Morre Benício, gênio que apimentou a imaginação de gerações

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Morreu nesta terça-feira, 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, aos 84 anos, o ilustrador gaúcho José Luiz Benício da Fonseca, o Benício, o maior cartazista do cinema brasileiro de todos os tempos – em 70 anos de trabalho contínuo, deixou mais de 300 posteres de filmes, muitos deles considerados obras-primas das artes gráficas, além de 3 mil capas de livros de bolso, outras centenas de capas de discos, revistas e publicações de todo tipo (desenhou 2 mil capas da espiã fictícia Brigitte Montfort, pulp fiction de massas, a partir de 1963).

Considerado como o nosso Norman Rockwell (1894-1978), Benício, como era simplesmente conhecido, fez os cartazes de todos os 31 filmes dos Trapalhões entre 1970 e 1991. Desenhando num tempo anterior à computação gráfica, Benício era tão bom que, muitas vezes, as fotografias das atrizes e modelos que serviam de base para seus desenhos não o satisfaziam, e aí as próprias atrizes e modelos vinham posar para o seu desenho hiperrealista.

Entre seus trabalhos que entraram para a galeria da eternidade, estão os cartazes dos filmes Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, A Super-Fêmea, com Vera Fischer, Elke Maravilha contra o Homem Atômico, e Independência ou Morte, com Tarcísio Meira. Este último era o preferido dele, por ser “o mais elaborado, o mais trabalhoso”. Uma de suas ilustrações, Giselle, a Espiã Nua que Abalou Paris, (criação não creditada de David Nasser), ajudou aquela pulp fiction a vender meio milhão de cópias. Mestre das pin ups, foi, como Carlos Zéfiro, um abastecedor de imaginações masculinas da era pré-Pornhub.

Como Benício tivesse um toque erótico muito convincente e ilustrasse para a era de ouro da pornochanchada, a censura militar de costumes e comportamento dos anos 1970 ficava de olho nele. E ele próprio ficava de olho em si mesmo. “Eu me policiava muito, sabia que não podia dar murro em ponta de faca. Mas de vez em quando eles (os censores) me pediam para ‘levantar’ um pouco uma cueca ou uma calcinha, diziam que estava aparecendo os pelos pubianos”, ele me contou, em uma entrevista em 2006, quando o editor e escritor Gonçalo Júnior estava lançando uma biografia sua pela editora Cluq. “É um livro muito bom, ele tirou leite de pedra”, disse um infinitamente modesto Benício.

Gaúcho de Rio Pardo, torcedor tanto do Grêmio quanto do Fluminense, Benício tinha sofrido um AVC no ano passado e estava internado no Rio de Janeiro (para onde sua família se mudou em 1953). Trabalhava também com publicidade, que pagava suas contas (foi dele a campanha de lançamento do Copacabana Palace). Referência nacional em seu campo, Benício era estudado e adorado por gerações inteiras de desenhistas. Em 2018, ganhou uma ação internacional referente a uma capa que fez para um disco de Erasmo Carlos, e que tinha sido plagiada pelo alemão Morlockk Dilemma.

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