). Foi ele quem lhe deu o nome artístico, descartando o que utilizava até então, Neném do Acordeon. Foi também Lua que promoveu o encontro do pupilo com a cantora Anastácia, sua segunda companheira, e com quem produziu clássicos do cancioneiro brasileiro, como Só Quero Um Xodó (1973), Lamento Sertanejo (1973) e Tenho Sede (1975).

É difícil não se deixar embalar nas saborosas execuções de canções tão emblemáticas do repertório de Dominguinhos, mas o musical fica no meio do caminho quando se trata de contar uma história. O que sobra em execução musical falta em performance cênica. Não há apenas um Dominguinhos, porque os músicos do elenco se revezam nesse papel, gerando um pouco de confusão. Talvez a falta de mais atores explique por que, na parte do segundo relacionamento amoroso de Dominguinhos, acabe por se destacar a personagem Anastácia, interpretada por Luiza Fittipaldi. Por instantes, parece que o musical deixa de ser sobre o sanfoneiro.

Se a parceria com Luiz Gonzaga é bastante trabalhada, o musical não dá a devida importância da influência de Gilberto Gil na vida de Dominguinhos. Foi o cantor baiano tropicalista, diz Pedro Alexandre Sanches, que decidiu gravar um compacto, em 1973, com “um forrozinho (‘Só Quero um Xodó’) no lado B, que “alçou-se aos céus para se tornar um dos maiores hinos gilbertianos da MPB”. E arremata: “Foi graças ao holofote lançado por Gil que Dominguinhos criou asas ele mesmo e fez escola, indo aonde o mestre Gonzaga não havia chegado”.

Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais opta por não entrar em camadas outras que não sejam o campo musical, o que é uma escolha, não uma condenação. O cenário e o figurino dialogam com uma dramaturgia menos complexa, o que não é comum em musicais, que costumam investir muito nesses dois elementos. O resultado é um palco com cenografia quase minimalista.

Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais. No Teatro Faap, às sextas-feiras e sábados (20 horas) e domingos (18). Até 27 de novembro. Ingressos a 120 reais.

 

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