Os mestres Môa e Gafanhoto. Foto: Isabella Rudge. Reprodução
Os mestres Môa e Gafanhoto. Foto: Isabella Rudge. Reprodução

Môa do Katendê (29/10/1954-8/10/2018) foi uma das primeiras vítimas do bolsonarismo, tal como conhecemos hoje esta corrente política do culto à morte: o capoeirista foi covarde e brutalmente assassinado com 12 facadas pelas costas após uma discussão em um bar entre o primeiro – que havia sido realizado no dia anterior – e o segundo turnos da eleição presidencial que alçou o neofascista Jair Bolsonaro ao cargo máximo da República Federativa do Brasil.

Em sua passagem pelo Brasil naquele mês, Roger Waters prestou homenagem ao baiano, exibindo uma foto sua num telão com 70 metros de largura. O ex-Pink Floyd pediu paz e chegou a chorar no palco.

Romualdo Rosário da Costa, nome de batismo de Môa, também artesão, compositor, educador e percussionista, tem importância fundamental para a cultura brasileira, tendo fundado o Badauê em 1978 – no ano seguinte, Caetano Veloso gravaria dele a música homônima ao afoxé, em “Cinema transcendental”. “Misteriosamente, o Badauê surgiu/ sua expressão cultural o povo aplaudiu”, diz a letra.

Abrindo os caminhos pro meu carnaval. Capa. Reprodução
Abrindo os caminhos pro meu carnaval. Capa. Reprodução

No último dia 29 de outubro, data em que Môa teria completado 67 anos, foi lançado o videoclipe de “Viva Môa”, composição de Mestre Gafanhoto, seu amigo, que a dedicou em vida no desfile do bloco Unidos Venceremos no carnaval de 2017. A faixa está em “Abrindo os caminhos pro meu carnaval”, disco do Kaya na Gandaia – um primor – lançado em fevereiro passado.

O clipe tem direção de Bruno Ferrari e traz imagens raras captadas por Eduardo Joly ao longo de anos no Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô, sede dos Amigos de Katendê, onde Môa costumava ministrar oficinas, além de trechos de sua entrevista para o documentário “Môa, raiz afro mãe”.

A união do povo negro e a reafricanização da juventude defendidas por Môa com base nas ideias do sociólogo, poeta e ensaísta baiano Antonio Risério, também seu parceiro de projetos e ideais, estão bem representadas na música e no videoclipe, marcados pelo encontro dos blocos-irmãos Unidos Venceremos, Kaya na Gandaia e Afoxé Amigos de Katendê, manifestações do carnaval de rua de São Paulo, este último fundado pelo próprio Môa.

“Vamos fazer poesia, os fascistas detestam poesia”, como diz o clássico cartum. À violência, à covardia, ao racismo e ao completo desprezo pela vida, como bons brasileiros, os três blocos respondem com amor e alegria. Mestre Môa certamente estaria orgulhoso. Aliás, certamente está: a quem a Bahia dá régua e compasso a morte não existe. Môa vive, eternizado em seu legado e em homenagens sinceras, comoventes e agregadoras como esta.

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Veja o videoclipe de “Viva Môa” (Mestre Gafanhoto), com Kaya na Gandaia, Unidos Venceremos e Afoxé Amigos de Katendê:

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Ouça o disco “Abrindo os caminhos pro meu carnaval”, do Kaya na Gandaia:

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