Desenho de Arnaldo Baptista para o livro O Mágico de Oz, da Antofágica Editora

O compositor, cantor, multi-instrumentista, artista visual, escritor e poeta Arnaldo Dias Baptista, de 74 anos, fundador da mítica banda Os Mutantes no final dos anos 60 (com Rita Lee e seu irmão Sérgio Dias Baptista) é o ilustrador de uma novíssima edição do livro O Mágico de Oz, de Lyman Frank Baum, lançado há 123 anos. Além das ilustrações da edição, Arnaldo também escreveu sua apresentação, que o FAROFAFÁ publica com exclusividade abaixo. A nova edição de O Mágico de Oz pela Antofágica tem tradução de Davi Boaventura e posfácios da escritora e pesquisadora Carol Chiovatto e da escritora, ilustradora e roteirista Janaina Tokitaka. O livro, que encontra-se em pré-venda, tem 280 páginas e custa 45 reais.

Espantalho, Homem de Lata, o Leão Covarde, Dorothy e a Bruxa Má D’Oeste ganham, na arte de Arnaldo, novas cores e visões nessa que é uma das obras de fantasia mais populares da História da Literatura. O trabalho de artista visual de Arnaldo já é bastante consolidado, com exposições periódicas em São Paulo das obras que produz em seu ateliê em Minas Gerais. As exposições recentes de maior fôlego foram Lentes Magnéticas, em 2012, Exorealismo (2014, na Galeria Emma Thomas) e Transmigração (2016, na Caixa Cultural).

Leia abaixo a apresentação escrita por Arnaldo para o volume:

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Entre fadas e travesseiros travessos

Por Arnaldo Baptista

Eu sofro de insônia, e entre a insônia e um desenho e outro é que surgiram as pinturas deste livro. O meu horário é assim, noturno — e o livro é como um sonho. Um sonho! Nos leva a um lugar que a gente só vê que imaginou depois que leu. Remete às coisas antigas que a gente ouvia para dormir, crianças e adultos, ao lado da lareira que a gente fantasiava. Lembra as nossas ideias, ideais e sonhos; os entes estapafúrdios que só a gente entende, o folclore do que todo mundo conhece. Me coloco no livro e vou junto: monstros, aventuras, perigos, prazeres, estupefação, todas essas coisas.

Tem coisas inesperadas que acontecem na vida. Começa a ventar o vento, vem um ciclone, depois o cachorrinho Totó voa e vê coisas impossíveis de serem descritas.

Existe a experiência, e existem coisas superiores a isso… E a gente vai levando.

Histórias são muito importantes pra mim: a gente pensa nessas viagens e tenta fazer uma conexão com o nosso conto de fadas. Eu ficava de noite às voltas com a história e pensava: agora vou desenhar isso de acordo com meu sonho, com meu estado e com as coisas que consegui durante o dia e durante a vida. Pouco a pouco, vou criando algo que estabelece um paralelo entre mim e a história contada, e às vezes eu encontro uma fada que me satisfaz. Dormir numa almofada. Uma boa almofada.

Escrevi, há um tempo, uma letra chamada “Memórias de um Travesseiro Travesso”. É a travessura dele no meio de mil camas e lençóis e colchas, e mulheres e homens, e ele vai conseguindo estabelecer uma vida entre sonho e vigília. E eu, passando a história na minha mente, fazia uma comunicação entre o que eu estava lendo e a minha imaginação pra pintar. E às vezes eu conseguia algo frutífero… Além da imaginação! O travesseiro travesso e a fada…

Outro dia pensei que, se a gente tem que dormir 8h30 e o dia tem 24 horas, é um terço da vida sonhando. E aí, andando na rua, vi um cara com uma camiseta: “Viva seu sonho: durma mais”. A mensagem do livro, para mim, é a esperança por um mundo que seja de acordo com nossos sonhos. Ao pintar o mundo de Oz, lembro que tive uma experiência com a morte: senti que ela fugia de mim. Ela se afasta ainda mais quando a gente consegue, aos poucos, fazer coisas que agradam à gente e ao público. E essa foi uma criação que me agradou demais. Pintar o Oz foi ozado. Oz.

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Arnaldo Baptista é multi-instrumentista, compositor, escritor e artista visual. No decorrer de sua carreira, compôs seis álbuns solo, escreveu doze livros (entre contos, romances e diários) e passou a pintar mais intensamente a partir dos anos 80, tendo suas obras selecionadas destacadas na galeria virtual arnaldodiasbaptista.com.br.

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