A mostra O Novíssimo Cinema da Paraíba, em cartaz no Belas Artes à la Carte a partir das 12 horas de 5 de agosto (data da fundação do estado paraibano) até 23h59 do dia 18, é mais uma oportunidade para ter acesso a produções que são frutos de políticas públicas voltadas para o audiovisual brasileiro. Gratuito, o festival online apresenta sete longas-metragens, 17 curtas e traz produções de cinco anos para cá. Haverá exibição de duas obras inéditas: A República da Selva, de Manoel Fernandes Neto, que aborda a vida em uma república estudantil logo após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, e o curta Cabidela’s Bar, de Tadeu de Brito, sobre a jornada de um jovem para encontrar seu pai.
O Novíssimo Cinema da Paraíba, assim como o Fest Aruanda, tradicional mostra audiovisual que ocorre anualmente em João Pessoa, traz obras com forte interesse em questões de identidade, reconhecimento da cultura brasileira e valorização regional. Não à toa, é clara nas produções inúmeras a presença de paisagens paraibanas, como João Pessoa, Cabedelo, Tambaba e Bananeiras, entre outras.
Há 11 anos, o governo estadual incentiva a produção de filmes com elenco e trabalhadores paraibanos, por meio do edital Walfredo Rodriguez de Produção Audiovisual, em homenagem ao cineasta precursor e autor de Ceo Nordestino, obra de 1929. Então prepare-se para ver conhecidos rostos. Marcélia Cartaxo participa dos curtas Faixa de Gaza, A Ética das Hienas e Moído. Ela e Zezita Matos, com quem contracenou em Pacarrete, atuam ainda no longa Seu Amor de Volta (Mesmo Que Ele Não Queira). Zezita está também no longa Rebento. Desse filme participa outra atriz paraibana marcante, Ingrid Trigueiro, que trabalhou em Bacurau, de Kleber Mendonça Filho. Nesta mostra, também está em Cabidela’s Bar.
Merecem atenção duas obras, em particular. Seu Amor de Volta (Mesmo Que Ele Não Queira), de Bertrand Lira, cineasta e professor de mídias digitais da Universidade Federal da Paraíba, é uma produção em formato de documentário que coloca quatro atores (além de Marcélia e Zezita, William Muniz e Danny Barbosa) diante de videntes e cartomantes, tentando encontrar respostas para se libertarem das rusgas, ressentimentos e arrependimentos de namoros abusivos do passado. Lira se vale da veracidade que o gênero documentário oferece para confundir o espectador acerca das histórias que estão sendo contadas, mais propensas ao universo da ficção. Mas essa tênue fronteira ficará no ar.
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Sol Alegria, de Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira, já rodou o mundo (estreou no Festival de Roterdã, foi premiado no Olhar do Cinema, de Curitiba, e exibido na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo). O filme de 2018 segue uma excêntrica família que tem de levar armas para um grupo de freiras militantes que representam a resistência a uma junta militar e a pastores evangélicos que governam o país. Sem pudores e amorais, os personagens flertam com o escatológico e a violência. Para essa família, matar um opositor é o menor dos dramas. As freiras cultivam maconha e são libertinas quanto ao sexo. Já no final do filme, em um número artístico, o patriarca se autointitula como “ex-fascista, neoliberal, líder religioso de sua própria igreja, chefe de uma família muito tradicional”, enquanto seu filho pertence a uma “alta linhagem europeia”. A não-humanidade presente nessa narrativa ficcional abre possibilidades para múltiplas interpretações, a começar do significado dessa sucessiva inversão dos papéis dos protagonistas.
O Novíssimo Cinema da Paraíba. De 5 a 18 de agosto. Gratuito, no Belas Artes à La Carte